domingo, 14 de dezembro de 2014

Adeus, politicamente corretos de minha vida!

O ano vai chegando ao fim e, com isso, o clima de festa começa e a minha energia passa a se voltar totalmente a isso. Já não quero mais trabalhar, quero que os dias de bebedeiras e risadas, com direito a por do sol direto do mar, e muito amor para dar e receber que só alguns ambientes e algumas pessoas podem proporcionar, cheguem logo. Eu sou assim, eu gosto de me doar. E nessa época do ano só restam dois sentimentos que se contradizem: felicidade ou tristeza. Meus últimos finais de ano foram o que eu chamaria de tristes, e nenhum deles representou o ano seguinte que se iniciou, mas com tantos finais de ano tristes, eu mereço um bem felizão, não? Pois bem, semanas de viagens me aguardam, e eu não vejo a hora delas chegarem para saciarem a minha vontade deliciosa de viver. Não sei o que exatamente me aguarda em cada uma das três viagens que farei, mas essa curiosidade me causa um arrepio na espinha. Me sinto calma e corajosa, não é toda semana que se pode viajar e curtir o verão. Queria estar com uns quilos a menos, mas tudo bem, consigo causar boa impressão ou, pelo menos, me sentir bem. É engraçado o quanto me sinto otimista com o que esses próximos dias me reservam. E com este ano que já tem os dias contados para acabar, eu deixo aqui o meu adeus aos politicamente corretos que insistiram em surgir na minha vida este ano.
Foram tantos certinhos que me fizeram repensar constantemente sobre quem eu era e o que eu queria, e no fim me deixaram mais confusa do que eu merecia estar. Então, adeus, ADEUS! Me deixem de uma vez por todas, se afastem, vão para bem longe ou sumam! Continuem em suas casinhas com seus sentimentos de vazio e depressão que vocês tentam preencher com a faxina diária de seus quartos, com as louças secas e limpas que vocês tanto fazem questão de lustrar, com suas mentes cheias de indagações mas sem desafios, com suas rotinas regradas em que vocês tentam encontrar o equilíbrio através da alimentação e do exercício físico, mas não com consciência, e sim com uma mania estranha e perversa que vocês insistem em seguir por terem medo de se perderem, e com as suas vidas sem emoção que nada tem a ver comigo. Não se atraiam por mim, rapazes. Não me busquem, não venham atrás de mim. Porque na primeira impressão eu nunca quero nada com vocês, eu até tenho que olhar duas vezes para encontrar um charme que para a maioria dos olhos é inexiste. Não me venham com suas gentilezas para depois me tratarem com frieza. Eu não quero vocês, não quero nenhum de vocês para me fazer sentir mal por ser quem eu sou. Não quero ninguém para julgar a minha loucura através do discurso silencioso que rodeia as suas mentes. Não quero seus corpos, por mais que eu me perca neles, eu não quero me perder, eu quero me encontrar. Eu não gosto disso e nada disso me faz bem. Fiquem longe, com suas portas e janelas fechadas em que quase ninguém pode entrar, com seus pensamentos, que vocês nunca querem compartilhar. Continuem distantes em suas vidas medíocres, porque eu, ah, eu vou é conquistar este mundão enquanto vocês preparam o chá das cinco em ponto. Eu vou é me jogar nessa vida louca e bandida enquanto vocês falam consigo mesmos e tentam fazer tudo certo, porque, convenhamos, é certo só na cabeça de vocês, mas só assim vocês conseguem colocar a cabeça no travesseiro e dormir. Dormir até não dar mais, porque é isso que vocês fazem: dormir enquanto a vida corre. Vão, seus infelizes, vão procurar meninas certinhas iguais a vocês, para que assim vocês tenham a vida sem sal que tanto almejam, ao lado de alguém igualmente sem sal, e façam filhos sem sal, porque eu gosto é de muito tempero. Pode por pimenta, pode por molho inglês, canela e até coentro, e pode por wasabi também, porque é com muito sabor que eu quero continuar vivendo! Eu não quero alguém para me consertar ou para mostrar o quanto sou errada, eu quero alguém que seja louco e se perca comigo, que me acompanhe nas minhas "viagens", e que não tente me aprisionar em seus gelados e amargos braços. Sumam, seus esquisitões! Eu não estou interessada em seus papos teóricos, em seus ceticismos e em suas confusões, não quero saber das suas vidinhas cheias de normas e bloqueios que vocês mesmo impõem. Eu vou continuar vivendo loucamente com muita leveza, liberdade e prazer, e vou mudar e transformar todo o meu curso todas as vezes que eu quiser e sentir necessidade, porque eu, eu sim, sei o que significa ser livre, e vou parar em qualquer lugar que a vida me levar, enquanto vocês, ah, que pena, vão viver e morrer exatamente onde têm certeza. Mas não sinto dó de verdade de vocês, porque eu sei que vocês amam essa piedade, eu quero que vocês fiquem o mais longe possível da minha realeza, porque não, meus amores, aqui não tem lugar para o universo razoável e duvidoso de vocês! Porque enquanto vocês estão aprisionados em suas ilhas, eu estou voando de nuvem em nuvem e onde o ar puder me levar. Adeus, certinhos, eu não sirvo para vocês!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Passou

Astrologia explica tudo, ou quase tudo. Hoje eu percebo que toda a minha aflição era explicável através dos trânsitos dos céus. E passou, assim como descrito na minha carta progredida. E eu nunca me senti tão tranquila. A resposta foi negativa, e assim o alívio se fez presente. Nunca me senti tão feliz com algo tão corriqueiro na vida de uma mulher, no entanto, com tantos significados. Doeu, passou, evaporou.

Tudo o que doía, incomodava e afligia desapareceu, restando uma paz calma e surgida em um momento essencial. E que continue assim, da forma que puder. Obrigada.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

À espera de uma resposta

O fim do ano vai se aproximando e eu me sinto como se estivesse no mesmo ponto que parei no ano anterior, se não pior, porque aquela situação eu sabia que, demoraria, mas seria passageira. Do que me adiantou tantas vivências, ter conhecido tantas pessoas, e ter me deparado com tantas reflexões se me sinto tão perdida quanto nos dias em que eu dividia um quarto, em que minha avó com alzheimer definhava e gritava no outro, pedindo por água ou atenção, em que via meus pais desesperados e levava um relacionamento que só me fazia mal? Para o que me serviu ter vivido tantas coisas, na mesma velocidade que comanda a minha ânsia insaciável por viver, se hoje eu me vejo sozinha, contida e com medo? Por que as sensações boas de liberdade, de paixão, de amor e de extrema felicidade foram embora, tão fugazes, e as de confusão continuam a imperar? Será que eu não sei viver bem e aproveitar os bons momentos? Será que eu sou tão insegura ao não saber enxergar quais são os meus principais erros e continuar a cometê-los? Será que eu não aprendi a me amar? Tudo o que fiz para me sentir viva, no fim, me fez sentir mais vazia do que eu já pude ficar e agora sinto que cheguei num fundo que eu nunca imaginei alcançar. Não é a depressão, nem a ansiedade, é a confusão e o medo. Me sinto coagida pelos meus próprios pensamentos, porque eu sinto que meu futuro está comprometido a partir do momento que a resposta que se faz necessária chegar em minhas mãos, e eu a temo. Temo mais o seu resultado positivo, claro, mas o negativo também me amedronta, porque vai confirmar a minha loucura. Talvez porque eu não queria passar por tudo isso sozinha, mas eu não tenho a quem recorrer, aliás, eu não posso, é muito peso para qualquer pessoa, e eu sinto que, por mais difícil e por mais que isso me machuque, devo resolver sozinha. Tenho bons amigos, alguns já sabem e demonstraram a ajuda que puderam oferecer, mas outros, eu não sei onde estão, e sinto que não lhes devo incomodar. Eu odeio parecer pedante, meu orgulho é muito grande para isso, mesmo que minha necessidade de ser honesta e me expressar seja enorme, talvez, esse seja o momento de me calar. Por mais que eu ache que não devo passar por isso sem qualquer apoio, ou com alicerces fracos que podem facilmente despencar, eu acredito que me fará mais forte se eu souber conduzir o caminho que devo trilhar. Eu preciso ser forte. Eu tenho uma força imensa para ajudar os outros, e quanto a mim, minha positividade sempre foi muito presente para não me deixar cair por muito tempo, mas eu cheguei numa situação que não sei lidar, simplesmente por ser algo muito mais físico do que emocional ou psíquico, e que pode comprometer toda a minha vida, mas mesmo assim, que afeta em todos os sentidos. Me sinto apavorada, como uma menininha com medo de escuro após ver um filme de horror às escondidas. Sinto minhas entranhas me devorarem e sintomas físicos nunca antes presenciados. Talvez eu esteja assustada o suficiente para ter criado outro drama, eu queria poder acreditar nisso, mas a cada dia que passa sem evidências que comprovem o contrário, percebo que a carta de conclusão para meu futuro incerto apenas está sendo impressa, prestes a me ser endereçada.
Não penso mais sobre cada caso, mas reflito sobre o todo, e o desfecho foi que eu me ferrei brutalmente, bati a cara feio. Não falo com relação ao que senti ou me fizeram, falo sobre o que está acontecendo comigo, no meu corpo, neste momento. Eu queria que tudo isso não passasse de um pesadelo e que amanhã o dia amanhecesse lindo, com direto à bela vista do mar apenas sendo adornada pelos raios inebriantes do sol, todo cheio de força e esplendor, e que toda essa visão me preenchesse a alma, o suficiente para acalentar minha angústia e calar meus vagos e sombrios pensamentos. Eu estou sozinha à espera de uma resposta. Eu estou sozinha. Eu não sei aonde vou parar.

domingo, 30 de novembro de 2014

E quando a realidade vem à tona

Bob Marley - Every little thing is gona be all right

Acho que levei uma semana para perceber algo que o ano todo venho tentando compreender. Algo meu, extremamente íntimo, porém, essencialmente esclarecedor e que acredito valer para outras pessoas. Toda essa minha ansiedade oca faz parte de mim, infelizmente. E eu sofro com ela a minha vida inteira, e, por mais que eu não a transpareça abertamente, ela está aqui, enraizada e latente, e por vezes até grita. Eu queria me livrar desse mal, já busquei terapia, já fui encaminhada para psiquiatra, mas tudo o que eu menos quero é ficar dependente de remédios. Tá certo que eu uso de alguns artifícios nada saudáveis apenas para amenizar o problema, o que não é muito diferente de usar medicamentos, no entanto, o uso ocorre através do prazer, então, se preenche minhas necessidades de um modo ameno, por que não? No entanto, percebo, desta vez de maneira muito mais profunda e escancarada, que esses usos também são vazios e, que para combater de fato o problema, eu devo procurar por opções mais saudáveis, exatamente aquelas que eu tanto esqueço, mas que ficam martelando na minha mente. Opções como voltar a praticar yoga e meditação, parar de buscar na noite - quando digo noite me refiro às baladas - uma fuga para minhas dificuldades diárias ou uma maneira de me sentir viva, mas que não me supre mais, justamente por causa do vazio que resta no dia seguinte. Além disso, procurar em outros corpos algo que me falta, algo que desejo, mas que tenho preguiça e alguns impedimentos para começar a adquirir. E o que me falta é a calma. Eu não preciso buscar uma fonte de calmaria inesgotável, eu não preciso de um homem ou de amigos - e diversão constante - para arcar com a minha ânsia por viver, eu preciso apenas me reencontrar, olhar para o meu interior e visualizar o pico do problema. E eu achei.

