Em meio ao som das batidas violentas de um dark wave e a fumaça embriagante que emanava no ar daquele fumódromo situado ao fundo, depois da pista, de uma casa gótica que costumamos visitar, um amigo relatava o quanto era difícil se afastar daquele tipo de local. Como era árduo parar de beber, de fumar e de continuar voltando a recintos que nada mais têm a oferecer do que bebida gelada, som alto - bom, mas que já enjoara há algum tempo - e alguns pares de vaginas e pintos ambulantes. Ele também contou sobre a vontade de voltar a pedalar, ver o pôr do sol, sentir as ondas do mar batendo em suas canelas e a brisa inebriante, que apenas um fim de tarde no campo poderia oferecer. Mas era impossível realizar qualquer uma dessas atividades no momento em que se encontra, pois sua realidade está aliada ao caos que a vida noturna promove, onde desejo e farra se confundem no mesmo ambiente em que pessoas usam drogas e agem conforme seus instintos naturais sem qualquer pudor. No entanto, não é apenas esse amigo que enfrenta esse tipo de dilema, como a maioria das pessoas - especialmente essas que vão sempre às mesmas baladas - deve desfrutar de mesmo fardo, ou experiência similar.
Tudo parece perfeito quando você está sob o efeito de entorpecentes,
quando aquela sua música favorita toca na pista e você grita para suas amigas
“minha música!” como se o DJ tivesse a escolhido especialmente para você. Tudo gira
em torno do seu momento, da vontade desvairada de tirar todo o peso das costas
e esquecer que algum dia foi jornalista ou que tem uma prova no dia seguinte. Você
apenas está ali, curtindo ao máximo, sem se importar se o mundo está
caindo sobre a sua cabeça, ou se o chão irá abrir abaixo de seus pés. Até que
surge um bonitinho (a) sorrindo para você, te paga um drink, te chama para um
canto e te dá um beijo de tirar o fôlego. Dependendo da situação, das circunstâncias,
de ambas as atitudes, vocês podem trocar telefones ou perfis no Facebook, ou
apenas vão para um motel. Enfim, não importa como terminou a sua noite, sempre
tem o dia seguinte. Aquele mesmo em que você acorda com uma ressaca
fenomenal - que é tão comum, que se tornou íntima - mas em que já está pensando no que fazer no próximo fim de semana.
Os dias passam como o rastejar de uma tartaruga centenária, e o horário de
almoço, a volta para casa, a ida à academia e ao inglês são tão tediosos que você
decide tomar uma cervejinha no meio da semana, mas o happy hour acaba se estendendo
para a boate... Desperta na manhã posterior, novamente com uma enxaqueca matadora
e se atrasa para o trabalho. Porém, de qualquer forma, já sabe o que vai fazer na
sexta e no sábado, e, talvez, no domingo à noite. É uma busca infinita.
Na realidade, as pessoas que estão na noite sempre estão à
procura de algo, por vezes, apenas uma forma de descontração, de querer
chutar o balde, pegar geral, esquecer os problemas ou arranjar um namorado
(a), vai saber... Podem existir inúmeras razões, mas aquelas pessoas específicas, essas no qual
se encaixam meu amigo e uma porrada de gente que eu e você conhecemos,
geralmente, são os que chamo de solitários. Corações que foram partidos e que
vagam perdidos pelas alamedas escuras e atraentes da autodestruição. Vivem como
zumbis em dias normais, sedentos por carne fresca e um pouco de curtição, e
como lobos aos fins de semana, caçando diversão interminável. Se essa for ou já
foi a sua realidade, você sabe muito bem o que é essa tal ressaca moral no qual
estamos falando, aquela mesma que te faz pensar que aquilo não faz mais sentido
para você, aquela também que te faz perceber a diferença do momento em que você
está rodeado de amigos e até futuros peguetes ou pretendentes, e
o instante que você se percebe sozinho, sem uma alma para lhe acalentar ou
afogar as suas mágoas. E você se pergunta: o que me falta? Esse meu amigo disse
que talvez uma namorada poderia lhe fazer diferença, sossegar o facho. Até que
lhe complementei: Ok, você arranja uma garota caseira que poderia ser perfeita
se não fosse o fato de ela não estar acostumada com essa vida que você leva, e
você começa a se cansar de ficar em casa vendo filme e comendo pipoca. Até que surge a vontade da noite, de andar com as mãos livres e fazer o que der na
telha. Um hiato então se formou na nossa conversa até ele acender um cigarro e
dizer: “Isso é muito complicado, melhor eu ir para a igreja”.
Se você caro (a)
amigo (a) se identificou com a situação, saiba que não precisa abrir mão de
tudo o que gosta para se livrar de um vício, e não estou só falando do fato de
ser um frequentador ativo das baladas, mas qualquer hábito que não te faça mais
bem, curta a sua vida ao máximo. Se você sofreu uma desilusão amorosa ou
qualquer outro motivo que te faça querer sair sem dar satisfação a ninguém, sentir
o gostinho da autossuficiência, faça sem receio. Mas não deixe que seus desejos
te consumam e atrapalhem sua saúde física e, principalmente, mental. Como eu
sempre digo: “A liberdade é algo tanto fascinante quanto destruidor. É
impossível impor um limite depois que você já ultrapassou a barreira há muito
tempo.”. Por isso, permita-se curtir os prazeres noturnos, mas também saia com
aquele seu amigo que você negligenciou algumas idas ao parque ou uma viagem à
praia, e vá visitar um museu, ver um filme que está em cartaz, ler aquele livro
que está há anos guardado na prateleira, sentir o frescor do mar e até pode
bater palmas para o sol, porque é ele que nos mantém vivos. Afinal, não há nada melhor do
que se sentir aceso com um pouco de claridade.
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