Ele rastejava em direção ao véu que, sobreposto às margens arenosas da costa, imergia, fulminante, sob as ondas do mar e dançava levemente ao embalo daquela brisa.
Ela havia lhe dado às costas e ele, contendo o último sopro de esperança emanando em seu peito, acreditava que aquela situação só estaria acontecendo devido a um súbito ataque de confusão em que ela teria se submetido ao encarar o altar e os olhares julgadores daqueles que estavam presentes.
Mal sabia ele que ela abandonara seus compromissos há algum tempo, dado o fato de que o relacionamento deles já não era mais o mesmo. "Mas qual relacionamento continua perfeito depois de cinco anos?", era a questão que ele vivia repetindo a si mesmo quando passou a desconfiar da fidelidade de sua noiva.
Que loucura estaria passando por sua cabeça ao pedir a mão da mulher que supostamente o traía? E dela, ao aceitar se casar com aquele que já não amava mais?
Apostar no amor como um fator de risco, que poderia salvar qualquer relacionamento, era algo comum naquela sociedade. Seus habitantes acreditavam piamente que aquele sentimento, que costumava construir laços eternos, fosse inquebrável. Só se amava uma vez na vida.
Naquele momento, ela corria sem rumo, com os pés descalços que sofriam ao pisar na areia escaldante daquela primavera de sol. Ela havia planejado há dois dias o plano de fuga de seu próprio casamento, mas, obviamente algo havia dado errado.
A ressaca moral vinha acompanhada à dor na consciência após perceber que seu amante não a estava esperando conforme planejaram. Ele perdera a coragem, surgida no calor do momento, em largar sua esposa e duas filhas para viver um amor proibido.
Apesar do receio em relação ao o que viria depois daquela situação, que deixava suas pernas levemente trêmulas, ela se sentia uma pouco orgulhosa de seu desbravamento ao tentar fugir daquilo que acreditava ser um inferno.
No entanto, um simples gesto involuntário, que lhe fez virar para trás, trouxe à tona a imagem de tudo aquilo que ela não queria sentir. Seu noivo estava debruçado sobre o véu, que calhou a escorregar pelos seus lisos fios de cabelo no instante em que correu para longe do altar, após deliberadamente ter dito "não" aos olhos lacrimejados daquele fraco homem.
Ele apertava firmemente aquele fino pedaço de tecido contra o peito, forçando para que não escapasse pelas suas mãos. E perguntava a si mesmo, em voz alta: "O que eu fiz de errado?".
Entre os convidados, rodas de cochicho se formaram a respeito da noiva, coisas que provavelmente não lhe agradariam. Enquanto aquela ex namorada, ainda ressentida por ter sido trocada há cinco anos, abraçava-lhe as costas e sussurrava algo possível de ser compreendido através de uma paralela e quase inútil leitura labial: "Ela não te merecia".
Ela assistia àquela cena com o rosto já completo de lágrimas, que lhe salgaram a boca no instante em que clamou pelo nome de seu amado. Todos os olhares se voltaram à ela, e ele foi à sua direção, ainda carregando o pedaço de tecido que lhe compreendia o sentimento guardado: "Não vá embora", ele disse.
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