quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A brisa

Para acompanhar: Interpol - Untitled

Quem em sã consciência conseguiria sentir essa brisa?
Logo essa, tão fresquinha que surgiu neste fim de tarde.
Essa que veio suavemente e, lentamente, tocou o nosso rosto.
E nossos olhos fez fechar, para sentir sua leveza com outros sentidos.

Quem imaginaria que ela chegaria dessa forma?
E a nossa mente dominasse com toda a necessidade,
Que se fez presente e, ao mais alto cume, tentou atingir.
Como se nossos corpos estivessem em órbita,
E pairassem no ar, flutuando, levemente.

Como essa brisa poderia ter se tornado tão companheira?
Que de tal maneira se fez tão desejada.
E enchesse o nosso corpo de moleza, que beira a fraqueza.
Mas nos tornasse mais íntimos da nossa alma.
E as emoções aflorassem nossos corações a ponto de nos inspirar.
Assim, como estamos neste momento.

Brisa leve, brisa doce. Como esperamos por ti.
E por este odor que você promove.
E por esta sensação que você proporciona.
Como pôde dominar a nossa mente desta forma?
Tão densa, mas, ao mesmo tempo, tão magnética.

Fique brisa, sua louca. Torne-nos tão loucos quanto você.
Goze dentro de nossas mentes, ferventes e nervosas.
Assim você nos acalma, assim você nos faz viajar.
Para longe e tão alto, que sentimos ultrapassar as nuvens,
E as barreiras estratosféricas que nos levam até o ponto mais alto do céu.

Brisa, volte sempre. Para nos confortar.
Para assim esquecermos substancialmente da nossa tragédia.
Para nos curar da náusea que causa a rotina.
Para nos transportar para a Colômbia ou a Indonésia.
Para nos ajudar a fugir da nossa própria loucura.

Sob efeitos da amiga verdinha.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Aquele dia que você gostaria de estar morto

Ao som de At the Drive In - One Armed Scissor

Eu sabia que este momento chegaria, eu o aguardava, de certa forma, inconscientemente. E eu sabia que, quando acontecesse, seria completamente forte e invasivo, mas não imaginava que seria dessa maneira. O peso da racionalidade veio, bruscamente, manisfestando-se aos poucos, mas eclodiu e hoje. Estava eu, no shopping, indo encontrar minha mãe e minha irmã, as mulheres que mais penei a entender durante toda minha vida, e, todo o sentimento de vazio me dominou. Fiz minhas compras, provavelmente gastei mais do que deveria, e fui embora, deixando-as lá, furiosas e cheias de opiniões sobre minha atitude. No caminho até o ponto de ônibus, estranhamente atrai olhares de rapazes bonitos (o que é raridade no bairro que moro), logo estes seres, que tanto me fizeram repensar minha vida, e alguns aprendizados fizeram vir à tona, sem saberem. Entretanto, eu não os enxergava, eu estava focada e, assim sendo, dominada por este vazio. E, quando uso este termo, não me refiro à uma mente oca, ou a sentimentos ou pensamentos evasivos ou libertinos, eu me refiro ao nada que restou depois de tanto pensar, sentir e vivenciar. Eu sentia que poderia chorar a qualquer momento, e ansiei chegar ao meu quarto para poder me acabar em lágrimas sem que nenhum ser pudesse me observar. Mas ao chegar aqui, nada feito, só sinto minha cabeça pesada e, mesmo forçando, meus olhos lacrimejaram, mas agora já secaram, e qualquer vestígio de lágrima evaporou, assim como qualquer racionalização concreta.
Será este o fardo das pessoas que pensam demais? Será este o meu carma? Será que nunca serei feliz o suficiente para nunca questionar esta felicidade e, na busca por mais, eu sempre me depararei com este vazio? Será que nunca vou me sentir completa? O que me falta? O que eu preciso?
Em algumas semanas eu mudei totalmente meu ponto de vista e minhas vontades sobre diversas coisas, eu perdi o desejo de me envolver em relacionamentos breves, em conhecer novas pessoas, em me divertir loucamente na noite, e em fazer coisas que me eram comuns. Eu perdi a vontade de procurar algo, ou o desejo de sempre sentir as mesmas sensações que antes que confortavam. Eu perdi o interesse nas pessoas. Eu parei de me admirar. Eu parei de achar que sou maravilhosa, não porque esteja com problemas de auto-estima, mas simplesmente por me ver como uma pessoa normal, repleta de defeitos. Eu cheguei num ponto que não consigo mais sentir a leveza fresca e transcendental que me fazia sentir viva. Eu só sinto um peso muito grande, e cada vez mais isso afeta negativamente a minha saúde. Eu acho que isso talvez seja se tornar adulto, talvez eu não consiga fugir desse momento em que repensar se faz necessário. Talvez eu só tenha que continuar quieta para não me expor e acabar caindo severamente. Talvez eu tenha que arranjar uma maneira de sentir essa leveza de novo, procurar por atividades que me façam aliviar todo esse peso, e me livrar do que me faz mal hoje. Eu não sei separar o que me faz mal, mas sei que o que costumava me fazer bem, já não me surte mais efeito. Eu cansei. 
Ia terminar o texto aqui, mas não estaria sendo sincera comigo mesma se não tornar este desabafo totalmente sincero. Algumas pessoas me veem à mente: minha mãe e seu mártir, meu pai e sua constante e permanente falta de dinheiro, minha irmã e sua falta de sorte no amor, aquele rapaz que parecia apaixonado e até hoje não me explicou o motivo de começar me odiar, e meus chefes, que pagam minhas contas, as pessoas que convivo, as pessoas que me divertem, as pessoas que mantenho em meu coração e as pessoas que acabei de tirar da minha vida por não me fazerem mais sentido. Quantas reviravoltas precisei ter este ano para chegar a este momento só podem ser descritas num livro, mas ao menos, poderia ter me restado alguma conclusão. Não, só o nada ficou. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O eu leonino


