quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Distância

Fiquei tanto tempo esperando pra amar uma pessoa que estava do outro lado do mundo de perto, que me perdi entre sonhos e ilusões, imaginando uma vida na qual nunca fui capaz de imaginar e me agarrei isso. Tive meu coração partido assim que as desilusões vieram à tona, mas muita coisa não mudou dentro de mim. Com o coração em recuperação me deparei com um novo amor. Perto, aconchegante e desafiante, a melhor pessoa que eu poderia ter encontrado. Com todos os seus defeitos ela me mostra que é humana, e assim a amo, mas me sinto presa às minhas próprias expectativas, por vezes incoerentes e individualistas, ainda que baseada na proposta de vida conjunta que me é ofertada, buscando fincar meus pés no chão, mesmo quando eles queimam em brasas. Assim vou caminhando sob à ideia de um propósito - construído em conjunto -, mas as vezes me deparando com curvas perigosas, becos sem saída e precipícios que levam ao abismo. Minha mente delira, obscurecida pelo medo de fracassar e do abandono latente. Não sei mais o que pensar, para onde fugir e nem a resposta de uma questão clara: agora que posso viver esse amor, na sua melhor condição e por alguém que vale a pena, porquê tenho que me distanciar?

domingo, 23 de dezembro de 2018

Trégua

Existe espaço no tempo para recuperar o fôlego perdido? Pode-se dizer que sim, mas e se o pulmão já está estragado devido aos maus tratos recebidos ao longo do tempo? Cabe um lapso capaz de reverter isso ou estamos todos perdidos? Reféns de uma ilusão relacionada a um tempo que não volta ou um futuro que não chega. A vida é breve, tão breve que nos perdemos com relação ao nosso tempo e estragamos o tempo que nos resta sem notar que a vida passa e não é percebida. Daí acabou o tempo.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Viagem

Tenho receio de levianidade, assumo. Presto atenção ao que não me pertence e sofro porque não sei separar. Não entendo meus limites, pois não gosto de me cercear. Mas tento antecipar e na espera me enclausuro. Na claustrofobia cerebral, divago e permaneço, sem saber onde vou parar. Surtos de lá pra cá, extremos acolá. E uma vontade imensa de fugir sob a esperança de me resgatar. Sem buscas por um porto seguro, a ânsia é por desprendimento. Sentir na pele o vento bater no rosto, devagar. Como uma nova brisa que fornece alegria e contagia. Inocência minha, mas felizes são aqueles que não esperam demais e não mantêm suas mentes presas ao mesmo lugar. O pensamento pode ser ecumênico, basta manter-se livre.

Dois tempos e um quebrado

Tenho dificuldades para dormir, 
Porque temo perder tempo,
E não vivo, apenas resisto,
Porque vago como um zumbi, 
Perdida em meus pensamentos. 
Perdida nos meus desejos. 

Queria poder me perder no mundo.
Fechar os olhos e me transportar,
Vagar por entre as ruas e sorrisos,
Explorar e sentir novos lugares,
Sob a esperança de reconciliação,
Com o tempo, com o mundo e comigo.

Queria entender o que não é meu,
E ao mesmo tempo me tranquilizar,
Pois nada me pertence, nem o tempo,
Nem meus pensamentos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Previsível

Parece que quando alguém acha que nos conhece ela passa a agir, com o passar do tempo, como se você sempre fosse estar ali, para servi-la, para ser companhia, para ajudá-la, para apoiá-la, para suportá-la em sua impassível individualidade - cega e, provavelmente, despretensiosa -. Você se torna, para a pessoa, aquilo que mais rejeita: um ser previsível. Engraçado, porque sinto que as pessoas sempre me surpreendem, e, portanto, acho que cabe não subestimá-las. Ninguém gosta de ser subestimado. A gente às vezes cria uma imagem de nós mesmos, com cuidado ou, na maioria das vezes, com arrogância, que dói demais quando nos tratam como menos. Não sei se o que falta é humildade, mas creio que além disso é preciso consistência. É difícil tentar agir de determinada forma - mudando um comportamento - quando se é tratado por baixo. Nossas defesas são construídas social e moralmente e, com base nisso: individualmente. Vamos criando estratégias mentais de fácil superação para estar em cima de qualquer situação - nem que seja superficial, é uma defesa - e é mais fácil seguir em frente do que realmente entender o que está acontecendo. Me sinto vítima das minhas tentativas de autodefesa, e nem por isso me machuco menos. Me doou demais, espero demais e me iludo demais. Penso tanto que chego à exaustão e, quase sempre, não encontro soluções. Sinto que continuo sozinha. Previsível até pra mim.

Sem humildade e coragem não há amor. Essas duas qualidades são exigidas, em escalas enormes e contínuas, quando se ingressa numa terra inexplorada e não-mapeada. E é a esse território que o amor conduz ao se instalar entre dois ou mais seres humanos.
Zygmunt Bauman

Minha liquidez


Eu tenho essa mania de ser muito dura comigo mesma, coisa fadada há muito tempo. Mas, como sou humana - cheia de falhas e incoerências -, é natural dizer que não faço por onde, nem quando minha consciência já pesa antes de eu agir. Impulsiva demais pra dar tempo ao tempo e respeitar o tempo do outro. Eu não respeito nem o meu tempo, eu nem sei reconhecer o meu tempo. Porém é um aprendizado mais que requisitado, se tornou necessário. Se é difícil mudar um comportamento - como dizem - creio e noto que é mais difícil mudar um pensamento, que começa como um lapso ou através de um gatilho acionado, e se transforma numa parte de você, ou no que você passou a vida toda acreditando ser. Não sei porquê me perco tanto, talvez eu não confie em mim mesma. Talvez eu não sei lidar comigo mesma em alguns momentos, e assim, não sei lidar com o outro, ou com os outros. Me sinto cansada de bater sempre na mesma tecla, que cada vez mais se transforma num grande muro, onde bato a cabeça toda vez que eu não sei pra onde ir. E assim vem a vontade de correr. Fugir. Pra bem longe, mas nem sei exatamente do quê. Talvez, toda vez que o impulso desse tipo de pensamento surge, eu esteja querendo fugir de mim. Queria ser coberta, não numa bolha, mas demasiadamente segura. Isso deve ser uma ilusão.

O que aprendemos com a amarga experiência é que essa situação de ter sido abandonado à própria sorte, sem ter com quem contar quando necessário, quem nos console e nos dê a mão, é terrível e assustadora. Mas nunca se está mais só e abandonado do que quando se luta para ter a certeza de que agora existe de fato alguém com quem se pode contar, amanhã e depois, para fazer tudo isso se - quando - a roda da fortuna começar a girar em outra direção.  
Zygmunt Bauman

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Mulher coletiva

Assim foi como ele me definiu: mulher coletiva. Mais do que o termo pareça oferecer, me defino alguém que necessita de práxis coletiva, apesar de odiar certas pessoas dentro dos espaços coletivos que são extremamente individualistas. Odeio individualismo, apesar de que também posso cometer esse erro. Acho que no fim é um exercício básico pra ser sempre colocado em prática: não ser individualista. Essa conversa aconteceu depois do primeiro turno dessas eleições, eu me sentia mais perdida que nunca e me embebedei de várias doses de depressão. De lá pra cá me envolvi em algumas atividades e devo ter conhecido mais de cinquenta pessoas nas últimas semanas. Pessoas bacanas, camaradas, que pensam parecido, que tem um senso de justiça social em comum. Absorvo, fundo e sem medo. Parece que estou me encontrando em um lugar. Parece que meu tempo de vida não será à toa conforme o que acredito. Parece que tenho muito trabalho a fazer e muito a aprender.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Su gracia

En toda la inmensidad de tu ser, siento que ya no me arriesgo, temiendo ser audaz y teniendo cuidado de no parecer acomodada. El amor me parece cómodo, confortable, como un abrazo afable y acalentador o como un beso caliente y que te transporta al más sublime universo. La idealización no es algo que me atrae más, digo lo que siento y no tiene nada más sincero que eso. Quería darte el mundo, yo diría, tiempos atrás, pero me has enseñado, de alguna manera, que el mundo pertenece a todos y dividirlo igualitariamente es más justo y plausible. Quería que el mundo viera el poder de tu sonrisa y que ese gesto fuese capaz de tranquilizar a esa sociedad, se burlaba y desgraciada, pero yo confieso que prefiero tener dosis homeopáticas de esa sensación sólo para mí, porque soy egoísta en toda la ignorancia y insegurancia de mi ser. Nací mujer y así moriré, me convertí mujer y así no me conformé, con el ser social al cual fui calificada y usurpada mi paz fue atravesada. Me sigo perdiendo y encontrándome en tus brazos, entendiéndome y cambiando en nuestras conversaciones y ambicionando un futuro más honesto para nosotros, para todos. Su amor me hace mejor. Gracias.


