quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A pena

Sigo delirando na vida que é me imposta e reluto em aceitá-la nos seus termos mais conformistas. Quero um mundo mais honesto, nem que eu não possa usufrui-lo enquanto viva, mas que fique de herança da minha breve estadia. Arrogância travestida de altruísmo? Ou uma revolta tão forte (e necessária) que se não for pensando nas próximas gerações melhor não fazer? Essa luta é minha. Deveria ser de todos. Mas é compreensível a desmotivação de cada pessoa. Sigo flutuando porque ainda sou crua em algumas questões, mas das dores, já sou calejada, e isso não significa que doa menos. A questão é que não surpreende mais. Ele diria que é autossabotagem, eu chamo de autocuidado e de percepção deveras aguçada, que beira à enfermidade. Queria uma relação sincera que o machismo passasse longe, mas isso é idealizar demais e o amor não se sustenta assim. Nada nessa sociedade está inerente ao machismo. Me dói porque me faz perceber que continuo falhando. E errando eu sigo me confundindo, me desesperando, me atordoando e me perdendo. Às vezes sinto que não mereço ser amada, não posso culpar a sociedade por me fazer sentir assim, mas também não posso culpar a mim mesma. Só queria um relacionamento que eu pudesse me despir completamente, e eu encontrei, só não sei como me cobrir. Queria me sentir coberta de plumas que de tão macias eu me sentisse acolhida e quentinha, pois estou cansada de flutuar.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Desmotivação

O título me acompanha como um sobrenome. É o terceiro lugar que eu trabalho este ano e não consigo mais me enxergar motivada. Passam-se alguns meses, semanas, dias, e eu já tô querendo pedir arrêgo. Escrevo este parágrafo duvindo de mim mesma. Porque a vida toda ouvi que a gente tinha que valorizar o nosso trabalho, que uma atitude dessas (chegar atrasada, faltar, o contrário da proatividade) é coisa de gente que não precisa do emprego, principalmente da minha mãe, que depois que virou patroa esqueceu-se como é ser funcionária. Aliás, ela acha que é assim que deve ser, que a gente não pode ficar insatisfeito e buscar por oportunidades melhores, que não pode brigar por melhores condições de trabalho etc. Ela tem mudado o pensamento, mas ainda não entende porque pulo tanto de emprego em emprego. Eu tenho vários motivos - que cansei de explicar. A terapeuta disse que eu me afeto muito com o ambiente e pessoas. Verdade. Eu as odeio. Tá, foi exagero. Tem gente legal e gente cuzona em qualquer lugar. Depender de pessoas, especialmente no ambiente de trabalho, pra encontrar a própria satisfação nunca é um bom caminho. E é essa a minha questão. Eu amava a content e as pessoas, mas estava infeliz no trabalho. Eu odiava a mestiça porque o ambiente era um lixo e não gostava nenhum pouco do meu trabalho. Neste lugar, eu amei o dinheiro, mas não tenho mais paciência e nem alma pra vender pra fazer qualquer esforço em me enturmar pra continuar lá. Por: dinheiro. Não aguento mais buscar por: dinheiro. Já me fodi tanto com a falta dele e com o desemprego que talvez eu devesse agir conforme minha mãe e o Temer acham: não pense, trabalhe. Acontece que então nem tenho como começar porque meu trabalho envolve totalmente o pensar. Se não estou bem, não trabalho bem. Porque toda aquela lavagem cerebral que passei em achar algo positivo na propaganda morreu. Tô quase virando militante anti-publicidade de tanto argumento que encontrei. Vou fazer uma anti-campanha. Criar uma estratégia do caos. Fazer um brainstorm pra chegar na melhor ideia de desordem e algumas peças de anarquismo pra derrubar esse governo golpista e saquear a casa e as contas de quem tem mais de 2 milhões de propriedade e renda líquida. Tudo isso de forma conceitual, o slogan até pode ser: "Distribua seus bens ou renda-se". E o posicionamento: "O poder é nosso". Ah, isso seria um prazer, rs. Sonho de princesa, aliás, de pebleia.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Abuso