Percebo então que, neste ano de transformação e inúmeros aprendizados, a realidade foi-me confrontada diversas vezes, mas eu não enxerguei porque o meu ego me atrapalhou. Agora, eu me liberto aqui, de uma vez por todas, de meu ego para poder transcender nessa estrada que se chama vida. Vou buscar o que me faz bem, o que me soma, vou trabalhar com alguns pontos que não posso mudar de imediato, e vou me livrar do que me faz mal, seja com o tempo que ainda me houver, seja conforme a vida quiser.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Carta ao homem do mar

Maria Rita - Encontros e Despedidas 

Quando estávamos naquele quarto escuro, naquele ambiente tão íntimo e ao mesmo tempo tão acolhedor, eu revelei o meu desejo de te carregar comigo. E você riu, disse que para São Paulo não se mudaria, então eu sugeri que fugíssemos e você aceitou. Como eu queria que essa proposta, dita em tom de brincadeira, se concretizasse. Como eu desejaria realmente fugir ao teu lado para algum lugar nunca antes visitado por nós, ou, no mínimo, eu me imaginaria fugindo para o teu canto, de tempo ameno e com o mar aberto. Seria como se você me resgatasse da selva de pedra que me aprisiona, seria como se a liberdade que tanto almejo estivesse ao teu lado. Sinto um nó na garganta ao escrever cada uma dessas palavras e meus olhos lacrimejam, mas não despejam uma gota, porque eu sei que se eu chorar vai ser por tristeza e não é assim que eu quero encarar a nossa curta, porém bela e intensa história. Eu sei que podemos nos encontrar num futuro muito próximo, eu sei que você quer, tanto quanto eu quero, e sei ainda que você é mais maduro do que eu para não me enxergar como uma solução para a sua solidão, uma salvação para a sua depressão e talvez, seja porque você não queira se livrar do seu sossego, e eu acho bom e inclusive aprecio, afinal, já aviso de antemão: eu sou caótica, assim como o trânsito paulista e a constante correria que você tanto despreza na minha cidade, assim como o ar poluído nessa permanente atmosfera, assim como a ansiedade que afeta toda uma geração, assim como poderia ser o cenário do teu pior pesadelo. Mas eu não quero te tirar do aconchego, não, moço da pele macia e bronzeada. Eu não quero tirar a tua paz, não, moço dos olhos fundos e penetrantes. Eu não quero me tornar a principal razão da tua loucura, não, moço da voz oca e alta. Eu não quero ser a moça a que vai mudar a tua vida, simplesmente porque eu não acho que deva ser mudada, não, moço do corpo que beira a minha visão de perfeição. Porque eu não sou perfeita e eu sou tão perdida quanto qualquer jovem de minha idade. Porque eu não sei o que espero do amanhã e não tenho planos concretos para nada. Porque eu ainda nem sei o que mais me faria feliz, quanto mais fazer alguém feliz. Isso é muita responsabilidade, moço que descreve a própria vida como tranquila e "sem emoção". Eu confesso apenas que perderia toda uma eternidade se fosse para me perder em seus braços novamente, eu encararia outro quarto sem luz e sem piso para sentir-me desfalecer sobre o teu corpo, a cada vez que você me fizer transportar para outra galáxia, e eu não somente viajaria do Rio até Salvador, como desbravaria qualquer cidade para estar contigo e receber teu carinho nos meus fios de cabelo desgrenhados e banhados pelo nosso suor, enquanto acaricio a sua barba e aprecio o teu sincero e largo sorriso. Eu queria o poder de congelar o tempo naquela noite de domingo que foi totalmente nossa, sem qualquer intervenção, onde estávamos dispostos a equalizar as nossas energias, enquanto recebíamos e doávamos, um ao outro, um pouco de nossas almas, que se entrelaçaram e dançaram sob a mais frenética e intensa canção. Você me mostrou um pouco de tuas fraquezas, e eu vi o teu olhar mudar enquanto estávamos unificados, eu pude enxergar um brilho que talvez você não sentia há algum tempo. E eu fico imensamente feliz por ter sido o motivo para esta felicidade, na verdade, eu queria que ela durasse tempo suficiente para preencher o teu coração com positividade e acolher os teus pensamentos toda vez que você se deitar, mas eu não sei se vai durar muito, mas que seja suficiente enquanto dure. Talvez porque por mais positiva que eu seja, eu sou realista, e isso eu aprendi com a experiência que as minhas escolhas e atitudes me trouxeram. Eu queria poder acreditar que meus sentimentos por ti tomassem vigência, eu queria poder acordar todos os dias com o som da tua voz, bem baixinha para não me assustar, e o toque de tuas largas e firmes mãos acariciando a minha cabeça, eu queria ser quem te dá prazer a cada ereção que você tiver, e queria descobrir contigo o verdadeiro significado do verbo "amar", mas eu não posso me iludir, não mais, ainda mais em nossas condições, que nos separam por quilômetros de distância de duas vidas que não podem ser subvertidas. Embora, eu desejasse que nosso encontro ocorresse em breve, onde eu pudesse finalmente pular em teu colo e beijar os teus grossos lábios, sentir o calor do teu corpo se aquecer em contato com o meu, e me deixar ser levada por tua calorosa diligência. O desejo permanece e permanecerá enquanto houver razão, ou emoção, para que perdure. Eu não acredito que você seja substituível, assim como vi e sabia que muitos seriam, mas eu não posso esperar de ti algo impossível. Eu nunca esquecerei da imagem em que a brisa batia em teu rosto e do inebriante sorriso que se formou na tua boca quando nossos olhares se encontraram. Eu queria te salvar, homem do mar, e queria me salvar ao teu lado, esta é apenas uma vontade que será guardada, aqui, em minha alma. Obrigada.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Quando a brisa encontra o mar

Cada vez acredito mais que na vida nada ocorre por acaso e cada um dos acontecimentos parece se encaixar apenas para ser escrito. E assim eu descrevo, aos poucos, a minha história. É neste blog que eu desabafo os meus sentimentos mais profundos, assim como as conclusões que encontro para várias dúvidas após tanto refletir, ou somente viver. Este ano inteiro tenho me posto à prova do acaso, e assim pessoas foram surgindo, e passando. Por mais que algumas eu esperava manter, eu sentia a necessidade de deixá-las ir, compreendendo que cada uma teria passado para deixar uma lição, mesmo que este ensinamento não fosse claro, era preciso reagir. E essa reação tornava essas lições incompreensíveis, porque eu precisava proteger o meu ego. Até eu entender que muito além de estar cansada dos jogos de ego, eu deveria quebrar esses dogmas sociais para me libertar completamente de algo que sempre me vi envolvida, mas que não sabia como escapar. Então decidi ser eu mesma: livre, leve e direta. E passei a seguir uma máxima de uma amiga aquariana: eu não quero apenas sexo, eu quero sentir. E então, quando eu menos esperava, parece que o sol queria se pôr à minha frente simplesmente para ser apreciado e aproveitado. Quando revisito a cidade natal de meu ex e me deparo com inúmeras lembranças há tanto tempo guardadas em algum local de minha memória, fui preenchida com um imenso sentimento de paz. Aquela cidade não era ele, aquela cidade não é somente o palco para os episódios finais e tristes de nosso relacionamento que durou 2 anos, aquela cidade é bela e cheia de serenidade. E desse maneira, me vi surpresa, e algo que eu não lembro mais como era, me tomou novamente. Cai nos braços afáveis de ninguém menos do que um pisciniano, desses calmos e cheios de regras para seguirem suas rotinas, mas que apreciam uma boa dose de loucura. Desses que eu passei a admirar, desses que sempre me surpreenderam, desses que podem me ferrar. Eu me vi submersa em um ambiente repleto de aconchego e escuro, assim como ele descreveu que gostava, e completamente dominado por uma intensidade que não saberia descrever. Foi algo que pode ser comparável ao encontro da brisa com o mar, como se eles se unissem e se entrelaçassem numa dança sem ritmo fixo, mas coberta de calor, um calor suave e ameno, um calor que preencheu a minha alma, um calor que não será tão cedo esquecido. Nosso encontro tardará, e ele me fará esperar, assim como todos os piscinianos fizeram, mas essa espera não interferirá em minha vida, ela apenas me fará finalmente a aprender a primordialidade da calmaria, algo que sempre ansiei, algo que eu sabia que só com ele eu iria aprender.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Bukowski, astrologia e as coincidências de minha história de vida

Quando comecei a ler Bukowski, eu me via vivendo como ele. Em uma vida regada à sexo, drogas e alguma necessidade de intelectualização. Não que eu realmente vivesse desse maneira, até porque só fui viver e compreender plenamente a minha liberdade sexual este ano, porque antes disso, eu só me via em meio a amargas ilusões, que até então, eram incompreensíveis para mim. E assim a noite, as bebedeiras se tornaram minhas companheiras, assim como meu combustível era viver para o meu prazer, para as amizades e relacionamentos instantâneos, embora eu soubesse separar muito bem uma questão da outra, existiram muitas "amizades" que acabaram tão rapidamente, quanto dura a brisa da maconha. Entretanto, toda essa introdução se refere a ocasiões ocorridas há dois anos atrás, e, este ano minha vida teve uma reviravolta inconcebível. Eu sempre admirei a maneira crua como o velho tarado descrevia os acontecimentos mais mundanos de seu cotidiano, a forma negativamente bem humorada como ele enxergava o todo, e cada detalhe, me faziam sentir compreendida. Certamente achava que poderia ser uma das personagens de Mulheres, e que eu era realmente uma mulher que sabia o que queria.