Imaculável ego

Que traiçoeira seria essa vida que coloca à prova a nossa existência com base apenas na realização através da imagem do outro. Existem tantas formas de viver e se relacionar, mas a nossa sociedade está adoecida com tanta distorção e confusão, que é capaz somente de frisar a sobrevivência por meio da inveja, da competição e da manutenção e enriquecimento da vaidade. E haja combustível pra alimentar tanta vaidade. Combustível esse que depende da alienação, abnegação e submissão de outrem. Onde o outro continua sendo visto como mercadoria, mesmo para aqueles que se dizem contra esse sistema. Qual foi o ponto perdido para que o egocentrismo dominasse as nossas relações? Onde nos encontramos quando achamos que o mundo nos deve o que merecemos? Quando estaremos completamente satisfeitos ou a satisfação é um conceito irreal? Não dá pra ser coletivo quando não sabemos dividir. Não dá pra ser justo quando não temos uma visão realista de nós mesmos. Mas até que ponto a mente perverte ou quer se deixar enganar? A quem realmente enganamos?

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A valsa do pau mole

O pau mole é aquele que dança num compasso ponderado.
Ele é descoordenado e não segue o ritmo da música.
Ele mede algumas involuntariedades do seu corpo,
Enquanto tenta controlá-las a qualquer custo.
Custo até à sua liberdade de movimentos.
Mas ele não se importa com elas ou com eles.
Ele só pensa em fazer seu pau enrijecer. 
Duro, capaz de quebrar um tijolo e fazer chover tesouro.
Na inocente ilusão de sua inabalável masculinidade. 
Para penetrar fundo e possuir a vaidade.
Dar algumas bombadas, breves e drásticas.
Como um maestro regendo a perfeita sinfonia.
Não importando a plateia, pois o palco é seu por excelência.
Ainda que esperando aplausos e pedidos de bis.
Ele goza, ri e geme - um gemido másculo.
Nos segundos mais importantes de sua existência.

Ele acorda e percebe, com decepção.
Para baixo, assim como está seu volume.
Caído, fraco e esquecido na pista de dança.

Aqui jaz o êxito de toda sua virilidade.
Pobre homem.



Escrito originalmente em outubro de 2015.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Palavras que sufocam e trazem o desafeto

...

Mulher odiável

Apaixonante ela transcende entre as praças e esquinas, com seu perfume sabor selvagem: cheiro de flor madura e fumaça de cigarro. E como uma ninja ela desaparece, sorrateira, travessa. Eles pensam que ela quer brincar, mas o que ela quer é se firmar, não mais se autoafirmar, dançar por entre as arestas da vida, que castiga. Sentir o mais sublime amor, banalizado pelos conceitos que o permeiam. Não se vive o amor conceitual, se faz o amor, se constrói o amor. Ela vai, samba, ri, mas chora, embaixo do edredom, vazio e frio. Na calada da noite, ela não se encontra mais, porque hoje ela é do dia. E nas ideologias da vida, ela se transforma em bruxa ou em fada, que enfeitiça e desgraça.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Cedo demais

Cedo demais para desavenças.
Cedo demais para sentir abandono.
Cedo demais para se sentir perdida.
Cedo demais para querer sair correndo.
Cedo demais para o sofrimento claustrofóbico.
Cedo demais para o silêncio ficar constrangedor.
Cedo demais para as incoerências e discrepâncias.
Cedo demais para a dor ser maior que o amor.
Cedo demais para se acabar, como um desabrochar de uma flor.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Abandono - compreensão

Declaro que aqui abandono meus maiores e mais recentes medos. Talvez não seja fácil dessa maneira, mas o pensamento tem um poder absurdo, então acreditar é o primeiro passo de uma revolução, seja individual ou não. Abandono meu medo de sofrer e tento deixar no passado o pessimismo que carrego travestido de defesa. Abandono também meu desgaste emocional para poder encarar a vida sob uma nova ótica, mais otimista e mais confortável. Abandono meus quereres que não dependem de mim e aceito o outro com mais compreensão e menos necessidades. Abandono parte dos meus defeitos, na tentativa de transformá-la em qualidade. Abandono meus anseios que me prendem mais do que me fazem me mover. Abandono a triste prática de desconfiança, ninguém vive bem com medo de ser enganado. Abandono meu medo do abandono e sigo buscando minha própria emancipação, enquanto mulher, individual e coletivamente.

Abandono

Já foi dito que o homem (sic) é um animal social por natureza. Enquanto integrante da sociedade, o ser social depende de suas relações sociais inclusive para sobreviver. Eu não levo em consideração pseudo-eremitas que não pagam aluguel porque vivem com os pais, trancafiados em suas bolhas impenetráveis. Já conheci alguns e a experiência foi mais que péssima, pois minha presença, ou de qualquer outro, só era requisitada para utilidade. Odeio pessoas puramente utilitaristas, ainda que, sabemos que a maioria das relações ainda assim sobrevivem dessa maneira, somos seres sociais, precisamos uns dos outros. Eu sou da multidão, não daquelas dos shows lotados (depende da intenção, claro), mas que leva em consideração a vida em sociedade na sua forma mais pragmática: no desejo e no ensejo do compartilhamento. Na ajuda, no companheirismo, no ideal de igualdade. A gente precisa de individualidade, mas precisa saber estar aberto suficiente para não precisar e pedir mais do que está disposto a doar. É uma via de mão dupla. Sempre digo que odeio pessoas egoístas, perdidas na própria vaidade, que não enxergam dos lados, que sugam e não oferecem nada em troca. Odeio porque meus princípios morais se baseiam nesses fatores citados. Não ter expectativa é uma ilusão. Impor que o outro cumpra com sua expectativa é outra história. É egoísmo? Acredito que ninguém é totalmente altruísta e quem acredita nisso pode ser mais vaidoso do que realmente caridoso. Será que nesse caso os fins justificam os meios? Não sei dizer. Às vezes idealizo demais e, por assim sendo, erro na mesma proporção. Longe de mim sentir as mazelas de um abandono. Que por vezes inconscientemente sentimos em vários momentos. Difícil é viver e ser coerente o tempo todo, seja com suas ideologias, seja com as pessoas que te cercam, seja consigo mesmo. A gente muda muito, sente muito e se perde muito. A racionalidade é um estado necessário. Não se compra, não se vende, talvez se troque. Difícil é ser racional enquanto se sente contrariado, desafortunado, abandonado. A dor que entra em colapso grita mais forte, e assim a loucura parece ganhar força. O medo transforma, o medo deturpa. O medo gera violência, autoritarismo, insanidade. Ainda que as conquistas sejam escassas, é preferível comemorar e se orgulhar da luta que lamentar o fracasso.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Velho bêbado

