Neste corpo que me compreende, não me encontro
Adquiri um peso que meus ombros não podem carregar
Os dias passam como meses, e eu não os percebo
Oscilo entre manhãs nubladas e tempestades noturnas
Sem meio termo, com o copo meio vazio
Temo que este recipiente não irá suportar mais
Noto que dias ensolarados borraram na memória
Restando um gosto amargo que arde o estômago
E traz o invólucro a tona, febril e oco
Não reconheço o reflexo, como se me fosse tomado
O corpo não é meu, nem do Estado, é de outrem
Não o controlo, mas sinto todas as suas dores
Gostaria de não sentir, mas não cabe mais a mim escolher
Queria ser universo, mas mal caibo numa agulha
Sou nada, invisível e alienígena
Fui muito, intangível e insaciável
Fui
Sou
Quero
Ainda
Eu pra mim é pouco.