quarta-feira, 18 de julho de 2018

Hipnotizada



Não gosto mais da ideia de romantizar a vida real, mas de fato sua chegada a suavizou. É quase como se você fosse um oásis no meio desse meu caos pessoal. O sorriso lindo que contagia e me enche de esperança, e agonia. De não ver as horas passarem para te ter nos meus braços novamente. Sentir teu cheiro e me perder no teu abraço. E desejar que teu gosto não suma dos meus lábios. Passo o dia tentando relembrar cada detalhe teu, sob uma incansável obsessão, aspirando o momento de saciar o insaciável. É uma fome que faz o coração retumbar, e entrar em degelo a cada despedida. Essa energia tua que parece arder, de tão quente, e me faz te querer, de tão urgente. Não consigo parar de te olhar, é como se tua visão fosse cosmética, ou puro mel, de tão afável. Odeio ser clichê, poderia inventar a roda pra tentar descrever o que sinto por você, mas sou humana e, assim, me entendo. Que só quero passar o dia entrelaçando os dedos nos teus cabelos, admirando a beleza do teu ser.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Eu não sou líquido



Eu não sou líquido, mas me sinto escorregando pelas arestas do que chamamos de vida adulta, ou, pelo menos, às concepções relacionadas à ela. E esse líquido tem um gosto amargo. Comecei a semana sendo invadida, novamente, por questões relacionadas ao trabalho. É muito tempo de vida perdido fazendo algo que não se acredita. A vida é breve e ela tem chamado nesse sentido. Vi um gráfico num site de empregos que dividia o entendimento em se ter um emprego e uma carreira, dando a entender que se ter uma carreira em que se acredita e em que se investiu muito tempo, esforço e dinheiro, é recompensador. É como vivenciar a tão sonhada experiência da carreira dos sonhos. Fiquei furiosa me perguntando quantas pessoas passam, muitas vezes, a vida inteira, acreditando nesse ideal falso e presunçoso, e em quantas nunca acordam dessa ilusão. O mais intrigante disso tudo é que eu trabalho com isso, vendendo uma ideia com o objetivo de gerar consumo, e foi sob esse conceito falacioso que eu tentei perverter a minha mente, centenas de vezes, achando que estava prestes a adquirir isso. Fiquei relembrando quando comecei e quanto eu evolui nas minhas habilidades. Eu sou agora o que poderia se chamar de redatora criativa modelo. A questão é que não quero ser um modelo de fábrica, mais um zumbi correndo de estação à estação, mergulhada num mundo corporativo que mais suga que fornece, e gastando todo meu dinheiro de bar em bar pra tentar esquecer o quanto de mal tem no mundo - e que a área que trabalho, muitas vezes, só colabora para isso. Capital é a base de tudo, é o que faz girar esse mundo. E isso me preocupa. Depois que comecei esse texto, percebi que já tinha escrito algo parecido há dois anos (aqui e aqui), mesmos questionamentos e angústias. Sigo sem respostas. "Use o sistema ao seu favor", é o que me disseram semana passada e é o que eu vejo a maioria das pessoas fazendo ao meu redor. Pessoas, essas, que também se questionam sobre tudo isso. Já desejei ser menos pensante. Fazer tudo no modo automático, fechar os olhos e apenas fluir, mas eu não consigo e agora sei que não quero mais. Sinto que tenho mais decisões a tomar, e com cuidado poder me encontrar em busca de um futuro mais ameno e honesto comigo mesma.

"O presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da ação.", Simone de Beauvoir

domingo, 1 de julho de 2018

O pêndulo e a vela


O tempo nunca foi meu amigo. Na verdade, eu nunca consegui acompanhá-lo. Penso que não há liberdade quando se tem que viver conforme o tempo que foi determinado a você. Nessa sociedade que prega o egoísmo como condutor de uma vida que se espera que você tenha, o livre arbítrio é uma farsa. "Jogue o jogo deles", eles disseram, enquanto no andar de baixo, havia um garoto de 19 anos, periférico, negro e gay sofrendo bullying de sua chefe, um dos motivos que supostamente o levaram a ter um surto psicótico meses depois. Quem aguenta viver nessa cidade com sanidade? Sempre correndo, sendo esmagado dentro dos transportes públicos, perdendo horas no trânsito diariamente e constantemente se perguntando que merda de vida é essa. "Tenha uma vida que merece ser vivida", quando se alcança isso? Ou essa frase é só mais uma fábula desses poetas que eram completamente infelizes, sempre buscando algo inexistente para aliviarem suas dores? Não é à toa que os mais famosos também eram bons poetas de bar, tinham problemas com álcool. A verdade é que não tenho conseguido mais me divertir sem álcool. As mudanças bruscas que passei me deixaram séria porque é preciso força para encará-las com firmeza até que se solidifiquem. A questão é que não quero que se tornem estruturas, porque eu gostaria de dançar um pouco pela vida antes que as coisas concretas tomem forma. Eu quero um minuto de paz, porque o tempo não tem sido legal comigo. Ou, talvez, porque eu não tenho conseguido aproveitá-lo de uma maneira sadia. Eu quero mais, ao mesmo tempo que não tenho certeza do que quero. E encarar esta confusão diariamente tem me feito enlouquecer. O tempo não para, e as vezes quando quero, ele não passa. No fim somos apenas peças do tabuleiro, temos apenas que nos mexer para jogarmos, sem saber qual é a jogada certa. Ele me disse: "É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão", eu o vi com uma luz, sua proposta me trouxe uma claridade, mas há uma voz no fim do túnel me dizendo para não acreditar nisso, assim como todas as outras vozes que sempre me disseram para não confiar em ninguém. E eu confio. Mas não consigo encontrar minha própria luz.