Tem um senhor, morador de rua, que vagueia perto da minha casa todos os dias. E, diariamente, ele está bêbado. Seus passos lentos e atrapalhados, como se arrastasse os pés. Seu rosto sempre vermelho e os lábios moles que proferem algumas palavras nonsense em conjunto com pedidos de trocados para mais uma cachaça. Ele vai até o boteco da esquina, todos os dias, frequentado por alcoólatras, de várias classes, assim como ele. Seu bafo pode ser capaz de matar um leão, de tão forte, e seu cheiro misturado à cachaça, sujeira e suor se alastra pelo caminho como uma sombra que permeia um corpo esquecido pelo tempo, pelo cuidado ou por alguma razão de viver. As pessoas fingem não vê-lo, o ignoram. Sua espécie é a mais desprezada nessa sociedade. Ninguém quer ficar perto de alguém nessas condições, ninguém vê humanidade ali. É como um selvagem que em algum momento cedeu à repressão que a própria vida lhe trouxe. Não dá pra saber a história de cada velho bêbado que encontramos nas esquinas, becos e botecos sujos da cidade, ninguém liga. Ninguém quer saber. Mas é interessante se identificar de alguma forma àquela condição, mesmo que tão alheia a nós, que temos uma cama e chuveiro quente. Porque qualquer pessoa em algum momento de desespero já teve vontade de sair correndo. Encher a cara diariamente. Tacar um longo e ressoante foda-se a esse sistema que continua escravizando inocentes, que promove guerras civis, que ainda mata pobres, que nos obriga a sobreviver exaustivamente numa escalada que não tem topo. É mais fácil se identificar com um velho bêbado do que com um engravatado que dá risada alta e não sai do celular enquanto come seu insosso prato de buffet caro no horário de almoço oficial de qualquer bairro comercial da cidade. Porque as vezes esse tipo é tão desprezado e tão invejado quanto o velho bêbado (em sua pseudo-liberdade). Nossos parâmetros comparativos são por vezes tão distorcidos que é difícil encontrar humanidade em cada indivíduo. Será que por que nos falta humanidade também?

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Discurso de ódio ao egoísmo

Tem dias que eu tenho vontade de socar a cara de alguém pra ver se passa esse meu ódio de gente egoísta. E o egoísmo tem várias faces, desde usar os outros para o que lhe convém ao pensamento liberal do "privatiza tudo". Privatiza então esse dom que as pessoas têm de serem inconvenientes, incoerentes, aproveitadoras. Taxa elas. Coloca imposto em tudo. Cobra mais caro pra quem é mais rico de safadeza, de moral contestável e abusiva. Vamos protestar pela falta de empatia. Expõe todo mundo. Coloca a cara deles na roda, dê nome aos bois, boys, minas, manas. VAMO BOTÁ PRA FUDÊ COM A GALERA APROVEITADORA!
Ficha suja, todo mundo tem. Mas é importante aprender. Escutar, mais do que falar. Fazer aquele exercício básico de se colocar no lugar do outro, fazendo recortes - não só sociais - mas de vivência. As experiências são diferentes. A forma como cada um lida e encara a vida, também. Ter cuidado com o outro. E, mais que ter essa consciência, pragmatismo. Não adianta ser eloquente pra depois agir incoerente. Palavras não bastam. Como diz Silvio Santos: "só acredito vendo". E assim a gente segue querendo fazer revolução todo dia, com cada pessoa do seu convívio, mas a gente vê que é difícil, então, o que resta é pra partir pro ataque. Ou ignorar completamente, quando não restar paciência - e não querer socar a cara de alguém. Ou, mete o louco, como dizia minha mãe: "bebe água que passa". ARGH!

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A pena

Sigo delirando na vida que é me imposta e reluto em aceitá-la nos seus termos mais conformistas. Quero um mundo mais honesto, nem que eu não possa usufrui-lo enquanto viva, mas que fique de herança da minha breve estadia. Arrogância travestida de altruísmo? Ou uma revolta tão forte (e necessária) que se não for pensando nas próximas gerações melhor não fazer? Essa luta é minha. Deveria ser de todos. Mas é compreensível a desmotivação de cada pessoa. Sigo flutuando porque ainda sou crua em algumas questões, mas das dores, já sou calejada, e isso não significa que doa menos. A questão é que não surpreende mais. Ele diria que é autossabotagem, eu chamo de autocuidado e de percepção deveras aguçada, que beira à enfermidade. Queria uma relação sincera que o machismo passasse longe, mas isso é idealizar demais e o amor não se sustenta assim. Nada nessa sociedade está inerente ao machismo. Me dói porque me faz perceber que continuo falhando. E errando eu sigo me confundindo, me desesperando, me atordoando e me perdendo. Às vezes sinto que não mereço ser amada, não posso culpar a sociedade por me fazer sentir assim, mas também não posso culpar a mim mesma. Só queria um relacionamento que eu pudesse me despir completamente, e eu encontrei, só não sei como me cobrir. Queria me sentir coberta de plumas que de tão macias eu me sentisse acolhida e quentinha, pois estou cansada de flutuar.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Desmotivação

O título me acompanha como um sobrenome. É o terceiro lugar que eu trabalho este ano e não consigo mais me enxergar motivada. Passam-se alguns meses, semanas, dias, e eu já tô querendo pedir arrêgo. Escrevo este parágrafo duvindo de mim mesma. Porque a vida toda ouvi que a gente tinha que valorizar o nosso trabalho, que uma atitude dessas (chegar atrasada, faltar, o contrário da proatividade) é coisa de gente que não precisa do emprego, principalmente da minha mãe, que depois que virou patroa esqueceu-se como é ser funcionária. Aliás, ela acha que é assim que deve ser, que a gente não pode ficar insatisfeito e buscar por oportunidades melhores, que não pode brigar por melhores condições de trabalho etc. Ela tem mudado o pensamento, mas ainda não entende porque pulo tanto de emprego em emprego. Eu tenho vários motivos - que cansei de explicar. A terapeuta disse que eu me afeto muito com o ambiente e pessoas. Verdade. Eu as odeio. Tá, foi exagero. Tem gente legal e gente cuzona em qualquer lugar. Depender de pessoas, especialmente no ambiente de trabalho, pra encontrar a própria satisfação nunca é um bom caminho. E é essa a minha questão. Eu amava a content e as pessoas, mas estava infeliz no trabalho. Eu odiava a mestiça porque o ambiente era um lixo e não gostava nenhum pouco do meu trabalho. Neste lugar, eu amei o dinheiro, mas não tenho mais paciência e nem alma pra vender pra fazer qualquer esforço em me enturmar pra continuar lá. Por: dinheiro. Não aguento mais buscar por: dinheiro. Já me fodi tanto com a falta dele e com o desemprego que talvez eu devesse agir conforme minha mãe e o Temer acham: não pense, trabalhe. Acontece que então nem tenho como começar porque meu trabalho envolve totalmente o pensar. Se não estou bem, não trabalho bem. Porque toda aquela lavagem cerebral que passei em achar algo positivo na propaganda morreu. Tô quase virando militante anti-publicidade de tanto argumento que encontrei. Vou fazer uma anti-campanha. Criar uma estratégia do caos. Fazer um brainstorm pra chegar na melhor ideia de desordem e algumas peças de anarquismo pra derrubar esse governo golpista e saquear a casa e as contas de quem tem mais de 2 milhões de propriedade e renda líquida. Tudo isso de forma conceitual, o slogan até pode ser: "Distribua seus bens ou renda-se". E o posicionamento: "O poder é nosso". Ah, isso seria um prazer, rs. Sonho de princesa, aliás, de pebleia.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Abuso