No primeiro ano da faculdade, minha referência de jornalista era o Caco Barcellos, autor de dois dos meus livros de investigação jornalística favoritos: O Abusado e Rota 66. O primeiro traz um relato em primeira mão (trabalho de campo), de consistência imparcial - ainda que moderada por própria dificuldade do impacto que a linguagem pode causar - sobre a trajetória do Marcinho VP, líder do Comando Vermelho, da sua ascensão à sua queda, com entrevistas com pessoas próximas, familiares, policiais exonerados etc, tudo numa narrativa concisa e coerente aos fatos. É um livro de mais de 500 páginas que consumi como se fosse um irresistível hambúrguer num dia de TPM. O segundo é uma denúncia indireta - com nomes pouco disfarçados dos personagens - aos comandantes da Rota e dos seus casos de extermínio em massa. O trabalho minucioso e sensível do Caco me encantava, eu sentia que era isso que eu queria fazer. Caco romanceava duas histórias que se confundem, porque em ambas há o abuso da polícia militar e a impotência do cidadão comum de se defender desses abusos e deixar de ser vítima. Quase dois anos depois, comecei um estágio numa editora sendo explorada redatora/repórter assistente de duas revistas, uma de artesanato e outra de gastronomia. Não consigo resumir a série de abusos que vi e vivenciei naqueles insuportáveis 9 meses. Foi a primeira vez que pedi demissão na vida. Ambiente opressor, machista e elitista, onde a maioria, veja bem, era composta por mulheres, desde a recepção à sala da editora-chefe. A editora faliu. Muitos funcionários dali hoje trabalham com a publicidade mais tosca que existe, que é das mídias sociais, feita por ex-jornalistas que escrevem textões sobre produtos achando que estão informando e não vendendo, mídia barata, trabalho sem conceituação, apenas textão explicativo. Gosto de rir porque eu mesma já acreditei nessa mentira e gosto de ver pessoas arrogantes quebrando a cara. É o prazer da vingança indireta. Outros trabalham em jornais de bairro, ganhando pouco e dependendo dos releases da subprefeitura local. Ou seja, não é um trabalho de redação ou reportagem, e sim de edição, você apenas altera parte do conteúdo de um texto escrito por alguém, que tem diversos objetivos, inclusive. Lembrando que press-release é o começo da propaganda, em conjunto com a relações públicas, adentrando o jornalismo. O press-release é o material do assessor de imprensa. É o ópio dele, é quando ele transforma produto em conteúdo, travestido de informação. Naquela mesma época eu já havia aprendido as teorias de pharmakon, e sabia que o que eu trabalhava também era cosmética. Alguns colegas de sala trabalhavam com o veneno, em revistas de fofocas e/ou sensacionalistas. Anos depois, acabei migrando para a publicidade numa agência de health care em que boa parte do meu trabalho era conceituar remédios e, com o tempo, minha linguagem de trabalho foi se transformando. Eu, que acreditava na linguagem como forma de remediar, provei do meu próprio veneno. Caco Barcellos a essa altura já estava em Paris, local onde encontrou exílio após a perseguição (de policiais, políticos e traficantes) dos que trataram O Abusado como um enaltecimento da figura do dono do morro, mas que também expôs muita gente. Na época, o texto de Caco foi comparado ao que fizeram os autores dos livros didáticos sobre a história de Che Guevara: "transformou o bandido num herói". Eu pensava se eu teria culhões de invadir uma zona de guerra, como o Caco, sob o risco de ser morta ou ganhar um Pulitzer, para o orgulho de minha família, enquanto tomava café expresso sentada dentro de um pequeno escritório numa região classe média de São Paulo. Momento confuso da vida. Vivia um relacionamento abusivo. Ganhava pouco mais do que no estágio de 3 anos antes. Minha mãe se recuperava de um câncer. E eu ainda sofria com os pós-efeitos de ataques de gordofobia. Experimentava o desgosto de episódios de anorexia e depressão. E não encontrava mais chão. Continuei por inércia. Passados quase 3 anos no mesmo lugar, mesmos clientes, um salário um pouco maior e um peso nos ombros por conta de todo estresse que aquela situação me causava, depois de vários relacionamentos interpessoais fracassados, várias questões, pessoas e situações difíceis, todas vividas durante esse período, passei a pensar na morte como subterfúgio para um grito interno. Muita coisa mudou depois disso. Hoje, anos e anos depois, encontro questões parecidas, mas notei que em grande parte das escolhas que tomei, das situações opressoras que mantive - e depois corri num impulso de desespero -, eu era a minha principal abusadora. Mas isso só seria possível de se concluir se eu acreditasse que minhas escolhas são inerentes ao ambiente e a todos os fatores que se movimentam ao meu redor, como se eles não me afetassem. Hoje, concluo que a melhor escolha é aquela que é tomada através da crença no próprio juízo do momento, mesmo que se ao olhar para trás, não faça sentido ou você não se reconheça. Pra não dizer mais: fugir de abusos em quaisquer situações, seja no corporativismo, nos relacionamentos afetivos e interpessoais e, claro, antes de tudo, consigo mesmo.