Hoje eu me vejo com o ego estraçalhado, o mesmo ego que me dá orgulho e que serve de impulso para minha vida. O mesmo ego que me transparece segurança, a ponto de ouvir de amigas próximas, frases como: você é um mulherão, eu queria ser como você. No entanto, isso apenas é uma carcaça, basta procurar pelo significado de um ascendente regido pelo signo de leão para entender, afinal, leão é um signo fixo, que regido pelo Sol, a estrela mais brilhante do céu, a razão para existir vida na Terra. Sem divagar em astrologia, mas havendo necessidade em voltar para os ensinamentos que este estudo tem me proporcionado, me vejo sob um karma chamado "parte da fortuna", algo que fui entender de fato hoje, e vi todo o desenrolar na prática, diante de meus olhos. Antes de tudo, eu procurei por astrologia porque eu necessitava alguma maneira de me entender melhor e, consequentemente, as pessoas ao meu redor. Eu precisava de algo que fosse mais místico e menos complicado do que a psicanálise, por exemplo, mas me deparei com um estudo milenar e com muitos pontos de vista, sem fácil acesso para compreender cada aspecto da maneira correta, mas como se trata de um longo estudo, não haveria como haver maneiras corretas, até porque, cada autor-astrólogo dará uma visão diferente. Falar sobre Astrologia é complexo, até porque, acredito não conhecer ou entender 10% das prioris necessárias para analisar um único mapa natal, quanto mais relatar o que escreverei a seguir. Mas meu próprio mapa me revela a minha audácia, e a minha maneira de saber discorrer sobre qualquer assunto, mesmo tendo o mínimo de conhecimento. Tenho dois planetas em gêmeos, luminares em signos de ar, o que me faz tender totalmente à comunicação, à racionalização, e a necessidade de encontrar sentido para tudo. Voltando a falar sobre o karma, minha fortuna está em peixes, na casa 8 (casa de escorpião, signo do elemento água, assim como peixes), isso significa que a minha fortuna, ou a missão de vida seja compreender o incompreendido e de uma maneira pisciniana. O que acontece é que não tenho profundidade emocional (veja a diferença entre racional e emocional, eu nunca soube separar) suficiente para concretizar tal fato, talvez, não agora aos 24 anos, logo no momento que estou em constante mutação, onde sinto a necessidade de amadurecer em pontos emocionais e psicológicos. Isso talvez implique na minha atração por piscinianos, por eles terem essa profundidade emocional que eu não tenho. Talvez pela maneira deles enxergarem o mundo, seja muito diferente da minha. Embora eu diga isso com base em todos que já me envolvi, e não preciso dizer que dois deste signo solar foram os que mais me foderam (desculpe o linguajar, mas não haveria outra maneira de me expressar melhor) este ano, sem levar em conta que a pessoa mais importante da minha vida é a minha mãe, solar em peixes, mas com muitos planetas em aquário, o que faz dela uma aquariana muito louca, mas com todos as características de peixes: o escapismo, a loucura, a vitimização, a postura defensiva, a falta de pés nos chão, entre outros, e, já que a Astrologia também explica a genética, eu herdei uma lua em aquário, e uma fortuna em peixes, enquanto minha irmã, uma lua em peixes e um ascendente em aquário, entre muitos outros aspectos. Não vou mencionar os aspectos herdados de meu pai, porque não teria fim, e não iria passar de coincidência para os leigos.

Foi então que este ano resolvi abandonar o tesão por Bukowski, para cair nos braços afáveis de autores como Leminski, Kundera e Hesse, porque eu precisava de leveza, ainda mais após sete meses de autodestruição ao lado de alguém que nenhum bem me fazia, que nada compactuava com meus ideais ou simples pensamentos e que eu extingui de minha vida de uma maneira muito bruta, mas que me rendeu uma sensação transcendental de liberdade. Depois do término com ele, conheci o cara que estimulou grande parte dos pensamentos e conceitos que eu carregava até poucos meses, mas que desmistifiquei após constatar que nada de sábio ele tinha, apenas era alguém que estava experimentando o doce gosto da liberdade, mas que tinha profundidade e lábia suficiente para expressar cada noção de maneira suave e persuasiva, assim como um verdadeiro sábio. Ele tinha mercúrio em peixes, onde este planeta encontra o detrimento, mas que, de alguma maneira, se atrai com meu mercúrio domiciliado, racional e repleto de ar. Como dois pólos de opostos que se atraem (lembrando que o meu oposto seria sagitário, mas ele não se atrai), assim como a razão e a emoção. Sorte a minha poder mudar meus pensamentos, ser como o refrão: "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante", e não ter que carregar nenhuma constatação pesada para sempre, ou por tempo demais. Houveram outros tantos mutáveis: sagitarianos e virginianos, mas os piscinianos sempre foram os que mais marcaram. Depois deste, surgiu outro, de mesmo sol, mesmo mercúrio, mesma vênus (em aquário), e lá estava eu, novamente, sofrendo. Não porque esperasse algo deles, não porque estava apaixonada, mas porque estava frustrada, ou desiludida, porque era difícil compreendê-los, porque eles não compreendiam a minha leveza e a minha necessidade de me expressar, e porque eu queria um pouco deles para mim. Não eles, de fato, mas havia algo neles que me instigava, que eu queria ir mais a fundo para conseguir compreender, porém, fui barrada antes mesmo de poder adquirir conhecimento suficiente. Porque a vênus em aquário deles se sentia sufocada, não que eu ficasse em cima, mas porque eram coisas da vida, o primeiro tinha acabado de sair de um relacionamento posterior ao fim de 10 anos de casamento, então ele queria comer todas as bucetas que lhe fossem possíveis, e me achava muito imatura para ele (não que eu concorde com isso), e o outro era apaixonado pela ex, um ser fixo e apegado, mesmo havendo envolvimento suficiente entre nós, ele apenas me disse: você é muito livre e eu invejo essa sua leveza, mas eu não consigo ser assim. E, em uma discussão intensa em que ele agiu totalmente como vítima, eu o exclui de minha vida. Falando assim parece que sou extremamente fria, mas não, é porque é essa a maneira geminiana de comunicar, informar e narrar histórias, eu me prendo aos fatos, aos detalhes, e, até nas emoções, mas talvez só as que senti, porque só assim iria me fazer sentido escrever.

Até que depois de alguns meses, num momento em que me encontro totalmente apática com relação aos envolvimentos afetivos, ou à busca por diversão na noite, conheço outro pisciniano, que se diferencia dos outros, com um vênus em peixes e um ascendente em gêmeos. É muita mutabilidade, desprendimento e frieza, e eu sabia de tudo isso antes de conhecê-lo. Eu não me atrai por ele, não fisicamente, mas eu sabia que ele era interessante. E fui me deixando levar, até o ponto de ele me fazer sentir uma merda, a mesma merda que me senti com os outros, a mesma merda que sinto desafiar invasivamente o meu eu feminino. Consegui enxergar a forma dele falar exatamente semelhante a um colega de trabalho que tem o mesmo sol e o mesmo mercúrio. (Ainda é possível falar que Astrologia é balela?) A mesma frieza, a mesma dificuldade em se expressar, a mesma necessidade de culpabilização, a mesma postura defensiva e covarde. Sinceramente, eu sabia que esse cara tinha todo o poder para me ferrar, mas eu estava sendo cuidadosa a ponto de saber quando seria o momento de parar, foi apenas o contratempo, que me pegou numa imensa tpm, uniu à falta de senso  dele, com o ego feminino totalmente sensibilizado e ferido. Eu poderia ter sido mais leve, eu poderia realmente ter colocado o meu leão, meu aquário ou meu gêmeos para trabalhar, mas outros aspectos falaram por mim, e eu me vi vitimizada e perdida. E apesar de parecer que reclamo de minhas fraquezas, tão enraizadas, eu amo o meu mapa, e esse meu sol e mercúrio maravilhosos são a minha arma e a minha salvação. Eu prezo pelo valor da palavra, mesmo que palavras não sejam atitudes, para mim não há separação, se eu digo algo, é porque é isso o que eu faço, é isso o que eu penso, e por isso me sinto fraquejar quando alguém age de maneira reversa ao que disse, e é isso o que os mercúrios piscinianos fazem, o tempo todo. E é por isso que eu devo me afastar deles. Menos o colega que me delega trabalho, que a única maneira que encontrei de evitar atritos com ele (que não foram poucos), foi tratando-o como merece ser tratado: sem importância. Brinco com ele o dia todo, até fazer ele soltar aquela risada nervosa e ensaiada, aquela frase pronta que ele preparou meses atrás, porque criar um repertório de frases prontas foi a maneira que ele encontrou de se livrar da dificuldade em se comunicar. Ele é duro, sem leveza, e é assim que a maioria deles é, especialmente os que eu atraio. Eu resolvi colocar um ponto final em todas as histórias mal acabadas e, diferente de Bukowski, que por sinal era leonino (e deveria ter problemas com o ego, mas morreu em 9 março, estranha coincidência), não vou mais me embriagar para esquecer, vou aprender, finalizar, amadurecer e voltar a reinar com a rapidez que meu marte em áries pede, com a necessidade que meu sol demanda em esquecer, com a vontade de desapego que minha lua possui, e com toda a realeza e orgulho que meu ascendente me trouxe. Ponto, e ponto final.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O sentido de tudo

É estranho quando algo perde o sentido. Parece que fica um vazio, ou uma incompreensão. Eu percebi que a minha necessidade em adicionar razão para tudo me torna infeliz. Não por muito tempo, mas, pelo menos, até eu encontrar uma solução ou substituir a preocupação por outros pensamentos, mas o ideal é sempre resolver. Existe uma inquietude dentro de mim que não cala, às vezes, ela fica adormecida, mas constantemente grita, porque precisa expressar o que está lá no fundo, muito além do ego. A ânsia por respostas é sempre delirante, porém, é instigante também. Talvez essa mente sagaz só precisa encontrar uma fonte de paz, que ofereça calmaria inesgotável. Mas a vida é feita de momentos, e estes tendem a passar muito depressa. Aonde está a minha paz? Eu não sei.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A necessária solitude e os hormônios que não calam

Hoje, mais do que nunca necessito minha privacidade. Passar alguns dias sozinha, sem ter que suportar qualquer ruído, sem ter que ver qualquer indivíduo. Queria encontrar minha própria paz silenciosa, que proporciona calmaria, e me relaxa a mente atordoada. Gostaria de não ter a obrigação de manter uma rotina adequada, tão pregada por essa sociedade que tem pressa. Sou comunicadora, trabalho com informação, mas a rapidez com que a mesma flui, desgasta. É preciso calma, e é esta que me falta. Queria mais dias de folga, não que eu reclame por trabalhar demais, mas porque meu corpo e meu intelecto estão esgotados, e precisam descansar. Preciso encher meus pulmões de ar, respirar profundamente e a mente esvaziar, para assim, conseguir encarar um pouco mais dessa insaciável corrida contra o tempo que sofro, dia após dia. Sou dessas pessoas que sempre estão atrasadas para todos os tipos de compromissos. Não porque enrolo, mas porque vivo em outro tempo, no meu próprio tempo. Não porque sou lerda, mas porque não vejo necessidade em acompanhar esses passos largos que a concepção de vida que escolhi precisam. E essa escolha me sufoca, porque queria ser livre em optar por não ter pressa. Mas não posso abandonar, no momento, o que busquei e colhi, porque o dinheiro me é necessário, assim como a compra pela minha liberdade, em que eu possa ter o meu espaço, sem distúrbios. Achava que tinha mudado, mas percebo que não paro de mudar. Mudo meus pensamentos, mudo meus gostos, mudo minhas preferências, mudo meus trajes e meu corte de cabelo, e mudo a ansiedade oca, que parece se afastar, aos poucos, das minhas características que me refiro como defeito. Mas a vida segue assim, e vou mudando conforme posso, até ser tudo o que eu quero, e não o que sempre quis. Não existe mais "para sempre" para mim, mas existem as sensações que penetram lá no fundo, quase o que chamaria de alma, e, assim, se tornam inesquecíveis. Vivo para o meu prazer, vivo para mim, e gostaria que esse "viver" se tornasse mais presente, mais frequente. Conheço gente que diz que trabalho demais, e gente que acha que tenho muito tempo livre, estão enganados, ambos. Sinto que poderia trabalhar muito mais, mas a obrigação me torna improdutiva. Faz uma semana que não faço o freela diário, faz uma semana que tenho preguiça de vaidade, faz uma semana que chego todos os dias atrasada, e faz uma semana que sinto os efeitos da TPM: espinhas, inchaço, mudanças bruscas de humor, dores nos seios, vontade súbita de morrer, alterações de objetivos, necessidade de comer como um dragão, vontade de ter um pinto e não uma vagina. Não é fácil ser mulher, definitivamente.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A brisa

Para acompanhar: Interpol - Untitled

Quem em sã consciência conseguiria sentir essa brisa?
Logo essa, tão fresquinha que surgiu neste fim de tarde.
Essa que veio suavemente e, lentamente, tocou o nosso rosto.
E nossos olhos fez fechar, para sentir sua leveza com outros sentidos.