No primeiro ano da faculdade, minha referência de jornalista era o Caco Barcellos, autor de dois dos meus livros de investigação jornalística favoritos: O Abusado e Rota 66. O primeiro traz um relato em primeira mão (trabalho de campo), de consistência imparcial - ainda que moderada por própria dificuldade do impacto que a linguagem pode causar - sobre a trajetória do Marcinho VP, líder do Comando Vermelho, da sua ascensão à sua queda, com entrevistas com pessoas próximas, familiares, policiais exonerados etc, tudo numa narrativa concisa e coerente aos fatos. É um livro de mais de 500 páginas que consumi como se fosse um irresistível hambúrguer num dia de TPM. O segundo é uma denúncia indireta - com nomes pouco disfarçados dos personagens - aos comandantes da Rota e dos seus casos de extermínio em massa. O trabalho minucioso e sensível do Caco me encantava, eu sentia que era isso que eu queria fazer. Caco romanceava duas histórias que se confundem, porque em ambas há o abuso da polícia militar e a impotência do cidadão comum de se defender desses abusos e deixar de ser vítima. Quase dois anos depois, comecei um estágio numa editora sendo explorada redatora/repórter assistente de duas revistas, uma de artesanato e outra de gastronomia. Não consigo resumir a série de abusos que vi e vivenciei naqueles insuportáveis 9 meses. Foi a primeira vez que pedi demissão na vida. Ambiente opressor, machista e elitista, onde a maioria, veja bem, era composta por mulheres, desde a recepção à sala da editora-chefe. A editora faliu. Muitos funcionários dali hoje trabalham com a publicidade mais tosca que existe, que é das mídias sociais, feita por ex-jornalistas que escrevem textões sobre produtos achando que estão informando e não vendendo, mídia barata, trabalho sem conceituação, apenas textão explicativo. Gosto de rir porque eu mesma já acreditei nessa mentira e gosto de ver pessoas arrogantes quebrando a cara. É o prazer da vingança indireta. Outros trabalham em jornais de bairro, ganhando pouco e dependendo dos releases da subprefeitura local. Ou seja, não é um trabalho de redação ou reportagem, e sim de edição, você apenas altera parte do conteúdo de um texto escrito por alguém, que tem diversos objetivos, inclusive. Lembrando que press-release é o começo da propaganda, em conjunto com a relações públicas, adentrando o jornalismo. O press-release é o material do assessor de imprensa. É o ópio dele, é quando ele transforma produto em conteúdo, travestido de informação. Naquela mesma época eu já havia aprendido as teorias de pharmakon, e sabia que o que eu trabalhava também era cosmética. Alguns colegas de sala trabalhavam com o veneno, em revistas de fofocas e/ou sensacionalistas. Anos depois, acabei migrando para a publicidade numa agência de health care em que boa parte do meu trabalho era conceituar remédios e, com o tempo, minha linguagem de trabalho foi se transformando. Eu, que acreditava na linguagem como forma de remediar, provei do meu próprio veneno. Caco Barcellos a essa altura já estava em Paris, local onde encontrou exílio após a perseguição (de policiais, políticos e traficantes) dos que trataram O Abusado como um enaltecimento da figura do dono do morro, mas que também expôs muita gente. Na época, o texto de Caco foi comparado ao que fizeram os autores dos livros didáticos sobre a história de Che Guevara: "transformou o bandido num herói". Eu pensava se eu teria culhões de invadir uma zona de guerra, como o Caco, sob o risco de ser morta ou ganhar um Pulitzer, para o orgulho de minha família, enquanto tomava café expresso sentada dentro de um pequeno escritório numa região classe média de São Paulo. Momento confuso da vida. Vivia um relacionamento abusivo. Ganhava pouco mais do que no estágio de 3 anos antes. Minha mãe se recuperava de um câncer. E eu ainda sofria com os pós-efeitos de ataques de gordofobia. Experimentava o desgosto de episódios de anorexia e depressão. E não encontrava mais chão. Continuei por inércia. Passados quase 3 anos no mesmo lugar, mesmos clientes, um salário um pouco maior e um peso nos ombros por conta de todo estresse que aquela situação me causava, depois de vários relacionamentos interpessoais fracassados, várias questões, pessoas e situações difíceis, todas vividas durante esse período, passei a pensar na morte como subterfúgio para um grito interno. Muita coisa mudou depois disso. Hoje, anos e anos depois, encontro questões parecidas, mas notei que em grande parte das escolhas que tomei, das situações opressoras que mantive - e depois corri num impulso de desespero -, eu era a minha principal abusadora. Mas isso só seria possível de se concluir se eu acreditasse que minhas escolhas são inerentes ao ambiente e a todos os fatores que se movimentam ao meu redor, como se eles não me afetassem. Hoje, concluo que a melhor escolha é aquela que é tomada através da crença no próprio juízo do momento, mesmo que se ao olhar para trás, não faça sentido ou você não se reconheça. Pra não dizer mais: fugir de abusos em quaisquer situações, seja no corporativismo, nos relacionamentos afetivos e interpessoais e, claro, antes de tudo, consigo mesmo.

sábado, 18 de agosto de 2018

Mulher fácil

Não importa sua linha de frente ou de estudos, você sempre estará fadada a sofrer com a face mais bruta do machismo - porquê você tem conhecimento, já disse alguém que a ignorância é uma benção -, especialmente quando você mantém relações heterossexuais. Porque o homem do seu lado sempre será um homem hétero e independente da cor, da classe, da origem e da luta dele, ao lado dele você sempre enfrentará situações de opressão. Porque você sempre será a mulher da relação e trará todo estigma que isso traz. Você sempre será a pessoa menos benquista. Sempre será aquela motivo de confusão e competição. Ninguém olhará pra você sem antes trazer dois mil artifícios pra te reduzir à figura da mulher, da frágil e extremamente subestimável. Você nunca será boa o bastante. Nem pra ele, nem pras pessoas ao seu redor, nem pra sociedade, que te condena desde o útero. Você sempre será quem carregará o peso do machismo no seu ombro, porque para o homem ao seu lado é só uma questão de compreensão. De esforço. E a maioria das pessoas não quer se esforçar pra entender o outro. Dá trabalho. Cansa. Ainda mais se pensar que poderia ser mais fácil. Claro, se você fosse mais fácil. Mas, no fim, você sempre estará sozinha nessa questão.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Los ojos del alma

Existe uma resposta inapta para tudo o que os olhos são capazes de expressar. Sentir é mais que preciso. Mais concreto e palpável. Porque o que eu sinto parece inesgotável. É um calor incansável. Nunca terei palavras pra conseguir verbalizar o que jorra aqui dentro, talvez por pura inabilidade ou simplesmente timidez, ou, melhor, por achar que não será suficiente. Jamais será. Me pego desprevenida olhando dentro dos seus olhos e percebendo meu reflexo, é como se a metáfora fizesse sentido: me vejo através de você. E uma chama paira no meu interior, gritante, mostrando o quanto é forte o que eu sinto por você. Mil pensamentos dominam a minha mente e tornam esse momento mais estimado. Você, pela primeira vez, como ninguém, me deixa sem palavras.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Amor romântico, dores e especulações sensoriais

Sempre fui do tipo que se questiona tanto e permeia por tantos pensamentos até chegar à estafa. Essa mente incansável não dorme até não encontrar um motivo razoável para baixar a guarda, ou qualquer sentimento, mesmo que efêmero, que sugira alguma possível resolução. Mas, veja bem, isso é uma fraqueza. E, apesar disso nunca ter me impedido de agir e de buscar por condições melhores, independente da origem dessas necessidades, em algum momento a confusão vem e, com ela, uma série de dúvidas e perguntas vazias. Quero sentir tanto que quando tenho contato com essa profundidade, me assusto. As pessoas falam de amor através de suas ideologias e convicções, e idealizações, que não sobra espaço para apenas sentir, sem questionar, sem tentar destrinchar algo que às vezes não tem uma explicação racional e crua. Uma explicação que vai saciar essa urgência. Eu não gosto de romantizar o amor, mas ao mesmo tempo idealizo com metáforas e tentativas de definir algo que nem eu mesma entendo. Eu acho que é porque se trata de uma série de sentimentos e sensações. Talvez o amor não tenha pressa. Mas a vida tem. E a gente muitas vezes escolhe amar por saber que talvez não sobre muito tempo para experienciar algo tão belo. Talvez a gente apenas não tenha que separar as coisas em caixinhas. Estigmatizar e moldar de acordo com a nossa ótica pessoal que muitas vezes é deturpada pela indústria que faz chover poemas do século XIX, pelos remanescentes sofredores que são também grandes poetas da nossa cultura, pelo amor que se recebe da mãe (e aquela falácia de amor materno que tudo salva para vender bolsa Luis Vuitton no Natal e perfume da Avon no dia das mães) e por uma série de referências que nos impactam e consentimos por toda nossa vivência. Amor também é uma construção social. Amor também pode ser sofrimento. Amor também pode ser aquela explosão de sensações tão doces que parecem ter gosto de sorvete e tão leves que parecem sair de uma brisa num fim de tarde de verão, aquecem a alma e nos tiram um sorriso fácil. Essa vida é dura e muitas vezes deprimente. Às vezes, escolhemos certos caminhos que nos levam pra esse poço de dejetos mal cheirosos. Às vezes não. A vida nos carrega. E o amor, que eu não sei como descrever e nem compreender de fato, pode deixar tudo mais afável e brando. O que nos resta, assim como tudo nessa vida, é viver. E amar, se possível.

