terça-feira, 14 de outubro de 2014

Aquele dia que você gostaria de estar morto

Ao som de At the Drive In - One Armed Scissor

Eu sabia que este momento chegaria, eu o aguardava, de certa forma, inconscientemente. E eu sabia que, quando acontecesse, seria completamente forte e invasivo, mas não imaginava que seria dessa maneira. O peso da racionalidade veio, bruscamente, manisfestando-se aos poucos, mas eclodiu e hoje. Estava eu, no shopping, indo encontrar minha mãe e minha irmã, as mulheres que mais penei a entender durante toda minha vida, e, todo o sentimento de vazio me dominou. Fiz minhas compras, provavelmente gastei mais do que deveria, e fui embora, deixando-as lá, furiosas e cheias de opiniões sobre minha atitude. No caminho até o ponto de ônibus, estranhamente atrai olhares de rapazes bonitos (o que é raridade no bairro que moro), logo estes seres, que tanto me fizeram repensar minha vida, e alguns aprendizados fizeram vir à tona, sem saberem. Entretanto, eu não os enxergava, eu estava focada e, assim sendo, dominada por este vazio. E, quando uso este termo, não me refiro à uma mente oca, ou a sentimentos ou pensamentos evasivos ou libertinos, eu me refiro ao nada que restou depois de tanto pensar, sentir e vivenciar. Eu sentia que poderia chorar a qualquer momento, e ansiei chegar ao meu quarto para poder me acabar em lágrimas sem que nenhum ser pudesse me observar. Mas ao chegar aqui, nada feito, só sinto minha cabeça pesada e, mesmo forçando, meus olhos lacrimejaram, mas agora já secaram, e qualquer vestígio de lágrima evaporou, assim como qualquer racionalização concreta.
Será este o fardo das pessoas que pensam demais? Será este o meu carma? Será que nunca serei feliz o suficiente para nunca questionar esta felicidade e, na busca por mais, eu sempre me depararei com este vazio? Será que nunca vou me sentir completa? O que me falta? O que eu preciso?
Em algumas semanas eu mudei totalmente meu ponto de vista e minhas vontades sobre diversas coisas, eu perdi o desejo de me envolver em relacionamentos breves, em conhecer novas pessoas, em me divertir loucamente na noite, e em fazer coisas que me eram comuns. Eu perdi a vontade de procurar algo, ou o desejo de sempre sentir as mesmas sensações que antes que confortavam. Eu perdi o interesse nas pessoas. Eu parei de me admirar. Eu parei de achar que sou maravilhosa, não porque esteja com problemas de auto-estima, mas simplesmente por me ver como uma pessoa normal, repleta de defeitos. Eu cheguei num ponto que não consigo mais sentir a leveza fresca e transcendental que me fazia sentir viva. Eu só sinto um peso muito grande, e cada vez mais isso afeta negativamente a minha saúde. Eu acho que isso talvez seja se tornar adulto, talvez eu não consiga fugir desse momento em que repensar se faz necessário. Talvez eu só tenha que continuar quieta para não me expor e acabar caindo severamente. Talvez eu tenha que arranjar uma maneira de sentir essa leveza de novo, procurar por atividades que me façam aliviar todo esse peso, e me livrar do que me faz mal hoje. Eu não sei separar o que me faz mal, mas sei que o que costumava me fazer bem, já não me surte mais efeito. Eu cansei. 
Ia terminar o texto aqui, mas não estaria sendo sincera comigo mesma se não tornar este desabafo totalmente sincero. Algumas pessoas me veem à mente: minha mãe e seu mártir, meu pai e sua constante e permanente falta de dinheiro, minha irmã e sua falta de sorte no amor, aquele rapaz que parecia apaixonado e até hoje não me explicou o motivo de começar me odiar, e meus chefes, que pagam minhas contas, as pessoas que convivo, as pessoas que me divertem, as pessoas que mantenho em meu coração e as pessoas que acabei de tirar da minha vida por não me fazerem mais sentido. Quantas reviravoltas precisei ter este ano para chegar a este momento só podem ser descritas num livro, mas ao menos, poderia ter me restado alguma conclusão. Não, só o nada ficou. 

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