Quem imaginaria que ela chegaria dessa forma?
E a nossa mente dominasse com toda a necessidade,
Que se fez presente e, ao mais alto cume, tentou atingir.
Como se nossos corpos estivessem em órbita,
E pairassem no ar, flutuando, levemente.

Como essa brisa poderia ter se tornado tão companheira?
Que de tal maneira se fez tão desejada.
E enchesse o nosso corpo de moleza, que beira a fraqueza.
Mas nos tornasse mais íntimos da nossa alma.
E as emoções aflorassem nossos corações a ponto de nos inspirar.
Assim, como estamos neste momento.

Brisa leve, brisa doce. Como esperamos por ti.
E por este odor que você promove.
E por esta sensação que você proporciona.
Como pôde dominar a nossa mente desta forma?
Tão densa, mas, ao mesmo tempo, tão magnética.

Fique brisa, sua louca. Torne-nos tão loucos quanto você.
Goze dentro de nossas mentes, ferventes e nervosas.
Assim você nos acalma, assim você nos faz viajar.
Para longe e tão alto, que sentimos ultrapassar as nuvens,
E as barreiras estratosféricas que nos levam até o ponto mais alto do céu.

Brisa, volte sempre. Para nos confortar.
Para assim esquecermos substancialmente da nossa tragédia.
Para nos curar da náusea que causa a rotina.
Para nos transportar para a Colômbia ou a Indonésia.
Para nos ajudar a fugir da nossa própria loucura.

Sob efeitos da amiga verdinha.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Aquele dia que você gostaria de estar morto

Ao som de At the Drive In - One Armed Scissor

Eu sabia que este momento chegaria, eu o aguardava, de certa forma, inconscientemente. E eu sabia que, quando acontecesse, seria completamente forte e invasivo, mas não imaginava que seria dessa maneira. O peso da racionalidade veio, bruscamente, manisfestando-se aos poucos, mas eclodiu e hoje. Estava eu, no shopping, indo encontrar minha mãe e minha irmã, as mulheres que mais penei a entender durante toda minha vida, e, todo o sentimento de vazio me dominou. Fiz minhas compras, provavelmente gastei mais do que deveria, e fui embora, deixando-as lá, furiosas e cheias de opiniões sobre minha atitude. No caminho até o ponto de ônibus, estranhamente atrai olhares de rapazes bonitos (o que é raridade no bairro que moro), logo estes seres, que tanto me fizeram repensar minha vida, e alguns aprendizados fizeram vir à tona, sem saberem. Entretanto, eu não os enxergava, eu estava focada e, assim sendo, dominada por este vazio. E, quando uso este termo, não me refiro à uma mente oca, ou a sentimentos ou pensamentos evasivos ou libertinos, eu me refiro ao nada que restou depois de tanto pensar, sentir e vivenciar. Eu sentia que poderia chorar a qualquer momento, e ansiei chegar ao meu quarto para poder me acabar em lágrimas sem que nenhum ser pudesse me observar. Mas ao chegar aqui, nada feito, só sinto minha cabeça pesada e, mesmo forçando, meus olhos lacrimejaram, mas agora já secaram, e qualquer vestígio de lágrima evaporou, assim como qualquer racionalização concreta.
Será este o fardo das pessoas que pensam demais? Será este o meu carma? Será que nunca serei feliz o suficiente para nunca questionar esta felicidade e, na busca por mais, eu sempre me depararei com este vazio? Será que nunca vou me sentir completa? O que me falta? O que eu preciso?
Em algumas semanas eu mudei totalmente meu ponto de vista e minhas vontades sobre diversas coisas, eu perdi o desejo de me envolver em relacionamentos breves, em conhecer novas pessoas, em me divertir loucamente na noite, e em fazer coisas que me eram comuns. Eu perdi a vontade de procurar algo, ou o desejo de sempre sentir as mesmas sensações que antes que confortavam. Eu perdi o interesse nas pessoas. Eu parei de me admirar. Eu parei de achar que sou maravilhosa, não porque esteja com problemas de auto-estima, mas simplesmente por me ver como uma pessoa normal, repleta de defeitos. Eu cheguei num ponto que não consigo mais sentir a leveza fresca e transcendental que me fazia sentir viva. Eu só sinto um peso muito grande, e cada vez mais isso afeta negativamente a minha saúde. Eu acho que isso talvez seja se tornar adulto, talvez eu não consiga fugir desse momento em que repensar se faz necessário. Talvez eu só tenha que continuar quieta para não me expor e acabar caindo severamente. Talvez eu tenha que arranjar uma maneira de sentir essa leveza de novo, procurar por atividades que me façam aliviar todo esse peso, e me livrar do que me faz mal hoje. Eu não sei separar o que me faz mal, mas sei que o que costumava me fazer bem, já não me surte mais efeito. Eu cansei. 
Ia terminar o texto aqui, mas não estaria sendo sincera comigo mesma se não tornar este desabafo totalmente sincero. Algumas pessoas me veem à mente: minha mãe e seu mártir, meu pai e sua constante e permanente falta de dinheiro, minha irmã e sua falta de sorte no amor, aquele rapaz que parecia apaixonado e até hoje não me explicou o motivo de começar me odiar, e meus chefes, que pagam minhas contas, as pessoas que convivo, as pessoas que me divertem, as pessoas que mantenho em meu coração e as pessoas que acabei de tirar da minha vida por não me fazerem mais sentido. Quantas reviravoltas precisei ter este ano para chegar a este momento só podem ser descritas num livro, mas ao menos, poderia ter me restado alguma conclusão. Não, só o nada ficou. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O eu leonino


Hoje estava caminhando na rua e vi um casal de adolescentes, ambos me olharam com certa curiosidade, talvez pelo fato de minhas tatuagens estarem à mostra, ou pelo ardo aspecto que carrego no rosto. A garota, no entanto, olhou de uma maneira um tanto diferente, e eu não saberia dizer o motivo, porque poderiam haver inúmeras razões que eu jamais iria descobrir. Talvez o ascendente em leão explique o motivo de eu atrair tantos olhares pelas ruas, inclusive de mulheres, com suas expressões sempre semelhantemente coléricas. Mas eu não vim falar sobre isso. Depois de reparar no olhar da moça, me lembrei vagamente de quando tinha a sua idade, e que tipo de pensamentos e desejos eu carregava. Surpreendentemente senti orgulho de mim mesma, porque com aquela idade talvez eu me imaginasse do jeito que estou hoje, claro que não exatamente, mas acredito que consegui conquistar e alcançar coisas que eu almejava naquela época. Lembro-me bem que era muito insegura, não tanto quanto à minha aparência, mas com o meu status social e no que eu representava para mim mesma. Eu sempre desejei alguma forma de poder, seja em qual aspecto, situação ou ambiente fosse. Me idealizava formada em jornalismo e atuando na área, talvez como repórter, ou como redatora, tanto fosse, a ideia era ganhar dinheiro, muito dinheiro (algo que não condiz com a minha realidade atual, infelizmente). Não me imaginava casada ou com filhos, mas me via morando sozinha, com o meu espaço, e, provavelmente (mais para sim, do que para não), solteira, recebendo muitos amigos e homens que me apetecessem em vários sentidos, ou com algum que eu estivesse envolvida no momento e conseguia me ver no futuro. Outra questão que ainda não se concretizou por completo, mas que eu acredito não estar tão longe de acontecer, ou me incomodar ao ponto de desejar intensamente por essas mudanças. E sempre, sempre, me vi como multitarefa, tendo várias profissões ao mesmo tempo, como ser escritora, cantora, DJ, artista, ou coisas do tipo. Claro, sendo bem reconhecida por cada atividade.


Lembro-me também que, até meados do ano retrasado, eu me via num palco, e todos aqueles que passavam pela minha vida estariam na plateia me assistindo com olhos famintos, já as pessoas queridas estariam no camarote. E eu ali, sob todos os holofotes e flashes, deliciosamente reinando, e, toda vez que alguém me magoava, eu automaticamente enxergava a pessoa no meio do público enquanto eu acenava para ela. Entretanto, nunca desejei que mantivessem sentimentos de inveja por mim, eu apenas achava que poderia ser admirada, só isso.

Quando era mais nova ainda, vivia sonhando que estaria namorando algum famoso. Já foram desejados: Orlando Bloom, Johnny Depp, Wagner Moura, Joe Manganiello (esse ainda faz parte dos meus desejos mais profundos, não minto), Paul Banks (vocalista do Interpol), entre outros tantos, que talvez englobem uma lista maior do que a de quantos caras eu já dormi (sim ou com certeza? rs), enfim... Mas eu nunca me vi como a namorada socialite, que só serve para sair na foto, eu sempre era alguém foda, que conhecera o rapaz no meio social comum de carreira e que fora agraciada por conhecer alguém de mesmo patamar. Recordar todas essas lembranças, me fez perceber que eu sempre me vi como uma mulher e, mesmo quando era apenas uma adolescente revoltada que não imaginava o quanto e o quê teria que viver para chegar aqui, a imagem que eu tinha de mim mesma era igual: a de uma mulher forte, ousada e independente. E, sinceramente, apesar de saber que eu tenho um longo caminho para percorrer, eu não me sinto nenhum pouco apressada ou insegura quanto ao meu futuro, porque hoje eu sei que tenho capacidade de atingir algo brilhante. Prepotência leonina? Quem sabe...

