domingo, 28 de julho de 2013

Cúmplices do acaso

Intrigante, no mínimo.
Mas não muito, aqui não rolou mistério. Apenas foi dito o que se achou sincero.
E lindo. Ah, que lindeza, tão meigo e cheio de flores que quase não se vê sexualidade em tal expectativa.
Só quer se ver romance, praticamente amor, como nos filmes. Não tem como negar, o mínimo que seja, mas se ama ali.
Entretanto é indevido afirmar com total certeza que não há desejo carnal. Impossível, hipócrita e até ridículo seria.
A mistura de desejo, curiosidade, e, claro, uma pitada serena de amor ou paixão - ou um pouco dos dois, ou mesmo algo parecido - causa uma ânsia tão forte que o tal grande dia parece que nunca vai chegar. E os dias passam mais devagar. 

Receio, medo, dúvida, angústia, depressão, loucura, euforia, tensão. 

Vocês já se veem fazendo planos, grandes planos aliás. Afinal, o que implica ver um filme juntos e não qualquer filme, mas aqueles que eles descrevem como OS filmes de suas vidas. E, não para por aí, toda a seção cinéfila romântica pode vir acompanhada por um cenário em que os dois estariam abraçadinhos, embaixo de edredons ou lençóis (quem adivinha esse tempo?), bebendo vinho ou um chocolate quente, fumando um cigarro ou um banza, tudo muito íntimo, sabe?

Receio, medo, dúvida, angústia, depressão, loucura, euforia, tensão. 

Como será sua voz? 
Será que é muito mais alto que você ou, vai saber, da mesma altura? 
Será que é muito magro do seu lado? 
Será que vocês combinariam, assim, fisicamente? Numa foto posada, sei lá?
Será que vocês vão ter bons papos, irão dar altas risadas? Ou não vão conseguir encaixar nenhum assunto interessante, e a cada tentativa será falha e desanimadora? 
Acho difícil, se não a conversa não teria fluído tão bem ao ponto de um encontro ser marcado e estar sendo tão esperado. 

Receio, medo, dúvida, angústia, depressão, loucura, euforia, tensão. 

Como será seu cheiro? Será que usa perfume do tipo cítrico, amadeirado, ou apenas um desodorante refrescante. Ou um leve odor de cigarro exala de suas roupas, de seu hálito? Não duvido e não me importaria. Fumante por sete anos e fracassando há um mês em encerrar esse mau hábito, quem sou eu para julgar?
Ai, mas e se toda expectativa for por água abaixo? E se o impacto da visão, o tal olhos nos olhos for altamente decepcionante? 

Receio, medo, dúvida, angústia, depressão, loucura, euforia, tensão. 

Vamos mais à frente e chegamos em outro ponto, mais quente, do jeito que gosto. 
Como será seu beijo? Será que beija bem? - Por Deus, que não seja um beijo helicóptero, ou um beijo babão. 
Eu imagino um beijo suave, em que lábios se encostam levemente até as línguas se encontrarem e começarem alguns movimentos aleatórios, sempre em conjunto, como se seguissem a mesma sintonia, formando as notas de uma bela canção. Os movimentos se tornam mais frenéticos e as mãos puxam cabelos, apertam cinturas, e corpos se esquentam, revelando algo tão extraordinário que, iniciado por um ato, esses corpos parecem se tornar apenas um. 
O tempo para, não há barulho, não há interrupção. O mundo poderia acabar ali, naquele momento, como a visão de uma linda paisagem no campo, em que apenas há uma brisa, doce e leve, batendo no rosto e levando cabelos ao vento.

E é dessa forma que qualquer sentimento de receio, medo, dúvida, angústia, depressão, loucura, euforia e tensão vai embora. Ele me faz sentir alguma paz, alguma calmaria. Cores em tom pastel, cintilantes e contrastantes às dores. Ele é um frescor, que deve ser repleto de calor, talvez amor, vai saber.

Em pouco tempo nos tornamos cúmplices de um desejo comum, do novo, do não descoberto. Cúmplices de vidas distintas que se encontraram ao acaso. E vai saber do que esse acaso é capaz. 

Que seja belo, que seja como flores, que seja intenso, que seja eterno. Que seja surpreendente.

(Apenas surpreendente, pelo menos agora, de resto, só o destino e o tal do dia após o outro para saber)

A vida é um sonho - Uma crônica sobre os efeitos alucinógenos que a vida nos causa

Essa crônica que abaixo se inicia foi inspirada em acontecimentos vivenciados (e imaginados e recriados e aumentados e superestimados) no ano passado.