domingo, 5 de agosto de 2018

Alegorias

É o medo compulsório da paranóia. Deixar de ser solo e perder individualidade. A ideia de dividir a vida que é mal digerida. O dorso descoberto para o acaso. Segurança a partir de uma falsa ilusão. Especulação sem sentido. Declínio. Delírio. Certeza. Vulnerabilidade. Discurso teatral. Incoerente. Incerto. Romantizado. Estardalhaço. Sombra do passado. Devaneio. Sono. Tesão. Tensão. Falta de foco. Superestimado. Ego. Orgulho. Amor. Lapso. Dormir.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Hipnotizada



Não gosto mais da ideia de romantizar a vida real, mas de fato sua chegada a suavizou. É quase como se você fosse um oásis no meio desse meu caos pessoal. O sorriso lindo que contagia e me enche de esperança, e agonia. De não ver as horas passarem para te ter nos meus braços novamente. Sentir teu cheiro e me perder no teu abraço. E desejar que teu gosto não suma dos meus lábios. Passo o dia tentando relembrar cada detalhe teu, sob uma incansável obsessão, aspirando o momento de saciar o insaciável. É uma fome que faz o coração retumbar, e entrar em degelo a cada despedida. Essa energia tua que parece arder, de tão quente, e me faz te querer, de tão urgente. Não consigo parar de te olhar, é como se tua visão fosse cosmética, ou puro mel, de tão afável. Odeio ser clichê, poderia inventar a roda pra tentar descrever o que sinto por você, mas sou humana e, assim, me entendo. Que só quero passar o dia entrelaçando os dedos nos teus cabelos, admirando a beleza do teu ser.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Eu não sou líquido



Eu não sou líquido, mas me sinto escorregando pelas arestas do que chamamos de vida adulta, ou, pelo menos, às concepções relacionadas à ela. E esse líquido tem um gosto amargo. Comecei a semana sendo invadida, novamente, por questões relacionadas ao trabalho. É muito tempo de vida perdido fazendo algo que não se acredita. A vida é breve e ela tem chamado nesse sentido. Vi um gráfico num site de empregos que dividia o entendimento em se ter um emprego e uma carreira, dando a entender que se ter uma carreira em que se acredita e em que se investiu muito tempo, esforço e dinheiro, é recompensador. É como vivenciar a tão sonhada experiência da carreira dos sonhos. Fiquei furiosa me perguntando quantas pessoas passam, muitas vezes, a vida inteira, acreditando nesse ideal falso e presunçoso, e em quantas nunca acordam dessa ilusão. O mais intrigante disso tudo é que eu trabalho com isso, vendendo uma ideia com o objetivo de gerar consumo, e foi sob esse conceito falacioso que eu tentei perverter a minha mente, centenas de vezes, achando que estava prestes a adquirir isso. Fiquei relembrando quando comecei e quanto eu evolui nas minhas habilidades. Eu sou agora o que poderia se chamar de redatora criativa modelo. A questão é que não quero ser um modelo de fábrica, mais um zumbi correndo de estação à estação, mergulhada num mundo corporativo que mais suga que fornece, e gastando todo meu dinheiro de bar em bar pra tentar esquecer o quanto de mal tem no mundo - e que a área que trabalho, muitas vezes, só colabora para isso. Capital é a base de tudo, é o que faz girar esse mundo. E isso me preocupa. Depois que comecei esse texto, percebi que já tinha escrito algo parecido há dois anos (aqui e aqui), mesmos questionamentos e angústias. Sigo sem respostas. "Use o sistema ao seu favor", é o que me disseram semana passada e é o que eu vejo a maioria das pessoas fazendo ao meu redor. Pessoas, essas, que também se questionam sobre tudo isso. Já desejei ser menos pensante. Fazer tudo no modo automático, fechar os olhos e apenas fluir, mas eu não consigo e agora sei que não quero mais. Sinto que tenho mais decisões a tomar, e com cuidado poder me encontrar em busca de um futuro mais ameno e honesto comigo mesma.

"O presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da ação.", Simone de Beauvoir

domingo, 1 de julho de 2018

O pêndulo e a vela


O tempo nunca foi meu amigo. Na verdade, eu nunca consegui acompanhá-lo. Penso que não há liberdade quando se tem que viver conforme o tempo que foi determinado a você. Nessa sociedade que prega o egoísmo como condutor de uma vida que se espera que você tenha, o livre arbítrio é uma farsa. "Jogue o jogo deles", eles disseram, enquanto no andar de baixo, havia um garoto de 19 anos, periférico, negro e gay sofrendo bullying de sua chefe, um dos motivos que supostamente o levaram a ter um surto psicótico meses depois. Quem aguenta viver nessa cidade com sanidade? Sempre correndo, sendo esmagado dentro dos transportes públicos, perdendo horas no trânsito diariamente e constantemente se perguntando que merda de vida é essa. "Tenha uma vida que merece ser vivida", quando se alcança isso? Ou essa frase é só mais uma fábula desses poetas que eram completamente infelizes, sempre buscando algo inexistente para aliviarem suas dores? Não é à toa que os mais famosos também eram bons poetas de bar, tinham problemas com álcool. A verdade é que não tenho conseguido mais me divertir sem álcool. As mudanças bruscas que passei me deixaram séria porque é preciso força para encará-las com firmeza até que se solidifiquem. A questão é que não quero que se tornem estruturas, porque eu gostaria de dançar um pouco pela vida antes que as coisas concretas tomem forma. Eu quero um minuto de paz, porque o tempo não tem sido legal comigo. Ou, talvez, porque eu não tenho conseguido aproveitá-lo de uma maneira sadia. Eu quero mais, ao mesmo tempo que não tenho certeza do que quero. E encarar esta confusão diariamente tem me feito enlouquecer. O tempo não para, e as vezes quando quero, ele não passa. No fim somos apenas peças do tabuleiro, temos apenas que nos mexer para jogarmos, sem saber qual é a jogada certa. Ele me disse: "É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão", eu o vi com uma luz, sua proposta me trouxe uma claridade, mas há uma voz no fim do túnel me dizendo para não acreditar nisso, assim como todas as outras vozes que sempre me disseram para não confiar em ninguém. E eu confio. Mas não consigo encontrar minha própria luz.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

A pressa que nos faz comer no prato vazio


Começo com uma questão porque, diferente da maioria dos posts, eu não quero trazer certezas vazias dessa vez. Até porque, continuo me perguntando do porquê da pressa em se ter certezas, sendo que eu assumidamente não as quero. E me sinto hipócrita ao dizer isso porque tenho entendido bem as diferenças entre querer e conseguir. Não sei quando ou porquê me tornei essa pessoa controladora, ou talvez eu sempre tenha sido e não tenha percebido. Até agora. A terapia tem me ajudado em algumas questões, especialmente nesta, que tenho tratado com atenção. E percebo o quanto essa ansiedade tem influenciado completamente nas minhas ações por toda a minha vida. A principal atualmente é a minha necessidade de viver essa paixão descontrolada. Pessoas apaixonadas ficam loucas, porque agem impulsivamente, como drogadas, necessitando seu consumo sabendo que nunca se sentirão saciadas. Tem até estudo pra isso, tem até esse cara aqui, discorrendo maldosamente sobre:
 