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A fugacidade dos sentimentos


Não consigo mais sentir como estava acostumada. No entanto, sinto de outra maneira as sensações e as emoções. Sinto-as de forma sublime, sem toda a ansiedade oca da adolescência. Sinto que os sentimentos fortes como paixão e amor são relativos e, portanto, fugazes. Posso sentir paixão no instante que ele me penetra, posso sentir amor no momento em que acabamos de transar e me viro de costas para ele me abraçar com força, para me aconchegar em seus braços. Tenho noção de que posso me apaixonar a qualquer troca de olhares intensa, a cada toque sedutor, a cada beijo apaixonado, a cada transa com envolvimento, onde as energias fluem delicadamente e o desejo do revival se faz presente. Assim como posso me desapaixonar com a mesma velocidade e instância. Tem sido eu, inconstante nas relações? Não, tenho sido sincera, comigo e com quem escolho me envolver. Há dias em que é difícil ser eu mesma, há situações que tenho necessidade de sair do meu corpo, abandonar essa alma pesada, mas quando descubro o que me aflige, sinto leveza e mais nada. Eu sei exatamente o que quero, mas não vejo meus desejos como estruturas, onde demonstro debilidade de aproximação a quem tenta entrar no meu mundo, apenas impero e, as vezes, desse modo, assusto os mais simples. Sou densa, sou enérgica, sou mística, sou libertina, mas não sou leviana. Esses sentimentos só agem dessa forma pois não encontraram terreno seguro para se expandirem, mas não há pressa, não desminto a vontade, mas ela surge com frequência semelhante às outras de origem mundana. Se acontecer, terá de ser belo e leve. Mas será isso impossível para uma personalidade tão venusiana quanto eu? Será que no amor não precisarei manter os pés no chão para me sentir segura? Tenho repulsa só de começar a ensaiar esses pensamentos, pois sufocam a minha ânsia por liberdade. Essa é a dualidade macabra que vivo nesses últimos tempos, ela tem sido proveitosa e bem usufruída, mas as vezes me traz dúvidas. Serão fugazes também?

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Dos lírios ao vento

Das vidas que vivi
Só sei que a felicidade encontrei
Embora, na fúria em que prezei por lazer,
Amadureceu em mim a necessidade do ser
E sentir, inebriadamente, alguma emoção

Resgatar o meu mais precioso íntimo
E desmembrá-lo perante os olhos famintos
Aqueles a quem me dirigi, que se sintam tocados
Não imaginava que as tragédias retornariam
Devastadoras

É importante frisar que não há amargor
Que me tire o sorriso, a alegria de estar vivo
Dos frutos que provei, gozei
Embora, confesso: já chorei
E orei e me perdi e enlouqueci
E do mais alto cume, despenquei
No solo, arenoso, rastejei e no pó me entendi
Sofri, senti dor, passei fome e gritei
Porque achei que fosse morrer
De amor...

No momento mais propício me vi morto
Duro e inerte, incrédulo de realidade
Acreditei que realmente tivesse morrido
E foi quando a escuridão penetrou-me as íris, à força
E senil me engatinhei e me socorri quando
O estômago roncou e deflagrou a necessidade humana
À selvageria retornei e, de vítima, me tornei caçador
E mesmo relutante à dor, me reergui
Nos cálices vazios implorei: mais uma dose, por favor

Rostos agradáveis encantaram-me a loucura
E me invadiram e irradiaram sem pedir licença
Meu coração voltou a bater e minha pele a corar
Meus pés se firmaram e suas bases fincaram-se ao concreto
Quem eram aqueles de olhos fundos e claros
Penetrantes e vagos?

Das vidas que vivi
Só sei que a liberdade encontrei e voei
Para bem alto e longe e afável calor
Embriagado silêncio ensurdecedor
Solitude foi me entregue além dos sentidos
Não mais temi, me salvei

terça-feira, 22 de julho de 2014

Os lobos das cidades grandes - Uma releitura de "Eles eram muitos cavalos"

Respiro um ar poluído que seca minha garganta e me rendeu duas idas ao médico no mesmo mês. Na minha casa falta água depois das 20 horas, mesmo antes da Copa. Quero silêncio, onde compra?
Trabalho feito louca, dependo da minha criatividade para sobreviver. Mas, às vezes, não encontro paz nem no meu interior. Deixo 140 e uns quebrados todo mês para financiar minha yoga, mas nem sempre vou e contabilizo dois meses para repor. Dinheiro ido, dinheiro que não volta. Minha fuga continua na noite, na presença dos queridos. Entretanto, necessito mais do que gargalhadas e cervejas geladas. Meu escape está no íntimo, onde o ímpeto é aquele momento onde se confunde afeto e sentimento, desejo e saudade. Quem pensa em mim enquanto o mundo acaba? O trânsito é rotina. O caos é brother. O morador de rua é paisagem. O que fizeram conosco? Que cilada é essa, Bino?
Temos a necessidade da posse, mesmo sabendo que não é viável. Mesmo sabendo que o tudo e o nada poderão nos pertencer. Nos achamos donos do mundo, da razão e que detemos o conhecimento. Nossos planos são vagos, nossos desejos são mundanos e nossas vontades são individualistas. Falamos de amor ao próximo com deboche, debatemos causa nas redes sociais, mas mal olhamos para aquele nosso parente que precisa de um emprego. Pagamos pau para gringo e celebridade e esquecemos que são pessoas como nós, que têm necessidades quanto nós. Idealizamos pessoas como se pudéssemos escolhê-las num catálogo - tá aí a serventia do tinder -, tratamos algumas com desprezo, depois ficamos tristes quando nos tratam de maneira semelhante. Sorte do dia: nosso orgulho não nos deixa abater por muito tempo, afinal, a variedade é grande e abraços são substituídos assim como aquela banana podre que estava na cesta de manhã e fora ocupada por uma belíssima e brilhante maçã. No entanto, a fruta poderia estar embolorada por dentro, já pensou nisso? A carcaça é interessante, prende por alguns anos, mas perde valor. E os macacos vão pulando de galho em galho, colhendo maçãs, bananas e até jacas mais sorridentes. As aparências dominam as escolhas, a lábia contagia e quem não entra no ritmo, dança. E, ansiosos, caminhamos rapidamente, corremos contra o tempo como se ele fosse capaz de nos engolir. Insaciáveis extrapolamos, nos vícios, nas mentiras, nos erros. Somos eternos aprendizes, meros charlatões. Somos loucos. Somos lobos.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Desejos

Apenas sinto uma enorme necessidade de fugir. Estou cansada dessa máscara, preciso ser eu mesma por completo. Quero a liberdade, e esse desejo me consome. Eles me sufocam, tiram minha vida, me deixam doente. Eu preciso respirar, eu preciso escapar e firmar meus pés no chão, sozinha. Eu quero a minha paz.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Um cenário: São Paulo. Um sentimento: São Paulo

Era um final de sábado, de tempo nublado e céu cinza. O primeiro encontro. Ela estava no fim do bacharelado em Economia e era a primeira da sala. Ele empurrava algum curso entre ECA e FFLCH, ou talvez psicologia, quem sabe. Ela fazia o estilo coxinha, mas tinha algum pé no Rock n' Roll, enquanto ele fazia a linha neo hippie, que ouvia Caetano e usava roupas confortáveis. Eles se conheceram na noite, se beijaram e "casaram". O interesse foi mútuo e, então, marcaram um café. Caminharam pela Avenida Paulista ao passo que comentavam sobre a beleza do sol que se punha no horizonte e penetrava, feroz e belissimamente, a paisagem arquitetônica. Ela sorria enquanto, delicadamente, colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha, para o deleite do moço que, sem parar, citava seus autores favoritos e usava metáforas para descrever as lembranças que tinham do dia em que se conheceram. "A luz do strobo que invadia os fios de cabelos dourados, enquanto ambos se derretiam ao som da soturna melodia, irradiava a sublime formosura da primeira troca de olhares. E os corpos, predestinados, se encontraram e a energia, que lhes era fecunda, atraiu à arrebatadora paixão". Eles gargalharam. 

Sentaram-se em algum café, a desejo dela, que pediu um cupcake e um cappuccino, e passou no cartão de débito o valor de 25 reais. Ele se resumiu a um expresso, pequeno. Conversa vai, conversa vem. Ele, que gosta de mencionar São Paulo com certo orgulho, perguntou à moça se ela havia nascido aqui e ela, de prontidão, respondeu: "Sim. Nascida e criada", como se oferecesse algum conforto ao questionador através de suas palavras. E ele, claro, recebeu a resposta de maneira positiva, assim como antecipou antes de lançar a questão. Eles sorriram um ao outro e passaram, cada um, a relatar sua infância, destacando a cidade como plano de fundo ou cenário principal. Ele a convidou para assistir o mais cômico filme do Woody Allen, que estava em cartaz no Reserva Cultural, mas ela teimou que o último do Lars Von Trier era mais interessante.  Entre as cenas, o tão esperado beijo sabor halls de cereja aconteceu, e ambos sentiram um arrepio na espinha dorsal que bem se sabe o que significa. Entretanto, a troca de olhares pareceu cada vez mais profunda e um segundo arrepio, dessa vez mais forte, provocou algo que se pode definir como os milésimos de segundos em que ocorre uma paixão.

Os pombinhos decidiram dar mais uma caminhada antes de partirem para o próximo programa. Já diziam os sábios que os apaixonados são os mais calados. Se não disseram, eu, a autora deste texto, digo agora. A partir desse momento, em que flerte, desejo e sentimento entram em jogo, a bola fica solta no meio de campo e marcar o gol requer um tanto de desenvoltura, se levar em conta que os apaixonados tanto ganham mais brilho nos olhos, quanto perdem a naturalidade de seus atos. E, então, silenciosos, porém, sorridentes, apreciaram a luz do luar entre as constantes trocas de saliva. No restaurante-bar, ambos começaram a reparar, inconscientemente, nas pessoas ao redor. Elas pareciam sérias, com seus cachecóis e blazers, quase não dialogavam com suas companhias, pois algo deveria ser muito mais interessante em seus smartphones. Tamanha era a frieza do ambiente, que precisaram se aproximar entre uma garfada e outra, para não perderem o calor que acabaram de descobrir. A comida não foi degustada, ensaiaram algum assunto de interesse que compartilhavam, mas o tiro saiu pela culatra. Comeram o que coube no estômago e saíram, pois seus corpos já estavam frios e o clima de inércia e apatia lhes estragara o apetite. Tentaram se aquecer ao andar abraçados, mas seus passos estavam em descompasso e a sintonia, que parecia evidente há duas horas antes, naquele momento, já dava ares de inexistência. Tropeçaram numa moradora de rua que lia Dostoiévski e se encolhia embaixo de algumas mantas, desculparam-se e lhe forneceram alguns trocados, próximo à casa da moça no bairro de Higienópolis. Deram alguns amassos, ineficazes. Ele então, sonolento e cabisbaixo, se apressou a pegar o último metrô e retornar ao pensionato próximo à faculdade.

