sábado, 28 de novembro de 2020

Finados

 Não vou dizer que cheguei ao limite, porque estou há tanto tempo me sentindo pressionada de tantas maneiras, que não sei mais quando foram ultrapassadas minhas próprias barreiras. Só percebo a materialização dessa dor quando ela se transforma em hematomas, que colorem o meu corpo com disfuncionalidades, aflições súbitas e um inflacionado desespero que me faz querer correr sem saber pra onde. E, então, me paralisa, me fazendo questionar se existe algum lugar. Aonde eu caiba confortavelmente. Aonde não hajam circunstâncias que tentem me tirar à força repetidamente. E tudo isso, que dura meses, não passa de um sofrimento silencioso, verbalizado inúmeras vezes, mas silenciado. Deste modo, sigo enfrentando os dias, esperando que eles terminem logo, enquanto negligencio parte de mim, parte do meu ser. Às vezes me pego flertando com o nada, como se fosse possível extrair algo dali. Como se houvesse além no vazio. E me esvazio, cavando esperanças em água mole. Me agonizo, ao ponto de que nem as metáforas me agradam mais, são expurgadas e muitas vezes sem forma. Gostaria de concretude, não me vislumbra a poética aonde não enxergo mais poesia. Ainda desejo muito além de sobrevida. Ainda desejo. Mas, não me vejo forte, pois estou exausta. Pedindo socorro ou, no mínimo, calmaria. Aonde o silêncio seja escolha e não regra para calar nosso âmago. E, a partir disso, talvez eu consiga me levantar. Talvez consiga enxergar amenidade onde tudo é turbulento. Talvez a água não se torne gelo, talvez ela flua como num rio aonde não se entra duas vezes. Talvez se for para findar, que seja o que não me atenua, não a minha própria existência.