Ontem, após terapia eu me perguntei se poderia me dar ao luxo de aceitar o fato de que o amor da minha vida está do outro lado do oceano. - Talvez eu tenha exagerado em usar "amor da minha vida", mas eu estou apaixonada, ainda, então, posso me dar ao luxo de ser exagerada também? - Eu não sei se é luxo, ou inocência, mas não posso mentir para mim mesma que eu consigo esquecê-lo e, inclusive, que eu deveria ter pressa para isso. O nosso mundo tem pressa e também é muito egocêntrico na hora de te incentivar a seguir outro caminho. É como se toda vez que algo não der certo, você parte para outra (sendo melhor ou não), ou, então, no meu caso, quando eu acho que algo está me fazendo mal, eu tenho que pular fora e, se possível, com um salto tão alto que fica impossível do outro me alcançar. Eu já fiz isso muitas vezes, com pessoas e situações. Eu me sufoco e saio correndo necessitando de ar para preencher meus pulmões vazios. Com ele eu não consegui, e hoje, eu entendo que não preciso. Não preciso também apressar a conveniência de sempre encontrar uma pseudo-solução para tudo. É uma preguiça, de querer resolver as coisas na minha cabeça porque não suporto ficar indecisa ou não ter respostas, isso me perturba, me tira o sono e o chão. Eu também não preciso mais ser essa pessoa, talvez eu devesse entender como melhorar isso. Eu não posso arrancar uma pessoa dentro de mim sendo que na minha mente ela respira profunda e ininterruptamente. Tem coisas que dependem do tempo, que passa num compasso próprio e que ninguém tem controle. E esse passar ilude ou é certeiro, dependendo da sensibilidade individual de cada pessoa. É como na questão sobre ser pássaro ou árvore e a nossa pressa em responder uma pergunta tão cheia de interpretações e tão rica em entendimentos. Ninguém precisa ser um ou outro, nem por ora, nem como imposição, a natureza é tão mutável quanto a gente, ainda bem. Mas, ainda assim, eu procuro criar raízes e talvez essa seja a maior incerteza que tenho me deparado. Tenho pensado bastante sobre ser mãe. Na realidade, penso mais em ter uma filha do que de fato ser mãe. Li sobre a necessidade do controle nesse ato e também sobre a lavagem cerebral que nós, mulheres, sofremos desde os primórdios, sobre a possível realização encontrada na maternidade. Sinto que não estou me confundindo, seja porque estou chegando perto dos 30 - e existe toda a pressão envolvida em ser mãe até essa idade -, ou porque me sinto vazia e acabei de influenciando de alimento alucinógeno ou alienador. Apenas sinto que quero fazer isso algum dia, mais do que uma meta a ser cumprida, sinto que esse momento está chegando. Eu não me imagino passando por qualquer momento da maternidade, mas quero ter a oportunidade em criar uma criança para o mundo, passar meus ensinamentos de alguma forma e vê-la crescendo e se tornando passarinho. É assim que me vejo criando este ninho. Já falei um bilhão de vezes para a terapeuta que não consigo me imaginar dividindo a minha vida com alguém, sendo feliz, construindo família e planos, porque eu nunca tive um relacionamento saudável por muito tempo. Eu fico acreditando que tudo vai dar errado, que o cara vai ser abusivo, que vai ser folgado, etc etc. E, mesmo dentro de um relacionamento, eu nunca consigo ficar muito tempo feliz ao lado da pessoa, sempre algo está errado. Já quis acreditar que é porque não era a pessoa certa, mas lembro que isso aqui é vida real e que deveria ser natural ter relacionamentos saudáveis. Em inúmeras conversas, observando fatos e ouvindo histórias, eu me apeguei muito, ao longo dos anos, à força da mulher, especialmente, ao fato de ser mãe. Devido à história da minha mãe e de todas as referências femininas que estive próxima - eu até tenho certo repúdio por mulheres dependentes e carentes demais, é como se eu as ignorasse (não tem porquê comparar se eu sinto o mesmo repúdio por homens, não tenho essa referência e existe todo um contexto social e histórico para muitas mulheres agirem assim), eu sinto que é algo que eu quero fazer um dia. Ele apareceu e me pareceu como uma promessa para um futuro assim, como eu desejava secretamente, e diferente de outros caras com quem estive, ele tem essa energia supostamente feminina, algo um tanto maternal. É estranho eu ver dessa forma, mas isso é apenas uma característica que eu encontrei e sob meu olhar, mas é um fato que eu também quero ser cuidada. Ao mesmo tempo que tenho essa angústia em não querer depender jamais de um homem, eu preciso admitir que eu quero receber isso. Porém, minha mente me confunde, porque eu também tenho medo de cair na cilada de ser a pessoa que só cuida e foi isso que ele me mostrou que poderia acontecer, à distância, devido aos comportamentos visivelmente manipuladores. Terapeuta concluiu: em qualquer relacionamento - que é sempre uma relação de poder (como ela disse na sessão anterior) - vai existir a dependência e ela vai ser sempre algo negativo ou positivo, e pode ser positivo, ambas as pessoas podem cuidar uma da outra e vice-versa e realmente ser uma relação de parceria, e tudo bem se sentir dependente disso, se for saudável assim. Para finalizar, recitou Tom Jobim: é impossível ser feliz sozinho. Talvez seja verdade, apesar de eu ter discordado tempos atrás. Somos mutáveis, é assim que fala?
  

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Perdi minhas estribeiras

Venho por meio desta declarar meu pavor chamado amor.
Me foi deflagrada a fome, mas alimento, não me resta.
Então, este temor não persiste, porque não existe.
Não quero me enganar, mas de fato, não há concretizar.

Falhei miseravelmente em aceitar, sem balbuciar.
Que amor pela metade, não tem como sustentar.
Toda essa loucura dentro de mim.

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Dois poemas de Pablo Neruda:

SONETO XVII
(...)
Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,
a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

SONETO XLIV  
(...)
Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.
O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Big girls cry

Fudeu a minha cabeça. Bagunçou a minha vida. Chegou como quem não queria nada, quando o olhar entregava tudo. Você queria o meu mundo. E eu apenas represento parte desse mundo imaginário da sua mente. Como se eu fosse apenas uma extensão disso. Eu me enganei porque me deixei enganar. Achei que valia a pena. Esperei, esperei pra caralho. Esperei até chegar o momento que eu vi que não tinha volta. Era muito tempo perdido para nada em troca. Pensei que com você seria diferente, e foi. Mas foi uma bela bosta. Nem posso ir na tua casa, te xingar pela janela. Não pude nem ao menos dizer adeus olhando nos teus olhos e vendo você aceitar isso. Eu achando que não tinha muito a oferecer, mas ofereci meu coração, e você, o que fez com isso? Você não sabe ser amado. Talvez você não queira, talvez você seja egoísta demais para sentir isso. Talvez você seja só mais um cara babaca que não sabe o que quer da vida, mas não pensa antes de enfiar as pessoas no meio dessa confusão. Talvez, não. Foi tudo isso o que aconteceu.

Qual é o meu norte?


