segunda-feira, 5 de março de 2018

Trago verdades: Você não precisa de um carro para ser independente



Resultados de pesquisa — Google

Faço 28 este ano. Moro sozinha há 3 anos. Trabalhava com meus pais desde os 10. Trabalho fora desde os 19. Aprendi desde cedo a cozinhar, limpar todas as partes da casa, a lidar com dinheiro (apesar de ser bem ruim com isso) e principalmente com a falta dele. Cuido de dois gatos. Reciclo lixo. Me preocupo com consumo consciente. Meu maior meio de transporte é à pé — porque roubaram minha bike. E pego uber/táxi quando estou muito cansada ou quando está muito tarde, muito escuro e muito vazio para andar à pé ou esperar ônibus, porque sou privilegiada. Tento manter uma alimentação vegana diária (apesar de cometer deslizes aos finais de semana que não me fazem sentir culpada). Dou comida para animais de rua. Meus projetos pessoais são todos voltados para ajudar mulheres com privilégios menores que os meus — e são MUITAS.

Todos os dias me preocupo em como melhorar o meio em que vivo e como meus pais podem levar uma vida mais tranquila. Porque acho que eles já trabalharam muito e quero ajudar nesse sentido. Mas eu também tenho a minha vida, a minha rotina corrida, os meus boletos para pagar, meus estudos para terminar, minhas ideias para colocar em prática e sempre lembrar de beber muita água para não ficar inchada. Ponto.

E ainda assim tenho que melhorar em muitos aspectos, em muitas coisas, situações, especialmente com relação a comportamento, lidar com sentimentos e sensações etc, etc. Ao mesmo tempo que tento não me cobrar muito. Isso não é saudável.

Eu sou uma só e, apesar disso, tenho sido fiel aos meus objetivos. Eu não vivo pensando só no meu umbigo. Eu trabalho com publicidade e não estou apenas preocupada em entrar numa agência grande ou ganhar prêmios e enriquecer. Eu quero SEMPRE fazer qualquer diferença no mundo, ou pelo menos na vida de alguma pessoa. E se der para fazer isso no meu trabalho, perfeito! Senão, eu corro atrás, e é isso mesmo que estou fazendo (em breve, novidades). Ponto.

Não levo dor de cabeça para os meus pais há anos. O único problema que eu tive — e aprendi muito com isso — foi ter ficado meses desempregada e pedir dinheiro EMPRESTADO para eles em ALGUM momento. Mesma época em que tive depressão, crises pesadas de ansiedade e síndrome do pânico. Mas isso ninguém sabia e não precisava saber. Dos meus problemas cuido eu, não por orgulho ou arrogância, mas justamente porque eu sei pra quem pedir ajuda. Não sou coitada, SOU FORTE PRA CARALHO, BIXO!

Há muitos anos não sei mais o que é ser SUSTENTADA por alguém. Por isso mesmo que esses problemas surgiram.

Passado esse período horrível, mas que me ajudou a amadurecer brutalmente, voltei ao meu centro.

E precisei de um carro para isso? NÃO.

Precisei de amor, de respeito, de apoio, de carinho e convicção.

Lamoonier

Mas, foda-se tudo isso. Porque o que eu preciso é de um carro na garagem.
Preciso ser mais 01 pessoa dentro de 01 carro ocupando espaço nas ruas, poluindo mais ainda a nossa cidade e aumentando o tempo de deslocamento de pessoas com menos condições que eu para atravessarem a cidade.

Tá. Tudo bem. Uma coisa não necessariamente precisa brigar com a outra. Eu posso dirigir e ainda assim ser ciclista ou pedestre. O problema é quando existe uma obrigação enorme em se ter posses materiais em vez do incentivo à evolução pessoal e preocupação com o meio em que se vive.

Carro ajuda em algumas coisas? Sim. Carro dá conforto, te ajuda a chegar um pouco mais rápido em certos lugares e garante a falsa sensação de segurança nos faróis em que há moradores de rua pedindo dinheiro. Isso assim, em São Paulo, porque é aqui que vivo e não tenho como falar sobre locomoção em outros lugares.

Minha luta é voltada a esse tipo de questão:




É esse tipo de coisa que me preocupa. Porque isso afeta a vida de MUITAS pessoas e não apenas a minha.

E, como eu disse: eu tenho dois gatos, estudo espanhol sozinha, faço academia, cozinho minha própria comida — e muito bem — , trabalho muitas vezes até 22 horas da noite e ainda assim tento encontrar tempo para não pensar apenas nos meus próprios probleminhas.

Eu não preciso me preocupar com IPVA, com seguro, com sair e não poder beber.

Eu vou tirar carta? Vou sim. Vou porque GOSTO de dirigir. Vou porque POSSO tirar. Vou porque QUERO tirar. Vou porque QUERO DIVIDIR com meu pai o volante. Mas não porque PRECISO. E vou tirar quando eu tiver dinheiro para isso. E vou pagar com o MEU DINHEIRO.





Em resumo:
  • Não estou crucificando quem os pais pagaram pela carta ou pelo carro. Cada é cada um. Exatamente isso. Cada um sabe da sua história, das suas prioridades e necessidades e deveria saber dos seus privilégios. 
  • Cada um sabe o que faz com o seu dinheiro. 
  • Respeitar a história dos outros é bom, saudável e trabalha a empatia — não que isso importe muito para a maioria das pessoas, mas deveria. 
  • SER, FAZER e VIVER para mim são verbos muito mais válidos do que TER. 
  • Tirar carta é legal. É bom ter um documento que comprove que você pode sair por aí dirigindo um carro. Mas não é isso que torna alguém independente (volte ao sic no início do texto). 
  • Ninguém precisa sobreviver para sustentar coisas que disseram que você precisa. 
  • Mobilidade é uma pauta importante, assim como sustentabilidade. Se você pode viver com menos e reduzir o impacto ambiental da sua vivência, FAÇA. 
  • Quem vive em SP e, como no meu caso, mora em um bairro de classe média, ao lado dos centros comerciais e culturais, onde tem metrô, trem e linhas de ônibus em menos de 20 km e durante vários horários por dia, não PRECISA de carro para se locomover. 
  • Antes de reclamar das pessoas, do país ou cidade que vive, aprenda a conviver em sociedade. Isso significa respeitar os outros, ouvir, compreender, dar voz e espaço. É olhar além da bolha que se vive.

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