domingo, 16 de março de 2014

Uma crônica sobre um amor idealizado demais

Hoje me lembrei daquele nosso primeiro encontro, e da nossa primeira troca de olhares. É impossível pensar naquele dia e não me faltar o ar, esquecer que aquele foi o primeiro passo da nossa história. Eu me perguntei se eu tivesse feito diferente naquele dia, se eu tivesse te dito um "não" àquela sua tão simples, mas significativa, pergunta: "Vamos ficar sério?". Eu me entreguei ali, naquele momento. Eu hesitei, mas logo disse um "sim" que afagou toda a sua insegurança de estar conhecendo uma pessoa nova e saber que ela estava disposta a ser sua. Se eu tivesse imposto o que eu queria num relacionamento, logo no início, teria mudado o decorrer da nossa triste história? Será que se eu tivesse optado por estabelecer o que eu precisaria, as coisas não teriam sido mais leves? Daí caberia a você decidir ou não, se iria conseguir ir conquistando sua confiança em mim e minha exclusividade aos poucos. Mas eu deixei você me arrastar, e fui sendo arrastada durante esses sete meses.

Me pergunto também se não teria sido diferente se eu tivesse agido diferente a cada recomeço. E se a cada recomeço tivéssemos realmente recomeçado e deixado o passado de lado, será que não teríamos poupado tanta dor? Será que não estaríamos bem hoje? Será que se confiássemos mais um no outro e fossemos mais seguros teríamos nos destruído tanto a ponto de nem sabermos como seria se voltássemos hoje? Será que se tivéssemos realmente aberto mão de nossos próprios egoismos não teríamos um relacionamento tranquilo, assim como sempre desejamos?

Tantas perguntas, tantos arrependimentos e tantas decepções são o que ainda me prendem a você. São o que ainda me fazem pensar em você todos os dias, e soltar algumas lágrimas todas as vezes que deito a cabeça no travesseiro. Eu sinto sua falta, e sinto falta das coisas boas que te represento. Sinto perfumes estranhos em corpos que passam por mim nas ruas, e toda vez lamento por não ser seu cheiro. Cruzo com olhares e lamento por não ser os seus olhos. Ouço vozes e lamento por não ser aquela voz grave que eu tava tão acostumada. Recebo mensagens e ligações e lamento por não ser você me pedindo uma última chance.

Você ainda está dentro de mim, por mais que eu negue, por mais que eu relute. Esse é meu período de luto. Eu não sei se logo essas perguntas, esses arrependimentos e essas decepções irão morrer aos poucos, mas eu sei que quando disse que te amava, era verdade. Não porque eu não consigo te esquecer, mas porque eu sei que o que eu vivi foi real. Eu não posso dizer que só você errou, mas eu sei que você não soube me amar, e que se voltássemos agora, jamais daria certo. Não deu, e não daria.

Eu não sei como serão meus dias daqui para frente, mas eu sei que terei que continuar sendo forte, e essa minha dor será meu combustível para não falhar durante esse longo percurso. Não vou forçar te esquecer, não vou praticar desapego, não vou me torturar me jogando em braços alheios. Vou voltar a ser a Angélica que deixei de ser por você, assim como eu acredito que você vai voltar a ser o Ton que você deixou de ser por mim. Talvez se tivéssemos deixado claro, desde o início, quem somos um ao outro, nós poderíamos ter confiado mais um no outro.

Eu falhei, você falhou, nós falhamos. E não nada que poderá ser feito para mudar isso. Só o tempo e as mudanças que virão com ele. Aqui, eu estou te deixando livre para voar e ser quem você deseja ser. E que você seja feliz, quem quer que você seja.