Aqui eu me rendo. Me rendo porque assumo meus pecados e, perante um júri sem rosto, declamo a minha confissão: eu não sei viver de acordo com o que essa sociedade prega. Eu não consigo me encaixar, porque esta caixa é muito pequena e não há espaço para comportar as minhas asas e, consequentemente, a minha necessidade de voar. Eu preciso ir sempre além, porque é por meio desse ímpeto que eu me sinto viva. É me livrando dessas algemas que eu compreendo um pouco de mim mesma e o quanto meu voo pode ser alto. E eu vou partir todas as vezes em que não puder ser mais feliz e não vou perder tempo. Já dizia Frida que onde não puderes amar, não te demores. E isso também é resultado da minha fúria, da minha fome de viver. Pois também já dizia Fernando Pessoa que quem tem alma não tem calma e a minha pressa é sagaz demais para também me contentar com o fugaz. Eu preciso atingir as profundezas do mar sem ter medo de me afogar, pois eu sei que conseguirei levantar. Sinto que minhas palavras neste momento são necessárias para manterem minhas memórias intactas. Não é somente o desejo de nostalgia, é a vontade de que esse momento nunca se acabe. Minha vida tem mais cor, tem mais sabor e inclusive mais sentido, por que hei de querer que essa densa sensação se torne gasosa e evapore? Por que desejaria outros dias em que a sensação de vazio era eminente? Sou completa, sou feliz e sei das minhas capacidades, mas agora que me tornei maior, eu não vou querer outra realidade.
Temo, porque sonho alto demais e a queda é profunda. Temo, porque minha coragem se mostrou minha pior inimiga e me distancia da realidade que mantém meus pés firmes no chão. Temo, porque não queria ter que pensar muito, queria que minha mente continuasse fresca e me levasse para onde tudo é belo e calmo. Temo, porque queria estar segura, queria um aperto firme de mãos quentes para poder me carregar. E temo mais ainda por manter este desejo.
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