Vivo um momento de intensa inadequação. No ambiente de trabalho, em casa e nas perspectivas de vida. Não encaixo. Talvez por ser grande demais e não caber, mas a sociedade me faz acreditar - com seu jogo maléfico de poder - que é porque sou vazia. Tenho pouco valor, logo, não sirvo de demanda. Porque questiono demais, porque não tenho foco somente na minha função e não tento melhorar para ser uma funcionária melhor. Tento melhorar como pessoa, ser maior e não suficiente para o trabalho, ou grande para ser destaque aos olhos do patrão. O trabalho não deveria moldar a vida. A vida deveria moldar o trabalho. Quanta coisa a gente deixa de fazer porque não cabe ao trabalho? E essas coisas viram hobby e quem consegue manter uma atividade que gosta sem ganhar dinheiro com isso é porque tem uma condição de vida melhor do que a maioria da população, porque tem o privilégio do tempo e do dinheiro. Ter privilégio não significa que alguém é menor porque tem, mas deveria entender que todo mundo também poderia ter. Poderia ter tempo e dinheiro para fazer coisas que gosta para não adoecer e, indo mais além, não deveria viver de forma precarizada enquanto favorece e enriquece bolsos de outrem que não sofrem nada dessa realidade, que atuam para manutenção dessa desigualdade e que não querem que todos tenham os mesmos privilégios. Fazer reforma, melhorar o poder de compra, se contentar com pouco ao mesmo tempo que alguns não tem nada é suficiente?
Esse mundo é doente.
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