quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Diálogos - narrações

Era um fim de tarde típico de primavera, o céu demorava mais para escurecer, dando ao dia a oportunidade de ser mais longo. Era possível ver o sol encolher seus feixes de luz ao horizonte, o que promovia uma visão esplendorosa em que uma paleta de tintas parecia brigar no céu. Enquanto isso, íamos caminhando, os três, cada um para seu respectivo lar, que não ficava a muitas quadras de distância uns dos outros. Eu admirava os cabelos dela, que eram de um cacheado tão preciso que beiravam à perfeição, assim como sua pele cor de chocolate, tão brilhante que lembrava um bombom.

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Cheguei em casa e eles não estavam. Não me perguntei aonde teriam ido, mas se haveria janta aquela noite, pois me causava arrepios me imaginar comendo pão com mortadela novamente.

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Passava das 22 horas e nada deles. Por que me largaram desse jeito? Pensei em ligar para a tia Mari, mas desisti ao lembrar do mau odor de sua casa e da quantidade de pelos de seus 13 gatos espelhados pelo tapete de seu pequeno apartamento. Contei para xxxxx e xxx no nosso grupo de mensagens. Eles apenas recomendaram: hora de atacar a cozinha. Levantei do sofá e caminhei vagarosamente até à garagem para pegar a escada. Com muita dificuldade consegui arrastá-la até a cozinha, imaginando quantas broncas tomaria de mamãe se ela descobrisse minha tramagem, mas recordei que minha fome era culpa dela e então o remorso passou. Então levei-a ao encontro do lugar proibido: o armário de guloseimas. Lacei mão sobre as batatinhas, biscoitos recheados e chocolates. Tudo o que eu só poderia comer se fosse obediente estava, finalmente, à disposição do meu desejo de devorar tudo.

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Me perguntei inúmeras vezes que lugar era aquele, mas ao entrar na primeira sala pude avistar a imagem do paraíso: uma mesa repleta de comidas. Tudo parecia incrivelmente delicioso, havia uma torre de cupcakes com coberturas e confeitos de todas as formas e cores. Cachorro-quente, hamburgueres, bolo de chocolate, coxinhas, gelatina colorida, brigadeiros e pudins. Depois disso tinha a certeza de que estava no céu. "Obrigado Deus todo poderoso! Sabia que você reconheceria meus bons hábitos e obediência que meus pais nunca perceberam", mandei beijo para o teto e corri em direção à mesa.

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Comemos tudo o que foi possível e o suficiente para não saber se arrotava à chocolate ou a cachorro quente, mas posso dizer que me sentia mais do que satisfeita e os dois pareciam sentir o mesmo. Nosso extase era tanto que começamos a rir sem parar e sem qualquer motivo. Olhava para a boca toda suja de suspiro de xxx e caia na gargalhada. Foi então que os bolinhos pareciam derreter, tentei segurá-los mas começaram a despedaçar pelas minhas mãos

Ele

Às vezes olho para ele e imagino o universo. O quão grande o enxergo. Não porque o coloque num pedestal, mas porque ele realmente é grande. Esplêndido em toda a graça de sua presença. Aquela voz aguda e de fala praticamente cantada, que as vezes fica fina quando ele está em seu lar ou quando tenta ser charmoso, mas acaba parecendo um bebê cheio de manha, como quem propositalmente age dessa maneira para ser pego no colo e aninhado. E de repente muda, fala grosso, briga, se defende como quem se sente ameaçado e por meio de uma dialética única. Depois me aperta, faz piada, dá risada.
Às vezes olho para ele e fico impressionada com toda a infinidade de sua beleza ao mesmo tempo que me incomoda saber que todas as pessoas têm acesso a essa visão. Mas isso me faz lembrar que algumas poucas visões só eu tenho. A visão do seu olhar apaixonado, me lembrando do por que me entreguei, com aqueles olhos brilhantes e um sorriso bobo na boca. A visão das suas nádegas redondinhas se mexendo quando ele levanta da cama para se lavar. A visão daquele olhar que me penetra, literalmente, em todo o meu corpo, me dominando com maestria, proporcionando momentos únicos de loucura e prazer. Momentos que eu desejo a maior parte do meu dia, que é poder ter uma nova oportunidade de me perder nos seus braços, no seu corpo, no seu gozo. A visão daqueles cabelos caindo sobre os meus seios quando ele sai de cima de mim, com aquela moleza pós-orgasmo e me mostrando o quanto ele é maravilhosamente lindo e inteiramente delicioso. Genuína e interiormente repleto de beleza.
Privilégios meus, sortudos olhos, carregado por um corpo amolecido e uma mente inquieta. Comunicação entorpecida, desejo imenso provocado pelo medo e pela paixão. Seguro coração, que pulsa e arde, dentro dessa carcaça pesada.

