Costumo odiar coisas que se chamam "oração", mas vou me perdoar por essa também.
“Que eu perdoe meus pais por terem sido insuficientes, exagerados, negligentes ou até desprezíveis.
Que eu me perdoe por ser insuficiente com os outros.
Que eu me perdoe por resistir a receber o amor.
Que eu me perdoe por não acolher meus enganos e erros.
Que eu perdoe a mim mesmo por não ter a beleza, o sucesso, a felicidade e a vida perfeita que eu inventei que seriam essenciais.
Que eu perdoe minha cegueira para com aquilo que me deixa pleno.
Que eu me perdoe tomar posições tão radicais sobre a vida e perder a conexão com as pessoas em favor de ideias.
Que eu perdoe os outros por desapontar as expectativas que criei sobre eles.
Que eu me perdoe por as vezes desistir antes do que seria preciso ou por insistir no que já deveria ter abandonado.
Que eu perdoe os outros por se deterem em dizer qual deveria ser o bom jeito de viver.
Que eu perdoe a mim por me deter em eventos, situações, explicações e desculpas que só me desconectam daquilo que é essencial.
Que eu me perdoe por colocar a perder meus dias ficando distraído no que me empobrece internamente.
Que eu perdoe o meu passado por tudo aquilo que faltou ou sobrou e me sobrecarregou.
Que eu perdoe os outros por não perceberem como me sinto sozinho ou incompreendido mesmo quando estou rodeado de pessoas.
Que eu me perdoe por querer os outros para mim e não para a felicidade deles mesmos.
Que eu perdoe as pessoas que amo porque irão morrer antes do que eu desejaria mesmo sendo admiráveis, boas, honestas ou inspiradoras.
Que eu me perdoe por as vezes permanecer com pessoas e lugares que me fazem mal.
Que eu me perdoe por não conseguir perceber o amor que me cerca em pequenos gestos que chegam até mim.
Que eu me perdoe por tentar sufocar minhas emoções mais honestas com uma montanha de racionalidade desnecessária.
Que eu perdoe os outros por não conseguirem me escutar com qualidade e presença reais.
Que eu me perdoe por agir de um jeito exagerado e desproporcional diante de pequenos contratempos do dia-a-dia.
Que eu perdoe os outros por me interromperem quando falo para falarem sobre si mesmos.
Que eu me perdoe por chorar menos do que mereço.
Que eu perdoe as pessoas por serem tão frágeis, falíveis, contraditórias e até perversas.
Que eu perdoe a mim mesmo por ser assim também.
Que eu me perdoe por não me render aos pequenos milagres silenciosos do cotidiano.
Que eu me perdoe por ser muito duro comigo mesmo.
Que eu me perdoe por ter um insight revitalizante e logo em seguida começar a me justificar e relutar contra ele.
Que eu me perdoe por achar que só me perdoar não adianta nada e que seria preciso agir.
Que eu me perdoe por ainda não conseguir seguir em frente e perdoar como eu poderia.
Que esse perdão antes de mais nada cure minha dor interior e o sentimento de pequenez que me toma quando olho para a vida como um todo.”
terça-feira, 30 de abril de 2019
terça-feira, 16 de abril de 2019
Vida breve
Não tem nada de romântico em assumir o título. Não é motivo pra enaltecer a juventude desregrada. A vida é breve porque ela não vale nada. A vida se resume a número. Mortos são estatísticas. E tentam nos fazer engolir que a vida é valiosa. Adoecer, morrer repentinamente, ir morrendo aos poucos ou estar morto por dentro. Pode acontecer a qualquer momento, pode acontecer com qualquer um. A vida é breve porque ao mesmo tempo que é valorosa, algumas vidas não valem nada. Pra ninguém, pra nada. Eu não valho nada. Hoje vi gente morrer, amanhã ou outro dia pode ser alguém que amo, pode ser comigo. Existe certeza da morte mais do que se tem da vida, mas o que nos resta é enganar a morte ou nos enganar sobre a morte? O que nos mantêm vivos? O que me faz sentir viva? Não tem nada a ver a morte, mas as vezes pode ser algo como renascer todo dia. Talvez dormir seja um pressuposto à morte. Dormir e não acordar mais. A diferença é que não resta consciência e isso não é problema. Para quem está morto.
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