terça-feira, 20 de novembro de 2018

Viagem

Tenho receio de levianidade, assumo. Presto atenção ao que não me pertence e sofro porque não sei separar. Não entendo meus limites, pois não gosto de me cercear. Mas tento antecipar e na espera me enclausuro. Na claustrofobia cerebral, divago e permaneço, sem saber onde vou parar. Surtos de lá pra cá, extremos acolá. E uma vontade imensa de fugir sob a esperança de me resgatar. Sem buscas por um porto seguro, a ânsia é por desprendimento. Sentir na pele o vento bater no rosto, devagar. Como uma nova brisa que fornece alegria e contagia. Inocência minha, mas felizes são aqueles que não esperam demais e não mantêm suas mentes presas ao mesmo lugar. O pensamento pode ser ecumênico, basta manter-se livre.

Dois tempos e um quebrado

Tenho dificuldades para dormir, 
Porque temo perder tempo,
E não vivo, apenas resisto,
Porque vago como um zumbi, 
Perdida em meus pensamentos. 
Perdida nos meus desejos. 

Queria poder me perder no mundo.
Fechar os olhos e me transportar,
Vagar por entre as ruas e sorrisos,
Explorar e sentir novos lugares,
Sob a esperança de reconciliação,
Com o tempo, com o mundo e comigo.

Queria entender o que não é meu,
E ao mesmo tempo me tranquilizar,
Pois nada me pertence, nem o tempo,
Nem meus pensamentos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Previsível

Parece que quando alguém acha que nos conhece ela passa a agir, com o passar do tempo, como se você sempre fosse estar ali, para servi-la, para ser companhia, para ajudá-la, para apoiá-la, para suportá-la em sua impassível individualidade - cega e, provavelmente, despretensiosa -. Você se torna, para a pessoa, aquilo que mais rejeita: um ser previsível. Engraçado, porque sinto que as pessoas sempre me surpreendem, e, portanto, acho que cabe não subestimá-las. Ninguém gosta de ser subestimado. A gente às vezes cria uma imagem de nós mesmos, com cuidado ou, na maioria das vezes, com arrogância, que dói demais quando nos tratam como menos. Não sei se o que falta é humildade, mas creio que além disso é preciso consistência. É difícil tentar agir de determinada forma - mudando um comportamento - quando se é tratado por baixo. Nossas defesas são construídas social e moralmente e, com base nisso: individualmente. Vamos criando estratégias mentais de fácil superação para estar em cima de qualquer situação - nem que seja superficial, é uma defesa - e é mais fácil seguir em frente do que realmente entender o que está acontecendo. Me sinto vítima das minhas tentativas de autodefesa, e nem por isso me machuco menos. Me doou demais, espero demais e me iludo demais. Penso tanto que chego à exaustão e, quase sempre, não encontro soluções. Sinto que continuo sozinha. Previsível até pra mim.

Sem humildade e coragem não há amor. Essas duas qualidades são exigidas, em escalas enormes e contínuas, quando se ingressa numa terra inexplorada e não-mapeada. E é a esse território que o amor conduz ao se instalar entre dois ou mais seres humanos.
Zygmunt Bauman

Minha liquidez


Eu tenho essa mania de ser muito dura comigo mesma, coisa fadada há muito tempo. Mas, como sou humana - cheia de falhas e incoerências -, é natural dizer que não faço por onde, nem quando minha consciência já pesa antes de eu agir. Impulsiva demais pra dar tempo ao tempo e respeitar o tempo do outro. Eu não respeito nem o meu tempo, eu nem sei reconhecer o meu tempo. Porém é um aprendizado mais que requisitado, se tornou necessário. Se é difícil mudar um comportamento - como dizem - creio e noto que é mais difícil mudar um pensamento, que começa como um lapso ou através de um gatilho acionado, e se transforma numa parte de você, ou no que você passou a vida toda acreditando ser. Não sei porquê me perco tanto, talvez eu não confie em mim mesma. Talvez eu não sei lidar comigo mesma em alguns momentos, e assim, não sei lidar com o outro, ou com os outros. Me sinto cansada de bater sempre na mesma tecla, que cada vez mais se transforma num grande muro, onde bato a cabeça toda vez que eu não sei pra onde ir. E assim vem a vontade de correr. Fugir. Pra bem longe, mas nem sei exatamente do quê. Talvez, toda vez que o impulso desse tipo de pensamento surge, eu esteja querendo fugir de mim. Queria ser coberta, não numa bolha, mas demasiadamente segura. Isso deve ser uma ilusão.

O que aprendemos com a amarga experiência é que essa situação de ter sido abandonado à própria sorte, sem ter com quem contar quando necessário, quem nos console e nos dê a mão, é terrível e assustadora. Mas nunca se está mais só e abandonado do que quando se luta para ter a certeza de que agora existe de fato alguém com quem se pode contar, amanhã e depois, para fazer tudo isso se - quando - a roda da fortuna começar a girar em outra direção.  
Zygmunt Bauman

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Mulher coletiva

Assim foi como ele me definiu: mulher coletiva. Mais do que o termo pareça oferecer, me defino alguém que necessita de práxis coletiva, apesar de odiar certas pessoas dentro dos espaços coletivos que são extremamente individualistas. Odeio individualismo, apesar de que também posso cometer esse erro. Acho que no fim é um exercício básico pra ser sempre colocado em prática: não ser individualista. Essa conversa aconteceu depois do primeiro turno dessas eleições, eu me sentia mais perdida que nunca e me embebedei de várias doses de depressão. De lá pra cá me envolvi em algumas atividades e devo ter conhecido mais de cinquenta pessoas nas últimas semanas. Pessoas bacanas, camaradas, que pensam parecido, que tem um senso de justiça social em comum. Absorvo, fundo e sem medo. Parece que estou me encontrando em um lugar. Parece que meu tempo de vida não será à toa conforme o que acredito. Parece que tenho muito trabalho a fazer e muito a aprender.