sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Palavras que sufocam e trazem o desafeto

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Mulher odiável

Apaixonante ela transcende entre as praças e esquinas, com seu perfume sabor selvagem: cheiro de flor madura e fumaça de cigarro. E como uma ninja ela desaparece, sorrateira, travessa. Eles pensam que ela quer brincar, mas o que ela quer é se firmar, não mais se autoafirmar, dançar por entre as arestas da vida, que castiga. Sentir o mais sublime amor, banalizado pelos conceitos que o permeiam. Não se vive o amor conceitual, se faz o amor, se constrói o amor. Ela vai, samba, ri, mas chora, embaixo do edredom, vazio e frio. Na calada da noite, ela não se encontra mais, porque hoje ela é do dia. E nas ideologias da vida, ela se transforma em bruxa ou em fada, que enfeitiça e desgraça.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Cedo demais

Cedo demais para desavenças.
Cedo demais para sentir abandono.
Cedo demais para se sentir perdida.
Cedo demais para querer sair correndo.
Cedo demais para o sofrimento claustrofóbico.
Cedo demais para o silêncio ficar constrangedor.
Cedo demais para as incoerências e discrepâncias.
Cedo demais para a dor ser maior que o amor.
Cedo demais para se acabar, como um desabrochar de uma flor.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Abandono - compreensão

Declaro que aqui abandono meus maiores e mais recentes medos. Talvez não seja fácil dessa maneira, mas o pensamento tem um poder absurdo, então acreditar é o primeiro passo de uma revolução, seja individual ou não. Abandono meu medo de sofrer e tento deixar no passado o pessimismo que carrego travestido de defesa. Abandono também meu desgaste emocional para poder encarar a vida sob uma nova ótica, mais otimista e mais confortável. Abandono meus quereres que não dependem de mim e aceito o outro com mais compreensão e menos necessidades. Abandono parte dos meus defeitos, na tentativa de transformá-la em qualidade. Abandono meus anseios que me prendem mais do que me fazem me mover. Abandono a triste prática de desconfiança, ninguém vive bem com medo de ser enganado. Abandono meu medo do abandono e sigo buscando minha própria emancipação, enquanto mulher, individual e coletivamente.

Abandono

Já foi dito que o homem (sic) é um animal social por natureza. Enquanto integrante da sociedade, o ser social depende de suas relações sociais inclusive para sobreviver. Eu não levo em consideração pseudo-eremitas que não pagam aluguel porque vivem com os pais, trancafiados em suas bolhas impenetráveis. Já conheci alguns e a experiência foi mais que péssima, pois minha presença, ou de qualquer outro, só era requisitada para utilidade. Odeio pessoas puramente utilitaristas, ainda que, sabemos que a maioria das relações ainda assim sobrevivem dessa maneira, somos seres sociais, precisamos uns dos outros. Eu sou da multidão, não daquelas dos shows lotados (depende da intenção, claro), mas que leva em consideração a vida em sociedade na sua forma mais pragmática: no desejo e no ensejo do compartilhamento. Na ajuda, no companheirismo, no ideal de igualdade. A gente precisa de individualidade, mas precisa saber estar aberto suficiente para não precisar e pedir mais do que está disposto a doar. É uma via de mão dupla. Sempre digo que odeio pessoas egoístas, perdidas na própria vaidade, que não enxergam dos lados, que sugam e não oferecem nada em troca. Odeio porque meus princípios morais se baseiam nesses fatores citados. Não ter expectativa é uma ilusão. Impor que o outro cumpra com sua expectativa é outra história. É egoísmo? Acredito que ninguém é totalmente altruísta e quem acredita nisso pode ser mais vaidoso do que realmente caridoso. Será que nesse caso os fins justificam os meios? Não sei dizer. Às vezes idealizo demais e, por assim sendo, erro na mesma proporção. Longe de mim sentir as mazelas de um abandono. Que por vezes inconscientemente sentimos em vários momentos. Difícil é viver e ser coerente o tempo todo, seja com suas ideologias, seja com as pessoas que te cercam, seja consigo mesmo. A gente muda muito, sente muito e se perde muito. A racionalidade é um estado necessário. Não se compra, não se vende, talvez se troque. Difícil é ser racional enquanto se sente contrariado, desafortunado, abandonado. A dor que entra em colapso grita mais forte, e assim a loucura parece ganhar força. O medo transforma, o medo deturpa. O medo gera violência, autoritarismo, insanidade. Ainda que as conquistas sejam escassas, é preferível comemorar e se orgulhar da luta que lamentar o fracasso.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Velho bêbado