A vida é um sonho, afirmou um amigo enquanto explicava os milagres pós ayahuasca. 

Cores se intensificaram, brilhos passaram a reluzir em objetos antes inanimados e o mais impressionante, a mudança que se gerou em seu estado de espírito. 

Ele passou de livre hedonista a um sonhador que transmite boas energias por onde quer que transite. 

Quero isso pra mim, pensei. 

Mas preciso ir até um determinado lugar, participar de uma cerimônia de chá ao lado de desconhecidos e passar por uma experiência que sabe-se-lá se será realmente eficiente pra mim?

Vai que enlouqueço ao reviver a mais complexa bad trip da vida e, sob efeito do alucinógeno, me jogo das montanhas?

E se surgirem visões de mortos e tenho que conviver com esses fantasmas do passado a me atormentarem todo santo dia?

Perguntas e mais perguntas. Sempre tenho muita certeza do que quero, mas quando não tenho, devo desconfiar. - Mulher tem essa neura com intuição, sabe? E funciona! Vai pensando...

Uma amiga descreveu relatos parecidos aos dados por esse amigo, mas ao utilizar outra substância, só que química, chamada de ácido, doce, ou mesmo LSD.

Quero mesmo usar drogas? - Sério, Angélica? Aos 22 anos experimentando drogas que nem aos 16 você tinha curiosidade em experimentar?

Resposta negativa.

Aprecio a brisa de beck, ou como gosto de chamar e me sinto íntima a fazê-lo, é o faz me rir. Assim que aprendi a nomear a erva maldita que foi quando realmente aprendi a fumá-la.

Mas ainda gosto mais da minha melhor droga, a cachaça - principalmente se for acompanhada do bom e velho cigarro, ou cigarros. 

Cachaça amarga que já me levou à loucura e à insanidade tantas vezes. 

Cachaça amiga que já me acolheu na mágoa, esquentou meu coração partido e me jogou de frente a novos partidos. 

Errados, mas suficientes para fazer apaziguar a dor. Ou, ao mínimo, trazer um pouco de diversão.

Ou, mais confusão.

Meu amigo ainda disse que depois de vivenciar essa "experiência divina" tudo - sim, TUDO - se tornou tão belo ao olhar, que a vida começou a parecer um sonho.

E o que distingue a realidade de um sonho?

Mas isso é muito complicado, melhor eu ir ali fumar um cigarro, até pegar no sono.




quinta-feira, 11 de julho de 2013

Fugaz interrompido

Fora pega de surpresa quando se viu acometida por uma paixão súbita, em conjunto com um desejo arrebatador, que evoluía cada vez mais, até se tornar uma ânsia, enjoativa, tanto quanto o significado que a palavra representava.

Ela achava que só se amava uma vez na vida, e, treze anos depois de ter ouvido essa frase por quem ela se referia como o seu grande amor, percebeu, de quebra, que ele não passara de apenas uma lembrança remota de uma realidade que não existe mais. Que se evaporou assim como a água das poças formadas após uma rápida garoa num dia de verão.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A ressaca moral - Por que a vida noturna é tão solitária?


Em meio ao som das batidas violentas de um dark wave e a fumaça embriagante que emanava no ar daquele fumódromo situado ao fundo, depois da pista, de uma casa gótica que costumamos visitar, um amigo relatava o quanto era difícil se afastar daquele tipo de local. Como era árduo parar de beber, de fumar e de continuar voltando a recintos que nada mais têm a oferecer do que bebida gelada, som alto - bom, mas que já enjoara há algum tempo - e alguns pares de vaginas e pintos ambulantes. Ele também contou sobre a vontade de voltar a pedalar, ver o pôr do sol, sentir as ondas do mar batendo em suas canelas e a brisa inebriante, que apenas um fim de tarde no campo poderia oferecer. Mas era impossível realizar qualquer uma dessas atividades no momento em que se encontra, pois sua realidade está aliada ao caos que a vida noturna promove, onde desejo e farra se confundem no mesmo ambiente em que pessoas usam drogas e agem conforme seus instintos naturais sem qualquer pudor. No entanto, não é apenas esse amigo que enfrenta esse tipo de dilema, como a maioria das pessoas - especialmente essas que vão sempre às mesmas baladas - deve desfrutar de mesmo fardo, ou experiência similar.