Hoje, durante as andanças que indicam os novos caminhos que escolhi trilhar, vi um lambe no muro escrito: "Qual é o norte?", e percebi que talvez eu nunca tive um. A vida toda eu só tomei decisões baseadas na minha impulsividade ou porque estava perdida e precisava de respostas, urgentes. Como sempre, nunca agi conforme uma linha, buscando algo de fato mais concreto. Tudo o que eu tenho em mente é com base no "achar" e no "sentir", coisas que dominam - e perturbam - a minha mente. Uma vez, há quatro anos, uma pessoa me disse que eu era muito leve, muito diferente dela, que era preocupada e com os pés no chão. Mal sabe que ainda a odeio por ter me julgado tão levianamente. Porque eu sou pesada demais. Sensível demais. Ansiosa demais. Incorreta demais. Intensa demais. E problemática demais. Eu não sei viver pela metade, eu apenas sinto e quero dar continuidade a este sentir, porque eu também não sei sentir pouco. Com isso, eu me machuco, não tenho cuidado, nem meias palavras, e esqueço de mim, sempre. Que mal é este, que carrego nos ombros, que não me faz tomar atitudes mais zelosas comigo? Eu tenho que querer tanto assim? Sentir tanto assim? Por que o tempo é sempre meu inimigo? Eu não consigo viver no tempo que essa sociedade doente me obriga a seguir. E com isso, eu gasto mais do que deveria ou acabo sendo extremamente otimista, a um ponto que beira à inocência. Eu não quero ser moldada. Eu apenas queria viver conforme sinto que tenho que agir, sentir, começar, parar, retornar, nunca mais voltar. Eu vivo um momento tão maluco que eu nem sei mais o que eu quero, porque agora, após todas essas tomadas de decisões, eu já não sei se elas fazem sentido, porque o meu sentir me diz o contrário. Desconfio de mim mesma, porque meu discernimento é sempre nebuloso e completamente dependente das minhas emoções momentâneas. Ao mesmo tempo que eu procuro uma vida mais estável e equilibrada, eu nem sei onde encontrar ou como começar. "Seja mais gentil consigo mesma". Eu sei. Mas eu realmente não sei como. Eu tenho esse problema com amar. Não sei se porquê escolho as pessoas erradas, se atraio elas, ou apenas porque a errada sou eu. Talvez um pouco das duas coisas. É muito inconveniente dizer "preciso me afastar de você" poucos dias depois de dizer "eu te amo" e em outra língua. Que confusão fui me meter. Seriam dois meses completamente desperdiçados? Ou uma forma de eu aprender logo que eu tenho que me amar mais antes de querer amar alguém? Que bagunça.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Desfragmentada

Quantas vezes eu vou me perguntar: que merda eu estou fazendo da vida?

Ano passado, mesma coisa, mesma época. A ansiedade mistura com a vontade de meter o louco fica fazendo o meu cérebro fritar até perder o sono por semanas seguidas, até que chega a exaustão. Da euforia à depressão. Meu corpo já grita comigo tentando me salientar que eu estou fazendo errado. E minha mente me convence de que eu sempre faço tudo errado. O que estou esperando tanto para que as coisas fiquem assim? Eu nem sei o que eu estou buscando. Me engano tentando me entreter sem saber o que pensar, o que fazer até chegar este momento em que eu não quero fazer nada. Em que viver é uma lástima. Até a vontade de fugir sumiu, assim tudo vai se transformando na vontade de sumir.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Limpeza de lente e concreto

Eu me encontrei em mim mesma assim que eu percebi que não preciso de muitas coisas para ser feliz. Não preciso de posses, um carro na garagem, uma sensação de extremo conforto financeiro e material, mas sei que preciso de amor, seja de quem for, de amigos, da família, ou de alguém que mal conheço, mas que me faz me enxergar completamente despida de incertezas. A vida tem se mostrado afável comigo, como se eu estivesse prestes a conquistar coisas que eu lutei. O problema é que tudo isso demanda espera e a minha ansiedade me faz me perder às vezes no álcool e na extrema necessidade de me manter em movimento, buscando por uma diversão abusiva e que tem afetado meu bolso e meu corpo. Eu já nem estou mais tentando ser vegetariana nos últimos dias, porque minha fome por viver tem sido tão insaciável que não consigo mais distinguir o que é gula ou fome. Mas eu não caio. Eu me mantenho numa corda bamba sem escorregar, como uma verdadeira equilibrista. Não que eu me sinta equilibrada, não posso mentir para mim mesma, mas porque eu aprendi que como não cair. Eu me sinto forte, como se nada pudesse me abalar e é sob essa força que eu vou lidando com esse presente desgastante e tentando plainar sobre a vida de uma maneira, quase, positiva. Eu sinto que mudei e talvez tenha crescido, provavelmente. Hoje, meus sonhos são outros, eu não tenho mais tesão em fugir e testar loucuras sob outra ótica, porque minha vista estava embaçada e agora tudo parece mais claro para mim. Eu quero mais que trascender, eu quero construir. Nem que seja tijolo por tijolo, e com isso, muito suor, mas argamassa não falta, porque até nisso eu vou conseguir esculpir. Está tudo bem, tudo bem.

Last day of magic


Você foi o mais próximo do que eu poderia sonhar. E eu sonho muito, mas nunca vou muito além porque a vida me ensinou a ser realista. E, às vezes, pessimista. Sonhamos juntos, mas o peso da realidade endureceu muito antes que pudéssemos concretizar algo. "A vida é como um sonho, acordar é que nos mata", disse Virginia Wolff. Você despertou para a sua realidade e esqueceu-se deles. E assim, eu sigo te esquecendo mais a cada dia. 

domingo, 22 de abril de 2018

When my world stopped


Since you've been gone, I've been trying to follow my life in a positive way. I try to see the good side of your absence, because I know I'll have you in my arms soon, but it's as if time has frozen. It doesn't pass. It just went fast while you were here. And during that time I have sought in alcohol some comfort and also with the company of friends, and good that I have the best. But nothing, nothing, relieves the saudade. Essa saudade fica cada vez maior, ela não diminui, ela só aumenta e eu não sei como isso é possível. Mas, é assim que tem sido.
But I have been trying to learn from you to be glad, and that is what has given me the strength to move on and also to pursue dreams that I've never had before. How could you, in less than a week, do that to me? I've never shared dreams with anyone else. I've always had difficulties with that, because, despite having already had several relationships, no one was able to get me off the ground. And with you I feel like this is possible. With you, I feel like everything can be possible.
I never trusted anyone that way, because I always thought that they would deceive me, I was always afraid of being myself, and every time I went completely, raw and naked, the other person didn't know how to handle. And I've been living like a birdie looking for somewhere in the world where I could travel in various places without clinging to anything, but now I feel something much bigger than continuing flying that way. Now, I know how and where to fly. I'm always light and free but I'm not just that, I'm a million things and you seem to deal well with all this universe that is me. With your sweet and honest way of being, you conquered me and won a world within my heart. And I feel loving everything I know and I find out from you. Sometimes, I feel that it's very surreal to imagine that I could identify with someone from another part of the world and want to be with that person more than anything. I feel like I'm plunging into your dense world, but not drowning, not because we're shallow, but because you're also a million things and I wonder how I can swim in this whole universe that is you.
My world stopped because we opened a door that has no way and why be closed. And as we pass that door, it's as if there is no distance, no fear or pain. It's where we can fly and dive without falling or drowning. I don't want to just have a romantic view of you, but I feel you so strong inside of me that I can't ignore the fact that it's you, the one, that I want by my side. You are the one that I feel that I can be myself, that I feel that I can take in your hand so that we can dance in this crazy world, it's with you that I want to live the best that anyone can live in this life. And I want my world to not stop, and let it keep moving until the universe makes it possible for us to meet again. Que o universo se mova para que o nosso encontro aconteça e seja infinito.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Trago verdades: Você não precisa de um carro para ser independente



Resultados de pesquisa — Google

Faço 28 este ano. Moro sozinha há 3 anos. Trabalhava com meus pais desde os 10. Trabalho fora desde os 19. Aprendi desde cedo a cozinhar, limpar todas as partes da casa, a lidar com dinheiro (apesar de ser bem ruim com isso) e principalmente com a falta dele. Cuido de dois gatos. Reciclo lixo. Me preocupo com consumo consciente. Meu maior meio de transporte é à pé — porque roubaram minha bike. E pego uber/táxi quando estou muito cansada ou quando está muito tarde, muito escuro e muito vazio para andar à pé ou esperar ônibus, porque sou privilegiada. Tento manter uma alimentação vegana diária (apesar de cometer deslizes aos finais de semana que não me fazem sentir culpada). Dou comida para animais de rua. Meus projetos pessoais são todos voltados para ajudar mulheres com privilégios menores que os meus — e são MUITAS.