Tem um senhor, morador de rua, que vagueia perto da minha casa todos os dias. E, diariamente, ele está bêbado. Seus passos lentos e atrapalhados, como se arrastasse os pés. Seu rosto sempre vermelho e os lábios moles que proferem algumas palavras nonsense em conjunto com pedidos de trocados para mais uma cachaça. Ele vai até o boteco da esquina, todos os dias, frequentado por alcoólatras, de várias classes, assim como ele. Seu bafo pode ser capaz de matar um leão, de tão forte, e seu cheiro misturado à cachaça, sujeira e suor se alastra pelo caminho como uma sombra que permeia um corpo esquecido pelo tempo, pelo cuidado ou por alguma razão de viver. As pessoas fingem não vê-lo, o ignoram. Sua espécie é a mais desprezada nessa sociedade. Ninguém quer ficar perto de alguém nessas condições, ninguém vê humanidade ali. É como um selvagem que em algum momento cedeu à repressão que a própria vida lhe trouxe. Não dá pra saber a história de cada velho bêbado que encontramos nas esquinas, becos e botecos sujos da cidade, ninguém liga. Ninguém quer saber. Mas é interessante se identificar de alguma forma àquela condição, mesmo que tão alheia a nós, que temos uma cama e chuveiro quente. Porque qualquer pessoa em algum momento de desespero já teve vontade de sair correndo. Encher a cara diariamente. Tacar um longo e ressoante foda-se a esse sistema que continua escravizando inocentes, que promove guerras civis, que ainda mata pobres, que nos obriga a sobreviver exaustivamente numa escalada que não tem topo. É mais fácil se identificar com um velho bêbado do que com um engravatado que dá risada alta e não sai do celular enquanto come seu insosso prato de buffet caro no horário de almoço oficial de qualquer bairro comercial da cidade. Porque as vezes esse tipo é tão desprezado e tão invejado quanto o velho bêbado (em sua pseudo-liberdade). Nossos parâmetros comparativos são por vezes tão distorcidos que é difícil encontrar humanidade em cada indivíduo. Será que por que nos falta humanidade também?

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Discurso de ódio ao egoísmo

Tem dias que eu tenho vontade de socar a cara de alguém pra ver se passa esse meu ódio de gente egoísta. E o egoísmo tem várias faces, desde usar os outros para o que lhe convém ao pensamento liberal do "privatiza tudo". Privatiza então esse dom que as pessoas têm de serem inconvenientes, incoerentes, aproveitadoras. Taxa elas. Coloca imposto em tudo. Cobra mais caro pra quem é mais rico de safadeza, de moral contestável e abusiva. Vamos protestar pela falta de empatia. Expõe todo mundo. Coloca a cara deles na roda, dê nome aos bois, boys, minas, manas. VAMO BOTÁ PRA FUDÊ COM A GALERA APROVEITADORA!
Ficha suja, todo mundo tem. Mas é importante aprender. Escutar, mais do que falar. Fazer aquele exercício básico de se colocar no lugar do outro, fazendo recortes - não só sociais - mas de vivência. As experiências são diferentes. A forma como cada um lida e encara a vida, também. Ter cuidado com o outro. E, mais que ter essa consciência, pragmatismo. Não adianta ser eloquente pra depois agir incoerente. Palavras não bastam. Como diz Silvio Santos: "só acredito vendo". E assim a gente segue querendo fazer revolução todo dia, com cada pessoa do seu convívio, mas a gente vê que é difícil, então, o que resta é pra partir pro ataque. Ou ignorar completamente, quando não restar paciência - e não querer socar a cara de alguém. Ou, mete o louco, como dizia minha mãe: "bebe água que passa". ARGH!