Tudo parece perfeito quando você está sob o efeito de entorpecentes, quando aquela sua música favorita toca na pista e você grita para suas amigas “minha música!” como se o DJ tivesse a escolhido especialmente para você. Tudo gira em torno do seu momento, da vontade desvairada de tirar todo o peso das costas e esquecer que algum dia foi jornalista ou que tem uma prova no dia seguinte. Você apenas está ali, curtindo ao máximo, sem se importar se o mundo está caindo sobre a sua cabeça, ou se o chão irá abrir abaixo de seus pés. Até que surge um bonitinho (a) sorrindo para você, te paga um drink, te chama para um canto e te dá um beijo de tirar o fôlego. Dependendo da situação, das circunstâncias, de ambas as atitudes, vocês podem trocar telefones ou perfis no Facebook, ou apenas vão para um motel. Enfim, não importa como terminou a sua noite, sempre tem o dia seguinte. Aquele mesmo em que você acorda com uma ressaca fenomenal - que é tão comum, que se tornou íntima - mas em que já está pensando no que fazer no próximo fim de semana. Os dias passam como o rastejar de uma tartaruga centenária, e o horário de almoço, a volta para casa, a ida à academia e ao inglês são tão tediosos que você decide tomar uma cervejinha no meio da semana, mas o happy hour acaba se estendendo para a boate... Desperta na manhã posterior, novamente com uma enxaqueca matadora e se atrasa para o trabalho. Porém, de qualquer forma, já sabe o que vai fazer na sexta e no sábado, e, talvez, no domingo à noite. É uma busca infinita.

Na realidade, as pessoas que estão na noite sempre estão à procura de algo, por vezes, apenas uma forma de descontração, de querer chutar o balde, pegar geral, esquecer os problemas ou arranjar um namorado (a), vai saber... Podem existir inúmeras razões, mas aquelas pessoas específicas, essas no qual se encaixam meu amigo e uma porrada de gente que eu e você conhecemos, geralmente, são os que chamo de solitários. Corações que foram partidos e que vagam perdidos pelas alamedas escuras e atraentes da autodestruição. Vivem como zumbis em dias normais, sedentos por carne fresca e um pouco de curtição, e como lobos aos fins de semana, caçando diversão interminável. Se essa for ou já foi a sua realidade, você sabe muito bem o que é essa tal ressaca moral no qual estamos falando, aquela mesma que te faz pensar que aquilo não faz mais sentido para você, aquela também que te faz perceber a diferença do momento em que você está rodeado de amigos e até futuros peguetes ou pretendentes, e o instante que você se percebe sozinho, sem uma alma para lhe acalentar ou afogar as suas mágoas. E você se pergunta: o que me falta? Esse meu amigo disse que talvez uma namorada poderia lhe fazer diferença, sossegar o facho. Até que lhe complementei: Ok, você arranja uma garota caseira que poderia ser perfeita se não fosse o fato de ela não estar acostumada com essa vida que você leva, e você começa a se cansar de ficar em casa vendo filme e comendo pipoca. Até que surge a vontade da noite, de andar com as mãos livres e fazer o que der na telha. Um hiato então se formou na nossa conversa até ele acender um cigarro e dizer: “Isso é muito complicado, melhor eu ir para a igreja”. 

Se você caro (a) amigo (a) se identificou com a situação, saiba que não precisa abrir mão de tudo o que gosta para se livrar de um vício, e não estou só falando do fato de ser um frequentador ativo das baladas, mas qualquer hábito que não te faça mais bem, curta a sua vida ao máximo. Se você sofreu uma desilusão amorosa ou qualquer outro motivo que te faça querer sair sem dar satisfação a ninguém, sentir o gostinho da autossuficiência, faça sem receio. Mas não deixe que seus desejos te consumam e atrapalhem sua saúde física e, principalmente, mental. Como eu sempre digo: “A liberdade é algo tanto fascinante quanto destruidor. É impossível impor um limite depois que você já ultrapassou a barreira há muito tempo.”. Por isso, permita-se curtir os prazeres noturnos, mas também saia com aquele seu amigo que você negligenciou algumas idas ao parque ou uma viagem à praia, e vá visitar um museu, ver um filme que está em cartaz, ler aquele livro que está há anos guardado na prateleira, sentir o frescor do mar e até pode bater palmas para o sol, porque é ele que nos mantém vivos. Afinal, não há nada melhor do que se sentir aceso com um pouco de claridade.