Saíram mais algumas vezes, e, inevitavelmente, o que era doce transformou-se em um azedo lamento. Ela se formou e tentou buscar alguma emoção nesses aplicativos de encontros, mas não encontrou nem graça e decidiu partir para o intercâmbio de um ano na Austrália. Ele se jogou na noite o suficiente para lhe inspirar a escrever um ensaio, cujo nome era "A frieza da cidade", que lhe rendeu um prêmio pela veracidade de suas descrições.


quinta-feira, 5 de junho de 2014

                Toda mulher quer ser puta


toda-mulher-quer-ser-puta

Começo o texto pedindo perdão pelo título.
Aos mais céticos.
Aos mais reaças.
Aos mais hipócritas.

Toda mulher quer ser puta.

Desejada, na cama, por um homem. Chupar o saco.
Ser metida. Sentir o órgão alheio penetrando fundo, como se estourasse o útero.
Contar para as amigas que teve um sexo selvagem na noite anterior.
Falar que não apenas gozou, como teve orgasmos múltiplos.
Que é rainha na cama, deusa do sexo. Fazer fio-terra. Ficar assada.
Passar pomada. Sentir-se deliciosa. Cavalgar velozmente em busca do prazer.
Roçar o clitóris nos pelos púbicos do homem, que a observa. Cheio de tesão.
Receber proposta sincera. Marcar foda. Meter durante 24 horas. Sem parar.

Toda mulher quer ser puta.

Dar tapa na cara, gemer alto, engolir esperma. Fazer garganta profunda.
Experimentar outros membros. Sentir o gosto alheio. Sentir quente.
Ficar excitada sendo voyer. Entrar pra fuder. Fuder gostoso.
Tentar novas posições do kama sutra. Praticar sexo tântrico.
Receber massagem erótica. Usar acessórios. Dar beijo grego.
Ser chupada por outra mulher. Lamber mamilos. Levar puxão de cabelo.
Tomar tapa. Voltar com roxo para casa. Servir de escrava.

Toda mulher quer ser puta.

Ser chamada de gostosa. Ver o pau sempre duro e úmido. Receber encoxada nervosa.
Ouvir gemido. Arrepiar-se com suspiro no ouvido. Berrar até gozar, bem alto, ao além.
Sentir pele com pele. Energizar-se com o corpo alheio. Receber uma luz.
Entrar em transe. Rebolar freneticamente. Gozar no pau. Gozar na boca. Gozar.
Se excitar com pornô. Dominar. Mostrar quem manda. Levantar pau mole.
Ver o outro louco. Ser chamada de vadia. Ser jogada na cama.
Ser comida em qualquer canto. Receber piroca dura e grossa. No chão.
Na cozinha, em cima da pia. Tentar anal. Gostar do anal. Gozar com anal.

Toda mulher quer ser puta.

A maioria não assume. Não tenta. Por medo. Receio da sociedade. 
Receio do parceiro. Receio de si mesma. Medo de gostar da coisa. 
Medo de não conseguir parar. Receio de ser si mesma. Julgar. Negar. 
Odiar. Temer. Encontrar desculpas. Proferir ofensas. Não intensificar. 
Viver esperando a morte. Se entretendo. Sofrendo. Odiando. Lamentando. 
Mente para o espelho. Finge que odeia pinto. Odeia buceta.
Odeia a própria buceta. Trata como karma. Não dá carinho.
Seca com papel quando excita. Vive na agonia. Goza sozinha, em silêncio.

domingo, 1 de junho de 2014

Tanto quanto - A carta mais difícil de escrever

Sonic Youth - Kool Thing

Tem sido difícil não te desejar diariamente desde que te conheci. Desejar a sua presença, a sua companhia, o calor dos seus braços e as conversas que só com você consigo ter.
Tem sido cansativo continuar me divertindo com outros sendo que você pareceu zerar a vida e todos parecem tolos ao seu lado.
Eu tenho procurado levar a minha vida com leveza e te agradeço imensamente por ter me mostrado esse caminho. Mas, às vezes, tenho a impressão de que meu esforço em praticar o desapego tem sido em vão, porque o que eu queria era estar contigo.
Sempre digo que se apaixonar é apenas o início para uma jornada de sofrimento. E então eu tenho tentado levar esse platonismo com bom humor e encará-lo sem todo o peso de uma paixão.
Confesso que nem ao certo sei se o que sinto é paixão. Talvez não seja nem emoção. Talvez só seja o desejo de estar com alguém de alma parecida. Como se só naquele quarto eu pudesse ser compreendida.
Percebeu em quantos "talvez" existem nesse texto? E percebeu também quanto tempo eu tenho tentado escrever ou ao menos me expressar sobre você e só agora consegui e mesmo assim as palavras parecem sair engasgadas? Isso se chama cuidado, não confusão, e é uma das coisas que aprendi com você.
Sinto que somos íntimos de alguma forma. Sinto que somos cúmplices de uma vida que nos une tanto quanto nos separa.
Eu não quero ser sua namorada. Não quero ser a mulher que irá passar a sua roupa de marca. Eu apenas queria que o mundo conspirasse mais vezes para o nosso encontro. Para sentir novamente o tempo parar e notar todos os focos de luz sobre você e suas palavras, seu olhar...
É uma questão de pele, de química, de intelecto, de cumplicidade e compatibilidade.
Eu não queria te ter. Eu não queria te aprisionar. Eu não queria andar para sempre de mãos dadas com você. Eu não queria falar com você todos os dias e te ouvir reclamar sobre sua rotina. Até porque, eu percebi que, realmente, tanto com você, quanto com os outros, uma comunicação maior é inviável nesse momento. Mas com você não rolaria uma excessão? É provável. Você tem esse poder sobre mim e acho que você tem ciência disso.

Por que eu pareço, segundo os próprios, alguém super bem resolvida e interessante, e com você eu me vejo apenas como uma garota perdida que não sabe nada sobre a vida?

Aqui, dedico uma canção de uma das minhas bandas favoritas, Sonic Youth, Kool Thing. Porque a ligação que mais nos une é a música. Poderia dedicar inúmeras músicas, de dezenas de bandas preferidas, e encontraria milhares de letras que representassem um pouco de meu sentimento por você, afinal, tudo lembra você, inclusive as músicas francesas que eu não entendo a letra, mas a sonoridade é bela. Também dedico uma homenagem da minha admiração e meu respeito, tanto para as suas verdades metafóricas quanto para as cruas, e para as suas tentativas de mistificar um charme que você sabe que tem e não deveria se esforçar para transparecê-lo. Além disso, deixo também a minha sinceridade em revelar a minha pretensão praticamente leviana em escrever sobre você de forma tão resumida, excluindo seus atributos físicos, espirituais e emocionais que tanto me atraem, e sabendo que eu terei que ler e reescrever inúmeras vezes esse texto e nunca vou achar que será bom o suficiente para descrevê-lo. Eu apenas sei que não há certeza de que ele continuará a ter novos parágrafos, mas que os que puderem surgir devido ao que vier à mente, mesmo que em oposição à realidade, já serão de bom grado porque isso só mostra o quanto de bem você tem me feito, ao seu modo.

Eu sou louca e estranha - Uma carta de despedida ao menino de topete


Não querido, não te encontrei hoje porque estou disposta a satisfazer os seus desejos.
Um dos trechos da minha canção favorita do Sonic Youth diz I'll be your slave, mas isso não quer dizer que você tem esse poder sobre mim.
Não estou aqui para suprir as suas carências afetivas e nem passar a mão sobre os seus encaracolados fios de cabelo enquanto você chora e reclama das frustrações do seu dia.
Não vou ser a garota perfeita que você sonha em apresentar para a sua mãe. Muito menos aquela que irá preparar as suas refeições e lavar as suas cuecas sujas em algum futuro próximo.
Seu topete perdeu o charme no momento que você passou a criar uma imagem de mim que não é real. E você deve ter se frustrado inúmeras vezes ao perceber que, naturalmente, eu não tenho qualquer tendência em superar essas suas expectativas.
Quando te contei sensações íntimas e você me chamou de "louca" e "estranha", eu só pude perceber o quanto não temos muito para compartilhar.
Você tem noção de que está apaixonado por alguém que não existe? E que você deixou de agir naturalmente quando percebeu que, por ventura (e sorte do destino), eu poderia ser a mulher da sua vida?
Eu achei que você fosse leve. Eu aprendi a apreciar a leveza na vida e, principalmente, nas pessoas. E pode ter certeza de que são as leves que eu tenho escolhido para fazer parte dessa minha jornada.
Mas você é ingênuo. Você é um espectador. E na mesa daquele bar, quando você parecia se divertir com o que eu falava, eu me senti num monólogo, em que eu só estava ali, sendo paga (só que não), para lhe entreter. E quando eu me imagino sendo a protagonista da minha vida, não é com essa metáfora que eu quero descrever um ótimo encontro.
Quando você tentava se aproximar de qualquer maneira por não conseguir conquistar minha mão para acompanhá-lo durante toda nossa caminhada naquele dia, você me sufocou em seus braços, quando os colocou sobre os meus ombros sem perceber que nossos passos estavam em descompasso.
Sua falta de compatibilidade e compreensão com a pessoa que sou e demonstro ser é o que me fez perder o interesse na pessoa que você é e demonstra ser.
Sua ansiedade muda me esgotou. Seu olhar de desespero me espantou. Suas meias-palavras ao se referir sobre mim só demonstraram que você pensa que sabe algo, mas, sinto lhe informar, você não sabe de nada, inocente!
Você não me deixou pesada, obrigada, mas imagino que se continuarmos nessa dança - em que só você está disposto a estender a mão para uma parceira (o que eu acredito que qualquer uma sirva) - sem ritmo, nem balanço, muito menos sintonia, você poderá me tornar muito pesada, de culpa, porque é provável que eu vou lhe decepcionar.
Na verdade, você só me deixou entediada. E eu preciso de muito mais para sentir prazer em estar com alguém. Mas não se engane, não acho que você deveria ser alguém super articulado e cheio de assunto, só acho que lhe falta tato para ser alguém que me prenda a atenção.
E isso é algo que simplesmente acontece e naturalmente. Não sou a mulher que você procura e nem desejo ser.
Eu sou a Angélica, louca e estranha. Eu não estou aqui para ser a salvação da sua solidão. Eu estou aqui para ser louca e estranha do meu jeito, ao meu modo e no momento e como/com quem me fizer sentido.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Uma carta sobre a superestimada perfeição

Esses dias me disseram: "você é perfeita". Respondi, prontamente: "Não sou perfeita e, na verdade, eu não desejo ser". A perfeição é uma ilusão. Nada nessa vida é perfeito, nem as coisas, nem as pessoas, nem a natureza...