A viagem

Lembram-se daquela viagem? Em que, desprentesiosas não esperávamos tantas aventuras? Nunca o "eu" se fez tão presente em todos os diálogos da vida. Era como se fosse uma luta constante para manter esse ego vivo. Mas nos entendemos. Lembram-se daquela praia de água límpida e maré baixa? E de como ela acalmava a alma? As ondas batiam levemente trazendo a brisa serena e desforme para refrescar os nossos corpos. Lembram-se de quando pegamos carona com um desconhecido, um punk caiçara que para mim não era tão desconhecido assim? E no carro dele fumamos um enquanto ríamos, em coro, de tudo o que ele dizia? Lembram-se de todas as paisagens, praias, rios e cachoeiras que encontramos? Como tudo era belo e parecia infinito? Lembram-se de quando paramos numa festa dentro de um motoclube e parecíamos integrantes do clube da Luluzinha, com nossos vestidos floridos, pedindo cigarros para homens sujos, bebendo cachaça barata e fazendo pose de quem quer seduzir? Lembram-se de quando tomamos um lsd derretido em água e ficamos brisando com as nuvens do céu, imaginando a realização dos nossos sonhos? Lembram-se do moreno que veio falar comigo, perguntando onde iríamos passar o ano novo e de como a sunga dele era tão apertadinha que dava para enxergar mais do que queríamos? Lembram-se das conversas infinitas, das discussões sobre feminismo, sobre amores e desamores? Lembram-se do quanto estivemos felizes?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Retrospectiva 2015

Sorrisos que inundam a alma com a aquela brisa fresca e revigorante. Fazem encher o peito de expectativas positivas e resoluções razoáveis. Não vou declarar aprendizado, pois temo ser clichê e ingênua, e até mesmo arrogante. Prefiro revelar apenas que vivi e senti. E dessa vivência, em conjunto com uma explosão de sentimentos, algum aprendizado veio. Diferente do ano passado, em que me mantive em constante frenesi, este ano alcancei alguns objetivos. Sai de casa, enfrentei a solidão no qual também recorri e me acasalei. Senti fome, medo e tive vontade de abandonar tudo, mas aos poucos me reergui. Lutei, batalhei, corri, sofri, militei, briguei, gritei, mas gozei, ri e me encontrei de algumas maneiras, válidas ou não, sinceras ou não. E quando nada mais me aguardava e a vida parecia calma, topei com a paixão, que me bagunçou inteira. Chorei mais um pouco, pensei em fugir, mas permaneci e o calor pude sentir e me deixar invadir. Encontrei o amor, na maneira mais sublime, mas como um sopro intenso me convocou para permanecer. Com inúmeras dúvidas prossegui e assim as escolhas me trouxeram mais certezas.
Quanta coisa! Não sei o que espero de 2016, só gostaria que fosse mais doce que os anos anteriores. Gostaria que objetivos se tornassem realidade e que a calmaria fosse rotina. Mais viagens, mais sorrisos, mais amor.