Todos os dias me preocupo em como melhorar o meio em que vivo e como meus pais podem levar uma vida mais tranquila. Porque acho que eles já trabalharam muito e quero ajudar nesse sentido. Mas eu também tenho a minha vida, a minha rotina corrida, os meus boletos para pagar, meus estudos para terminar, minhas ideias para colocar em prática e sempre lembrar de beber muita água para não ficar inchada. Ponto.

E ainda assim tenho que melhorar em muitos aspectos, em muitas coisas, situações, especialmente com relação a comportamento, lidar com sentimentos e sensações etc, etc. Ao mesmo tempo que tento não me cobrar muito. Isso não é saudável.

Eu sou uma só e, apesar disso, tenho sido fiel aos meus objetivos. Eu não vivo pensando só no meu umbigo. Eu trabalho com publicidade e não estou apenas preocupada em entrar numa agência grande ou ganhar prêmios e enriquecer. Eu quero SEMPRE fazer qualquer diferença no mundo, ou pelo menos na vida de alguma pessoa. E se der para fazer isso no meu trabalho, perfeito! Senão, eu corro atrás, e é isso mesmo que estou fazendo (em breve, novidades). Ponto.

Não levo dor de cabeça para os meus pais há anos. O único problema que eu tive — e aprendi muito com isso — foi ter ficado meses desempregada e pedir dinheiro EMPRESTADO para eles em ALGUM momento. Mesma época em que tive depressão, crises pesadas de ansiedade e síndrome do pânico. Mas isso ninguém sabia e não precisava saber. Dos meus problemas cuido eu, não por orgulho ou arrogância, mas justamente porque eu sei pra quem pedir ajuda. Não sou coitada, SOU FORTE PRA CARALHO, BIXO!

Há muitos anos não sei mais o que é ser SUSTENTADA por alguém. Por isso mesmo que esses problemas surgiram.

Passado esse período horrível, mas que me ajudou a amadurecer brutalmente, voltei ao meu centro.

E precisei de um carro para isso? NÃO.

Precisei de amor, de respeito, de apoio, de carinho e convicção.

Lamoonier

Mas, foda-se tudo isso. Porque o que eu preciso é de um carro na garagem.
Preciso ser mais 01 pessoa dentro de 01 carro ocupando espaço nas ruas, poluindo mais ainda a nossa cidade e aumentando o tempo de deslocamento de pessoas com menos condições que eu para atravessarem a cidade.

Tá. Tudo bem. Uma coisa não necessariamente precisa brigar com a outra. Eu posso dirigir e ainda assim ser ciclista ou pedestre. O problema é quando existe uma obrigação enorme em se ter posses materiais em vez do incentivo à evolução pessoal e preocupação com o meio em que se vive.

Carro ajuda em algumas coisas? Sim. Carro dá conforto, te ajuda a chegar um pouco mais rápido em certos lugares e garante a falsa sensação de segurança nos faróis em que há moradores de rua pedindo dinheiro. Isso assim, em São Paulo, porque é aqui que vivo e não tenho como falar sobre locomoção em outros lugares.

Minha luta é voltada a esse tipo de questão:




É esse tipo de coisa que me preocupa. Porque isso afeta a vida de MUITAS pessoas e não apenas a minha.

E, como eu disse: eu tenho dois gatos, estudo espanhol sozinha, faço academia, cozinho minha própria comida — e muito bem — , trabalho muitas vezes até 22 horas da noite e ainda assim tento encontrar tempo para não pensar apenas nos meus próprios probleminhas.

Eu não preciso me preocupar com IPVA, com seguro, com sair e não poder beber.

Eu vou tirar carta? Vou sim. Vou porque GOSTO de dirigir. Vou porque POSSO tirar. Vou porque QUERO tirar. Vou porque QUERO DIVIDIR com meu pai o volante. Mas não porque PRECISO. E vou tirar quando eu tiver dinheiro para isso. E vou pagar com o MEU DINHEIRO.





Em resumo:
  • Não estou crucificando quem os pais pagaram pela carta ou pelo carro. Cada é cada um. Exatamente isso. Cada um sabe da sua história, das suas prioridades e necessidades e deveria saber dos seus privilégios. 
  • Cada um sabe o que faz com o seu dinheiro. 
  • Respeitar a história dos outros é bom, saudável e trabalha a empatia — não que isso importe muito para a maioria das pessoas, mas deveria. 
  • SER, FAZER e VIVER para mim são verbos muito mais válidos do que TER. 
  • Tirar carta é legal. É bom ter um documento que comprove que você pode sair por aí dirigindo um carro. Mas não é isso que torna alguém independente (volte ao sic no início do texto). 
  • Ninguém precisa sobreviver para sustentar coisas que disseram que você precisa. 
  • Mobilidade é uma pauta importante, assim como sustentabilidade. Se você pode viver com menos e reduzir o impacto ambiental da sua vivência, FAÇA. 
  • Quem vive em SP e, como no meu caso, mora em um bairro de classe média, ao lado dos centros comerciais e culturais, onde tem metrô, trem e linhas de ônibus em menos de 20 km e durante vários horários por dia, não PRECISA de carro para se locomover. 
  • Antes de reclamar das pessoas, do país ou cidade que vive, aprenda a conviver em sociedade. Isso significa respeitar os outros, ouvir, compreender, dar voz e espaço. É olhar além da bolha que se vive.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Sorrisos que vêm e vão

Não precisava esperar um favor do universo para realizar o nosso encontro. Você vinha. E eu ia. Assim como nosso sorriso, que era fácil. Nossa alegria era compartilhada. E mútua. Que pena que acabou. E eu nem sei quando. Nem como. Talvez nem devesse ter rolado. Mas eu não me arrependo. Eu transcendo. Me usar de escudo para seus problemas familiares não poderia ser boa ideia. Agora eu romantizo, como se na pele não tivesse sentido. Porque pra mim é um exercício básico. Eu verbalizo. E, ainda bem, que não apenas internalizo. Mas foi difícil. Nossa balança era pesada. Com histórias entrelaçadas que não se conversavam. Só aconteceu por teimosia. Sua e minha. Não sei o que existia. O amor reinou um dia. Mas quando a rotina se petrificou e a ideia de futuro naufragou. Tudo acabou. Hoje eu sigo forte como um furacão e leve como uma pena. Não se sinta mal pela minha franqueza. Hoje sou solo, mas sou maior. Minha alegria é legítima. Vou dançando na vida, com um doce gosto pelo novo. Me sinto viva e acolhida por um invisível. Talvez seja por mim mesma. Que aprendeu a gostar de dançar sozinha.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Quando o medo do fim nos une

Nunca fomos carne e unha.
Éramos braços sem pernas. Preto no branco. Dor e sorte. Lágrimas sem beijo. Óleo e água.

Dormíamos muito, sob sonhos desconexos. E nosso despertar assumia a triste forma da realidade. Vivíamos através da sombra do tempo, que nunca foi nosso amigo. Sem tréguas para um futuro longínquo.

Nem na dor nos encontramos. Os abraços vinham com os suplícios, mas perderam o dom de curar. Perdidos num espaço imaginário da sua mente. E assim, o que nos restou, foi apenas um gosto amargo.

Nós tornamos culpa e defesa. Confusão e tristeza. Delírio e fraqueza. Lamentos e desamor.

Que pena que te restou a ira. Em mim, ficou a esperança de alegria. E a dor.