Eu não estou aqui, buscando a perfeição. Aliás, o que é perfeito? Acho que a perfeição possui significados extremamente subjetivos. E não, acredite, não estou afim de filosofar sobre isso. Não me sinto nenhum um pouco na obrigação de citar Rousseau ou Freud. Até porque, não faria sentido essa tal busca se fosse para acabar na ruína após o êxito, ou, como mencionei: encontrar a equivocada perfeição.

Não estaria dedicando o meu restante de vida à procura de equilíbrio se, ao mesmo tempo, apenas desejasse corpos perfeitos. Eu preciso de mais, muito mais e, no mesmo sentido, não quero comprometer minha alma em relacionamentos vazios, conversas sem fundamento e companhias que não me agregam nada de bom. Quero diálogo, quero corpos quentes, quero música boa, quero sensações únicas. Quero viver.

Não estou aqui, nessa vida, para suprir as carências afetivas de ninguém. Não quero superar expectativas de ninguém. Não desejo completar ninguém. Não sou a solução da solidão de ninguém. Não quero ser "perfeita" - independente do embasamento para essa constatação - para ninguém. E que fique claro, de uma vez por todas:

- Eu sou a protagonista da minha vida. Eu quero viver ao meu modo e sim, mesmo que você não tenha perguntado, eu estou feliz, muito feliz assim. E não preciso ser "perfeita" para isso. Muito obrigada.


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Para dizer que não falei das flores - Uma ode à vida e morte dos sentimentos que parecem eternos

Acho que nasci numa sociedade moderna demais para gostar das flores. Talvez seja uma herança dos meus pais, eles gostam das flores. Aliás, eles vão mais além: gostam de plantar as sementinhas, regar a terra todos os dias e, quando os primeiros botões surgem, já é um motivo de alegria. Eu apenas gosto de observá-las. Não por muito tempo, beirando o autismo, mas por algum presságio, enquanto dura algum sentimento.

Eu gosto das flores. Eu gosto das cores. Eu gosto dos odores que elas exalam. Cada uma de uma forma particular. Algumas são mais perfumadas, outras só cheiram a mato e raiz. E cada uma tem seu tempo de vida, de cor e aroma. Cada uma tem sua beleza. Assim como as pessoas, ou algumas delas. 

Essa sociedade que cito no começo do texto é a mesma que deseja uma bateria eterna para seus smartphones, que aprecia a vaidade da posse. Não é possível possuir uma flor, assim como não é possível possuir o que não se pode ter. Essa sociedade que preza pelos adornos ora inquebráveis, ora descartáveis, é a mesma que se ilude com a premissa de amor eterno e sofre, calada, com a falta de aconchego, com a carência crônica. A mesma que sobrevive em meio ao concreto extenso e não vê árvores da janela de seus apartamentos.

Mas quem sou eu para criticar? Logo eu, tão insensata e impulsiva? Logo eu, que já fiz promessas de amor eterno e, acreditei, por alguns momentos, que só se amava uma vez na vida?

Pois é. Foi o que meu ex passou a acreditar depois de pouco mais de um mês longe. Que só se ama uma vez na vida. Ledo engano, eu diria.

Não se ama só uma vez na vida. Amor não é esse sentimento superestimado e inalcançável que as pessoas tanto insistem em desacreditar ou acreditar demasiadamente. É possível se amar quantas vezes tiver que acontecer, e só é verdadeiro e bom quando as duas pessoas estiverem dispostas a isso. A vida não é como nos livros ou filmes. A vida é o agora, e o presente momento é onde é possível sim, amar e ser amado uma, duas ou duzentas vezes.

É preciso viver para entender, mas não é preciso sofrer para saber o que não é bom para você. Parafraseio Criolo, parafraseio Geraldo Vandré, parafraseio Vinícius e Chico, parafraseio o eu que não cala, o eu que precisa falar. As flores que ele me deu murcharam e sim, tiveram prazo de vida, assim como tudo ao nosso redor, assim como o amor que senti por ele.

E que venham novas cores, aromas e amores. Novas experiências, amizades e lugares. Novos gostos, cheiros e abraços. E que tudo na vida seja como flores: eternas enquanto durem. 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Que delícia é...

Que delícia é sentir-se livre, leve e solta. Não digo isso pela solteirice, mas pelo desprendimento do que nos fez mal. Chegar em casa, abrir uma lata de cerveja, dar risada de qualquer merda e tomar aquele banho delicioso que você ansiou o dia todo.

Que delícia é sentir aquela brisa gostosa de fim da tarde batendo no rosto, depois de um longo expdiente, sabendo que suas obrigações naquele dia acabaram.

Que delícia é sentir-se desapegada de questões materiais, de lembranças vergonhosas e de sentimentos banais. Sentir-se livre de todo mal, como se você fosse um super herói ou um deus grego, forte e inabalável.

Que delícia é conhecer novas cores, novos sabores, sons e sensações. E mais delícia ainda é saber que ainda tem muito por vir e que a sua ânsia pelo novo não atrapalha o valor que você dá para o que tem agora.

Que delícia é saber que você pode ser quem você quiser e não precisa se importar com os julgamentos, porque você está suficientemente estável para superá-los, ou não escutá-los.

Que delícia é entender que a vida passa devagar, mas que ela é comum e só é bela se você deixar, se você quiser.

Que delícia é saber que o que foi ruim passou e não ocupa mais espaço algum dentro de você e ter noção do quanto isso te fez evoluir emocionalmente.

Que delícia é não ter planos concretos de longo prazo, nem para amanhã e mesmo assim não estar incomodado com a incerteza.

Que delícia é aproveitar cada dia como único, como intangível, mas ao mesmo tempo maleável, porque você faz dele o que quiser, de acordo com o que acontecer. É saber que você tem opções, basta seguir as que fizerem mais sentido.

Que delícia é não sentir sua alma comprometida e aprisionada. Ser livre, assim como veio ao mundo.

Que delícia é viver. Que delícia!

Leveza - Uma crônica sobre como o incerto e a paciência podem nos tornar mais leves

The Kills - Last Day of Magic

A pressa de viver sempre fez de mim uma pessoa descuidada, vaidosa, impulsiva e imprevisível. Sempre me entediou tudo que parecesse morno: beijos sem paixão, abraços sem calor, conversas sem gargalhadas, sorrisos forçados, sexo sem gosto, sem gozo, e assim por diante. E parece que a vida assim, inconstante, é mais interessante. Parece que assim você vive intensamente. Parece, apenas parece. No entanto, viver sob à corda bamba, por mais fascinante que pareça, não funciona na prática. Pelo menos, não para uma pessoa como eu estava acostumada a ser.

A ânsia nos faz apressar os fatos e estragar o que nem se iniciou. Hoje eu sei o que as pessoas impulsivas procuram: estabilidade. Viver o incerto é perigoso e, se arriscar, cansa. Porque dá trabalho, porque na verdade o que eu desejava era estar tranquila com algo nas mãos, pois a incerteza me confunde, me deixa louca. E, nessa loucura, a perda da sanidade e o descontrole caminham juntos. E, é nesse instante que se torna muito fácil confundir desejo com ansiedade.

Meu lema sempre foi me jogar de cabeça em tudo. E a vontade de vivenciar qualquer coisa logo era o que supria a minha determinação em continuar fazendo tal coisa. Mas certas coisas perdem o sentido com o tempo, com o que acontece ao redor, com a aproximação de outras pessoas e com o próprio desejo, que muda.

No entanto, hoje, eu aprendo. E levo comigo lições que, antes, eu não achava que importassem. Hoje eu procuro a calma em vez da posse. E a única estabilidade que venho conquistando é a emocional. Essa é a diferença entre querer muito algo e fazer de tudo para que aconteça logo, para assim sentir-se estabilizado temporariamente, até que outra vontade surja e todo círculo vicioso se reinicia. É um vício eterno.

E quando eu iria aprender a lidar com todas essas emoções, desejos e aflições? Quando eu aprendesse que nada na vida vem fácil, ao menos, o que realmente vale a pena. Não é preciso apressar o que pode acontecer e, sim, é possível aprender muito com tudo isso.

Vou mais além e volto a repetir que viver o incerto pode sim ser gostoso, contanto que você viva e não permaneça estático. É possível viver intensamente e ter cuidado, até porque, o cuidado te fará viver melhor depois e tão leve quanto uma pena que vaga pelos ares, sem rumo, sem planos. É difícil esperar? Sim, mas é necessário e, com o tempo, essa "espera" se torna prazerosa. 


Osho:
"Não tente achar um atalho, porque não há atalhos. O mundo é uma luta, é árduo, é uma tarefa penosa, mas é assim que a pessoa chega ao pico."

"Uma vez que você abandone as expectativas, você aprendeu a viver."

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Entre afasias e heresias - Uma crônica sobre a falha humana de insistir na sobrevivência

Amarga é a vida daqueles que se acomodam em afagos gelados e sem sentido. Daqueles que convivem com dilemas pessoais e não conseguem determinar uma decisão, ou uma razão. Daqueles que estão presos aos sentimentos do passado e não encontram caminhos em direção ao ensolarado horizonte. Daqueles que vagam pelas ruas vazias da solidão em busca de corpos apenas para satisfazerem suas necessidades - que são mais vazias que suas almas. Daqueles que vivem em confusão, a todo momento, e já não compreendem o prazer impagável da brisa do vento, batendo no rosto num fim de tarde ou a satisfação de receber um sorriso verdadeiro e contagiante ao acaso.

Que necessidade é essa de se prender a feitos, que apenas resistem (leia-se: insistem) por meio de um rótulo ou determinada regra e, que há muito tempo, foram desfeitos? Que morreram a partir da primeira mentira contada, da primeira mágoa, da primeira decepção. E perderam o sentido quando o próprio sentimento se calou. E vagou.

E qual seria o ponto de equilíbrio ideal para viver substancialmente bem consigo mesmo? O que é preciso para se sentir completo?

"É preciso coragem", é o que ouvi e li de algumas bocas fundamentalmente sábias e em persuasivos textos de auto-ajuda. E sim, talvez uma dose de bravura seja crucial para abandonar o que é visto como "certo" e prosseguir para o incerto. E, talvez isso funcione, sabe? Basta não se levar tão a sério, encarar o que vier com leveza e, caso o coração acelere e a ansiedade queira sair pela garganta, vá a um quarto escuro ou num campo aberto e grite. Extravase todas as dores e chore desgovernadamente se houver necessidade, mas quando decidir que é a hora de voltar, retorne lindamente e com a cabeça erguida, nem virada para o céu, nem para o chão, mas na altura dos olhos alheios. E olhe nos olhos, cumprimente o porteiro, o faxineiro, o zelador, aperte as mãos de outrem com firmeza, abrace com vontade e prossiga serenamente como se pudesse flutuar.

E a vida segue assim. Irrefutável, imprevisível e, ainda bem, interessante. Não como uma roleta russa, não como uma sequência de devaneios e atos impensados, ou um mártir de longos arrependimentos.

