terça-feira, 24 de março de 2015

O amor nos tempos de Facebook

Seja qual for a sua rede social favorita, em qualquer uma delas você verá uma enorme quantidade de casais extremamente apaixonados e felizes. É como se a nossa timeline fosse uma capa de revista de fofocas, e a bomba da vez seria a mudança de status de relacionamento de fulano, que até poucos meses antes estava com outra. "Coitada da ex, que fora abandonada e agora ofuscada pelas juras públicas de amor eterno do amado para outra." É o que as pessoas pensam. A diferença é que, nas redes sociais, as informações correm mais rápido e somos vítimas desse bombardeamento constante de novidades, notícias, inutilidades e mudanças de status alheio. 

Queria discorrer sobre como tudo começou até chegar ao ponto atual, em que a exposição da própria vida pessoal é gratuita e comum, afinal, todo mundo que você conhece e convive faz e o tempo inteiro. No entanto, não vejo aqui necessidade para tal, até porque, ainda quero chegar ao ponto em questão. 

Hoje, para se fazer algo é preciso contar para todos. Mas só compartilhamos o que queremos que as pessoas saibam, é como se fizéssemos o trabalho da edição das revistas, apenas mostrando o nosso melhor: o quanto somos bonitos com nossas selfies cheias de filtros e alterações, o quanto somos felizes e altruístas, repletos de amigos, estamos sempre nos divertindo e visitando os melhores e mais caros lugares, e como nosso relacionamento é profundo e inabalável. Verdade seja dita: esta é a hipocrisia velada em seu estado mais bruto. 

Vejo casais tirando selfies semanais, sempre sorridentes e amorosos. Mesmos casais que, certas vezes, se separam durante o decorrer da semana, porque um ou outro está em uma festa, dando em cima de outrem. Você observa tudo isso, e na segunda-feira vê uma selfie apaixonada dos pombinhos e tem vontade de regurgitar o almoço. Não porque você se importa com o andamento do namoro dos outros, você só é obrigado a ver certas coisas que não podem ser desvistas, ainda mais depois que você já pode ver tudo. 

Você se dá conta que já fez isso um, dois ou três dias, mas você aprendeu. Vendo o próprio erro, ou o erro alheio, e você julga, mesmo não querendo, mas o que está exposto, dificilmente não está pedindo para ser julgado. Os olhos e a mente são as maiores armas críticas do corpo humano. É da nossa natureza opinar. E você percebe o quanto já foi idiota em tentar ser mais uma pessoa feliz aos olhos dos outros.

Me desculpem, senhores mais felizes e completos da minha timeline. Vocês podem continuar sendo hiper alegres e bonitos, eu não me importo com o que vocês deixam de fazer frente às lentes de seus smartphones, ou aos cantos escuros, mas eu não acredito na imagem que vocês querem passar. Podem, inclusive, fazer suas propostas cheias de argumentos, mas eu não vou votar em vocês nem em 2018, nem na veracidade da cor de seus sorrisos. Quem muito quer mostrar é porque tem algo a esconder. Não digo que todos os exibicionistas da web traem ou na verdade são depressivos, só acho que por trás dessa forte necessidade de se aparecer, existe algo muito mais intrínseco e contrário ao que está sendo exposto. Essa relação pode ser aplicada ao dia a dia, até mesmo de quem não é um heavy user das redes sociais. 

Peço desculpas mais uma vez, mas agora eu falo de mim: eu não quero um amor que só seja perfeito para o outro ver. Eu nem procuro um amor, quanto mais perfeito. E também não quero o rapaz mais bonito do quarteirão ou do Tinder. Aquele que as suas inimigas aplaudem - em segredo - de pé, com uma pontada de inveja e recalque. Eu prefiro muito mais um moço que meus amigos de verdade irão dizer: esse cara é foda, e vocês são mais foda juntos. E que a nossa foda seja literalmente maravilhosa, porque de opinião alheia, eu não preciso para amar. Nosso amor não é segredo, nós só não precisamos da aprovação de quem quer que seja para funcionar. E se algum dia nosso amor vier a público, que os likes sejam sinceros. Mas se não forem, foda-se e vamos foder gostoso lá na minha cama, onde ninguém precisa ver.

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