sábado, 18 de agosto de 2018

Mulher fácil

Não importa sua linha de frente ou de estudos, você sempre estará fadada a sofrer com a face mais bruta do machismo - porquê você tem conhecimento, já disse alguém que a ignorância é uma benção -, especialmente quando você mantém relações heterossexuais. Porque o homem do seu lado sempre será um homem hétero e independente da cor, da classe, da origem e da luta dele, ao lado dele você sempre enfrentará situações de opressão. Porque você sempre será a mulher da relação e trará todo estigma que isso traz. Você sempre será a pessoa menos benquista. Sempre será aquela motivo de confusão e competição. Ninguém olhará pra você sem antes trazer dois mil artifícios pra te reduzir à figura da mulher, da frágil e extremamente subestimável. Você nunca será boa o bastante. Nem pra ele, nem pras pessoas ao seu redor, nem pra sociedade, que te condena desde o útero. Você sempre será quem carregará o peso do machismo no seu ombro, porque para o homem ao seu lado é só uma questão de compreensão. De esforço. E a maioria das pessoas não quer se esforçar pra entender o outro. Dá trabalho. Cansa. Ainda mais se pensar que poderia ser mais fácil. Claro, se você fosse mais fácil. Mas, no fim, você sempre estará sozinha nessa questão.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Los ojos del alma

Existe uma resposta inapta para tudo o que os olhos são capazes de expressar. Sentir é mais que preciso. Mais concreto e palpável. Porque o que eu sinto parece inesgotável. É um calor incansável. Nunca terei palavras pra conseguir verbalizar o que jorra aqui dentro, talvez por pura inabilidade ou simplesmente timidez, ou, melhor, por achar que não será suficiente. Jamais será. Me pego desprevenida olhando dentro dos seus olhos e percebendo meu reflexo, é como se a metáfora fizesse sentido: me vejo através de você. E uma chama paira no meu interior, gritante, mostrando o quanto é forte o que eu sinto por você. Mil pensamentos dominam a minha mente e tornam esse momento mais estimado. Você, pela primeira vez, como ninguém, me deixa sem palavras.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Amor romântico, dores e especulações sensoriais

Sempre fui do tipo que se questiona tanto e permeia por tantos pensamentos até chegar à estafa. Essa mente incansável não dorme até não encontrar um motivo razoável para baixar a guarda, ou qualquer sentimento, mesmo que efêmero, que sugira alguma possível resolução. Mas, veja bem, isso é uma fraqueza. E, apesar disso nunca ter me impedido de agir e de buscar por condições melhores, independente da origem dessas necessidades, em algum momento a confusão vem e, com ela, uma série de dúvidas e perguntas vazias. Quero sentir tanto que quando tenho contato com essa profundidade, me assusto. As pessoas falam de amor através de suas ideologias e convicções, e idealizações, que não sobra espaço para apenas sentir, sem questionar, sem tentar destrinchar algo que às vezes não tem uma explicação racional e crua. Uma explicação que vai saciar essa urgência. Eu não gosto de romantizar o amor, mas ao mesmo tempo idealizo com metáforas e tentativas de definir algo que nem eu mesma entendo. Eu acho que é porque se trata de uma série de sentimentos e sensações. Talvez o amor não tenha pressa. Mas a vida tem. E a gente muitas vezes escolhe amar por saber que talvez não sobre muito tempo para experienciar algo tão belo. Talvez a gente apenas não tenha que separar as coisas em caixinhas. Estigmatizar e moldar de acordo com a nossa ótica pessoal que muitas vezes é deturpada pela indústria que faz chover poemas do século XIX, pelos remanescentes sofredores que são também grandes poetas da nossa cultura, pelo amor que se recebe da mãe (e aquela falácia de amor materno que tudo salva para vender bolsa Luis Vuitton no Natal e perfume da Avon no dia das mães) e por uma série de referências que nos impactam e consentimos por toda nossa vivência. Amor também é uma construção social. Amor também pode ser sofrimento. Amor também pode ser aquela explosão de sensações tão doces que parecem ter gosto de sorvete e tão leves que parecem sair de uma brisa num fim de tarde de verão, aquecem a alma e nos tiram um sorriso fácil. Essa vida é dura e muitas vezes deprimente. Às vezes, escolhemos certos caminhos que nos levam pra esse poço de dejetos mal cheirosos. Às vezes não. A vida nos carrega. E o amor, que eu não sei como descrever e nem compreender de fato, pode deixar tudo mais afável e brando. O que nos resta, assim como tudo nessa vida, é viver. E amar, se possível.

domingo, 5 de agosto de 2018

Alegorias

É o medo compulsório da paranóia. Deixar de ser solo e perder individualidade. A ideia de dividir a vida que é mal digerida. O dorso descoberto para o acaso. Segurança a partir de uma falsa ilusão. Especulação sem sentido. Declínio. Delírio. Certeza. Vulnerabilidade. Discurso teatral. Incoerente. Incerto. Romantizado. Estardalhaço. Sombra do passado. Devaneio. Sono. Tesão. Tensão. Falta de foco. Superestimado. Ego. Orgulho. Amor. Lapso. Dormir.