Apenas pense: amanhã pode ser o último dia. Então, vamos viver?

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Cheiros

Os copos estão vazios. Não porque secaram, mas porque daquela última garrafa de rum, não sobrara uma gota. E o cheiro amargo das bitucas de cigarro impregnava no ar, nas roupas e nos fios de cabelos. Nos lençóis e nas toalhas, ainda molhadas do banho de uma hora atrás. E os corpos, nus, entrelaçados, adormeciam, enquanto expiravam e inalavam ambos os odores.

Para F.

domingo, 16 de março de 2014

Uma crônica sobre um amor idealizado demais

Hoje me lembrei daquele nosso primeiro encontro, e da nossa primeira troca de olhares. É impossível pensar naquele dia e não me faltar o ar, esquecer que aquele foi o primeiro passo da nossa história. Eu me perguntei se eu tivesse feito diferente naquele dia, se eu tivesse te dito um "não" àquela sua tão simples, mas significativa, pergunta: "Vamos ficar sério?". Eu me entreguei ali, naquele momento. Eu hesitei, mas logo disse um "sim" que afagou toda a sua insegurança de estar conhecendo uma pessoa nova e saber que ela estava disposta a ser sua. Se eu tivesse imposto o que eu queria num relacionamento, logo no início, teria mudado o decorrer da nossa triste história? Será que se eu tivesse optado por estabelecer o que eu precisaria, as coisas não teriam sido mais leves? Daí caberia a você decidir ou não, se iria conseguir ir conquistando sua confiança em mim e minha exclusividade aos poucos. Mas eu deixei você me arrastar, e fui sendo arrastada durante esses sete meses.

Me pergunto também se não teria sido diferente se eu tivesse agido diferente a cada recomeço. E se a cada recomeço tivéssemos realmente recomeçado e deixado o passado de lado, será que não teríamos poupado tanta dor? Será que não estaríamos bem hoje? Será que se confiássemos mais um no outro e fossemos mais seguros teríamos nos destruído tanto a ponto de nem sabermos como seria se voltássemos hoje? Será que se tivéssemos realmente aberto mão de nossos próprios egoismos não teríamos um relacionamento tranquilo, assim como sempre desejamos?

Tantas perguntas, tantos arrependimentos e tantas decepções são o que ainda me prendem a você. São o que ainda me fazem pensar em você todos os dias, e soltar algumas lágrimas todas as vezes que deito a cabeça no travesseiro. Eu sinto sua falta, e sinto falta das coisas boas que te represento. Sinto perfumes estranhos em corpos que passam por mim nas ruas, e toda vez lamento por não ser seu cheiro. Cruzo com olhares e lamento por não ser os seus olhos. Ouço vozes e lamento por não ser aquela voz grave que eu tava tão acostumada. Recebo mensagens e ligações e lamento por não ser você me pedindo uma última chance.

Você ainda está dentro de mim, por mais que eu negue, por mais que eu relute. Esse é meu período de luto. Eu não sei se logo essas perguntas, esses arrependimentos e essas decepções irão morrer aos poucos, mas eu sei que quando disse que te amava, era verdade. Não porque eu não consigo te esquecer, mas porque eu sei que o que eu vivi foi real. Eu não posso dizer que só você errou, mas eu sei que você não soube me amar, e que se voltássemos agora, jamais daria certo. Não deu, e não daria.

Eu não sei como serão meus dias daqui para frente, mas eu sei que terei que continuar sendo forte, e essa minha dor será meu combustível para não falhar durante esse longo percurso. Não vou forçar te esquecer, não vou praticar desapego, não vou me torturar me jogando em braços alheios. Vou voltar a ser a Angélica que deixei de ser por você, assim como eu acredito que você vai voltar a ser o Ton que você deixou de ser por mim. Talvez se tivéssemos deixado claro, desde o início, quem somos um ao outro, nós poderíamos ter confiado mais um no outro.

Eu falhei, você falhou, nós falhamos. E não nada que poderá ser feito para mudar isso. Só o tempo e as mudanças que virão com ele. Aqui, eu estou te deixando livre para voar e ser quem você deseja ser. E que você seja feliz, quem quer que você seja.


domingo, 19 de janeiro de 2014

O mal que você me fez - Uma crônica sobre recuperar o amor... Próprio.

Enquanto começo a rascunhar as primeiras palavras deste texto, olho para cima, na estante, o vaso com as rosas que você me deu - uma tentativa de me surpreender, após a quarta ou quinta vez que terminei com você - que murcharam há alguns dias, mas não tive coragem de tirá-las dali. Fiz um cálculo rápido e acredito que tenha terminado pelo menos, umas quatro vezes com você, só nessas três últimas semanas.

Todos estes términos só me machucaram mais, porque de uma forma eu queria te fazer pensar: "Olha, você está fazendo errado, você está a ponto de me perder para sempre, vê se acorda!". Até que eu vi que não vale mais a pena sofrer e esperar pelo impossível.

Algo que há mais de cinco meses venho negando para mim mesma e que agora eu finalmente consegui entender: você não vai mudar. Assim como não vai amadurecer, não vai aprender, não compreender, não vai saber valorizar, não vai se preocupar, não vai se importar, não se transformar porque eu quero. Você é assim, meu Deus, por que demorei tanto tempo para enxergar algo que estava diante dos meus olhos?

E eu sei qual é a resposta para essa questão. Eu queria acreditar que você poderia fazer diferente, tanto que você, inúmeras vezes, tentou me fazer crer nisso, sendo que nem você mesmo acredita. Você sabe que é assim, que não vai mudar por si mesmo, muito menos por mim. E, afinal, quem sou eu para te julgar? Quem sou eu para apontar o certo ou o errado sendo que você acha que age corretamente, mesmo assumindo o contrário para mim?

Não sou ninguém. Sou apenas alguém que queria ser feliz, e achava que estava felicidade estava ao seu lado. Mas depois de tanta infelicidade, depois de muitos momentos ruins sendo mais frequentes do que os bons. Agora está na hora de acordar, Angélica.

Está na hora de estender a bandeira. Está na hora de parar de se enganar e virar uma nova página da vida. Uma página em branco que vou ter que me reinventar para começar a escrever sozinha.

Foi preciso coragem para admitir. Certamente, não estou pronta para seguir em frente, mas eu vou estar, eu preciso estar. Pelo meu próprio bem, pelo meu próprio amor.

Você me criou traumas terríveis, mas eu vou me livrar deles. Você mentiu tanto e eu me acomodei nesse mundo de mentiras, que deixei, por muitas vezes, de acreditar em mim mesma. E não existe erro pior para se cometer consigo mesmo.

Eu te amei de verdade e ainda te amo. Mas por tantos erros que você cometeu, seja por burrice, por egoísmo, por falta de atenção, ou falta de respeito, por imaturidade e falta de responsabilidade, eu tive que me desdobrar para conseguir te amar, e passei a deixar de me amar. Porque se eu me amasse de verdade, não teria aceitado tantos erros, tantas mancadas, tantas mentiras.

Você já imaginou o quanto tive que engolir a seco cada história mal contada sua? Quantas noites perdi em claro (e não te contei) por não encontrar resposta ou motivo para aquela mentira sua que nem você soube explicar? E quantas mentiras tive que contar para quem me ama e se preocupa comigo para encobrir os seus erros? Você não sabe e, agora eu acredito, não se importa.

Você consegue entender o quanto me esgota, me enfraquece, o quanto parte de mim morre, quando você me sofrer? Você já se colocou no meu lugar em cada situação você já me fez passar? Você já percebeu que você se tornou o motivo do meu maior sofrimento? Ora acreditar que pode dar certo, ora perceber que está tudo errado, sofrer e, de repente, voltar a acreditar? Que meu emocional se tornou um ciclo vicioso, que vive em constante vai-e-vem frenético de dor versus felicidade instantânea? Será que tudo o que me faz sentir não te faz refletir nenhum pouquinho?

E não é apenas refletir, não é apenas entender. É se mover, criar uma estrutura sólida de confiança e uma barreira resistente ao que vem de fora com olhos gordos. Você deixou inúmeras pessoas (mulheres) entrarem no meio do nosso relacionamento. Isso só comprova que nossas bases sempre foram fracas, porque seus alicerces sempre trepidaram enquanto os meus se mantiveram firmes. Isso só comprova que você nunca esteve totalmente certo do que queria. Isso só comprova que você não merece o puro e verdadeiro amor que eu te ofereci com tanta vontade e carinho.

Você pisou no meu amor. Não se importou com meus sentimentos. Não se importou com meus sonhos ao seu lado, ou com as promessas que me fez. Não se importou em fazer valer cada palavra dita no momento oportuno. Não se importou em amar de verdade, sem amarras, sem cobranças, sem terceiros, sem egoísmo, sem obrigações.

Nosso amor foi vândalo. Foi destrutivo. Foi doentio. Foi perigoso. Foi praticamente um amor bandido. Sendo que, eu sempre desejei um amor leve. Desses que estar ao lado da pessoa só nos torna mais fortes. Desses que é possível confiar no outro, mesmo que ele esteja a quilômetros de distância e sem sinal no celular há uma semana. Desses que só de sentir saudade já bate um conforto no peito, uma vontade simples e única de que o tempo congelasse enquanto nossos olhares se fixavam um no outro. Desses que os momentos bons são muito mais frequentes que os ruins, e as brigas rapidamente são resolvidas na base da conversa. Desses que se entregar tem o significado literal, sem mentiras, sem meias-verdades, sem jogos, sem histórias mal contadas ou discussões de arrancar sangue e deixar roxo no meio da rua.

Não posso tornar você uma idealização, nem te perder para um sonho impossível. Mas posso ser sincera comigo mesma e acreditar que posso sim ser feliz sem sofrer. Que posso passar muito mais tempo alegre do que chorando. Que posso confiar em mim mesma e que absolutamente nada pode acabar com a minha auto-estima. Porque meu amor-próprio vai ser tão forte e pleno que nada poderá atingi-lo, nem você e seus erros.

Quero que saiba que eu te amei de verdade, e ainda te amo. Que eu tentei de todas as formas possíveis confiar em você, e a desconfiança deixou de ser um defeito meu e pode ser aplicado a você, que não se importa em demonstrar que é confiável. Que eu realmente tinha planos e eles poderiam estar perto de acontecer, mas cada erro seu foi me fazendo desacreditar em cada um deles. E que eu tentei realmente, ficar bem com você, mas cada vez eu acredito mais que não dá, porque é isso o que você me deixa claro.

Espero que você aprenda, se torne alguém melhor. Que amadureça, que entenda que as pessoas não existem para beijarem nossos pés e que nossos erros não se consertaram apenas por vontade própria, mas com perseverança e vontade. E que para ser alguém confiável, você deve ser forte e lutar, fazer valer cada voto de confiança. E que, realmente, você perdeu a pessoa que mais te amou e mais quis seu bem. Vou deixar você ir e eu espero que seja feliz.