Hoje estava caminhando na rua e vi um casal de adolescentes, ambos me olharam com certa curiosidade, talvez pelo fato de minhas tatuagens estarem à mostra, ou pelo ardo aspecto que carrego no rosto. A garota, no entanto, olhou de uma maneira um tanto diferente, e eu não saberia dizer o motivo, porque poderiam haver inúmeras razões que eu jamais iria descobrir. Talvez o ascendente em leão explique o motivo de eu atrair tantos olhares pelas ruas, inclusive de mulheres, com suas expressões sempre semelhantemente coléricas. Mas eu não vim falar sobre isso. Depois de reparar no olhar da moça, me lembrei vagamente de quando tinha a sua idade, e que tipo de pensamentos e desejos eu carregava. Surpreendentemente senti orgulho de mim mesma, porque com aquela idade talvez eu me imaginasse do jeito que estou hoje, claro que não exatamente, mas acredito que consegui conquistar e alcançar coisas que eu almejava naquela época. Lembro-me bem que era muito insegura, não tanto quanto à minha aparência, mas com o meu status social e no que eu representava para mim mesma. Eu sempre desejei alguma forma de poder, seja em qual aspecto, situação ou ambiente fosse. Me idealizava formada em jornalismo e atuando na área, talvez como repórter, ou como redatora, tanto fosse, a ideia era ganhar dinheiro, muito dinheiro (algo que não condiz com a minha realidade atual, infelizmente). Não me imaginava casada ou com filhos, mas me via morando sozinha, com o meu espaço, e, provavelmente (mais para sim, do que para não), solteira, recebendo muitos amigos e homens que me apetecessem em vários sentidos, ou com algum que eu estivesse envolvida no momento e conseguia me ver no futuro. Outra questão que ainda não se concretizou por completo, mas que eu acredito não estar tão longe de acontecer, ou me incomodar ao ponto de desejar intensamente por essas mudanças. E sempre, sempre, me vi como multitarefa, tendo várias profissões ao mesmo tempo, como ser escritora, cantora, DJ, artista, ou coisas do tipo. Claro, sendo bem reconhecida por cada atividade.


Lembro-me também que, até meados do ano retrasado, eu me via num palco, e todos aqueles que passavam pela minha vida estariam na plateia me assistindo com olhos famintos, já as pessoas queridas estariam no camarote. E eu ali, sob todos os holofotes e flashes, deliciosamente reinando, e, toda vez que alguém me magoava, eu automaticamente enxergava a pessoa no meio do público enquanto eu acenava para ela. Entretanto, nunca desejei que mantivessem sentimentos de inveja por mim, eu apenas achava que poderia ser admirada, só isso.

Quando era mais nova ainda, vivia sonhando que estaria namorando algum famoso. Já foram desejados: Orlando Bloom, Johnny Depp, Wagner Moura, Joe Manganiello (esse ainda faz parte dos meus desejos mais profundos, não minto), Paul Banks (vocalista do Interpol), entre outros tantos, que talvez englobem uma lista maior do que a de quantos caras eu já dormi (sim ou com certeza? rs), enfim... Mas eu nunca me vi como a namorada socialite, que só serve para sair na foto, eu sempre era alguém foda, que conhecera o rapaz no meio social comum de carreira e que fora agraciada por conhecer alguém de mesmo patamar. Recordar todas essas lembranças, me fez perceber que eu sempre me vi como uma mulher e, mesmo quando era apenas uma adolescente revoltada que não imaginava o quanto e o quê teria que viver para chegar aqui, a imagem que eu tinha de mim mesma era igual: a de uma mulher forte, ousada e independente. E, sinceramente, apesar de saber que eu tenho um longo caminho para percorrer, eu não me sinto nenhum pouco apressada ou insegura quanto ao meu futuro, porque hoje eu sei que tenho capacidade de atingir algo brilhante. Prepotência leonina? Quem sabe...