quarta-feira, 1 de julho de 2020

Eu pra mim é pouco

Neste corpo que me compreende, não me encontro

Adquiri um peso que meus ombros não podem carregar

Os dias passam como meses, e eu não os percebo

Oscilo entre manhãs nubladas e tempestades noturnas

Sem meio termo, com o copo meio vazio

Temo que este recipiente não irá suportar mais

Noto que dias ensolarados borraram na memória

Restando um gosto amargo que arde o estômago

E traz o invólucro a tona, febril e oco

Não reconheço o reflexo, como se me fosse tomado

O corpo não é meu, nem do Estado, é de outrem

Não o controlo, mas sinto todas as suas dores

Gostaria de não sentir, mas não cabe mais a mim escolher

Queria ser universo, mas mal caibo numa agulha

Sou nada, invisível e alienígena

Fui muito, intangível e insaciável

Fui

Sou

Quero

Ainda

Eu pra mim é pouco.