terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Reencontro/Diálogos

Liniker - Zero
"Peguei até o que era mais normal de nós
E coube tudo na malinha de mão do meu coração"

Sinuosa linha que separa o tempo dos acontecimentos. Concretiza feitos, cruza corpos e cria histórias. Intensa a dança que move os passos que procuram um compasso. E os pés vão caminhando em plena sintonia, afagados por açucarados sorrisos. Abraços demorados em conjunto com olhares que oferecem um convite sutil: Fica, ele demonstra. Sorri com os olhos, brilhantes e negros.
Hipnotizados, hipnotizantes. Os cabelos voam quando bate o vento, o corpo esfria, mas encontra no outro. Uma razão para estabelecer a chama que esquenta também o coração. Eu quero, ele diz. E, aos poucos, vai assumindo um lugar sui generis. E o novo vira doce que, denso, derrete e enche a boca de antídoto. Catastrófica, a mente se retorce e entra em frenesi: paixão, receio, loucura. Mas o amor não pode ser veneno. Medo, ele diz. "Quem tem alma não tem calma", parafraseio. Medo dá coragem, ele insiste. Mais coragem, que medo, respondo. Magnetiza energia que atrai os corpos que, a cada novo encontro, provoca um pandemônio nos neurotransmissores. Parece que nos conhecemos há tempos, ele recita, clichê. De vidas passadas, pensei, hesitei, não verbalizei. Que bagunça você fez em mim, conclui. 

Pequena, ele me chama. Grande, eu o vejo
Confia, ele pede. Calma, eu bocejo
Incertezas, ele revela. Concordância, eu apresento
Desejos, ele almeja. Sonhos, eu os quero
Eu te amo, ele despeja. Amor, eu entrego





segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Adeus, velho amigo

Ter cortado nossos laços à força doeu demais. Pois durante muito tempo você foi meu único companheiro. Quando chorei, quando sorri, quando enfrentei momentos difíceis, quando vivenciei a dor e a ansiedade bateu forte, quando estive feliz e me senti repleta, você estava lá. Você estava em todos os momentos mais importantes, inclusive nos mais mundanos. É por isso que me despedir de você tem sido uma tortura. Saber que nunca mais sentirei seu gosto, que nunca mais poderei me sucumbir ao prazer que você proporciona, dói demais. Queria parar de flertar contigo, de te imaginar ainda comigo, de te sugar e sentir meu peito encher. De desejar mais um momento com você e, assim, finalmente te deixar partir. Mas sei que devo me afastar e tem que ser para sempre, que tenho que ser forte e lutar para te esquecer, mesmo que tudo o que eu mais queria neste momento é te sentir nos meus lábios. Sei que nosso relacionamento foi intenso e tão duradouro que parecia eterno, que já me salvou de algumas enrascadas, que já me livrou de algumas trapaças, que poderíamos passar o resto da minha vida juntos, mas sabemos que você nunca me fez bem e sua presença sempre foi tóxica. Se fosse saudável, se chamaria amor e não vício. Portanto, aqui sepulto minha despedida, te enterro com pesar e cubro-te com alegria, que é em memória aos nossos bons momentos. Aqui te digo para ir em paz e desejo que outras pessoas também te esqueçam, que você nunca mais faça mal a alguém, mas sabemos o quanto poder você tem sobre algumas pessoas. Não mais comigo, porque sou forte e resistirei, sou tão grande que você não continuará a me amedrontar e a cada dia longe de você vou me fortalecendo até chegar o momento que você nunca mais me incomodará. Adeus, velho companheiro. Adeus.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Temerosa alma

Aqui eu me rendo. Me rendo porque assumo meus pecados e, perante um júri sem rosto, declamo a minha confissão: eu não sei viver de acordo com o que essa sociedade prega. Eu não consigo me encaixar, porque esta caixa é muito pequena e não há espaço para comportar as minhas asas e, consequentemente, a minha necessidade de voar. Eu preciso ir sempre além, porque é por meio desse ímpeto que eu me sinto viva. É me livrando dessas algemas que eu compreendo um pouco de mim mesma e o quanto meu voo pode ser alto. E eu vou partir todas as vezes em que não puder ser mais feliz e não vou perder tempo. Já dizia Frida que onde não puderes amar, não te demores. E isso também é resultado da minha fúria, da minha fome de viver. Pois também já dizia Fernando Pessoa que quem tem alma não tem calma e a minha pressa é sagaz demais para também me contentar com o fugaz. Eu preciso atingir as profundezas do mar sem ter medo de me afogar, pois eu sei que conseguirei levantar. Sinto que minhas palavras neste momento são necessárias para manterem minhas memórias intactas. Não é somente o desejo de nostalgia, é a vontade de que esse momento nunca se acabe. Minha vida tem mais cor, tem mais sabor e inclusive mais sentido, por que hei de querer que essa densa sensação se torne gasosa e evapore? Por que desejaria outros dias em que a sensação de vazio era eminente? Sou completa, sou feliz e sei das minhas capacidades, mas agora que me tornei maior, eu não vou querer outra realidade. 
Temo, porque sonho alto demais e a queda é profunda. Temo, porque minha coragem se mostrou minha pior inimiga e me distancia da realidade que mantém meus pés firmes no chão. Temo, porque não queria ter que pensar muito, queria que minha mente continuasse fresca e me levasse para onde tudo é belo e calmo. Temo, porque queria estar segura, queria um aperto firme de mãos quentes para poder me carregar. E temo mais ainda por manter este desejo. 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Queria te agradecer

Pelos bons momentos. Pelos sorrisos sinceros. Pelos abraços que aquecem a alma. Pela permanência. Por ter me buscado. Pela insistência. Por ter voltado. E muito além disso: por querer ficar.
Também agradeço por ter demonstrado, sem palavras, mas com gestos francos, de que é sim possível compartilhamos nossa felicidade com leveza. Obrigada também por me fazer lembrar coisas que esqueci no meio do caminho, coisas essenciais como o prazer de ter e para isso, eu não preciso que você se entregue por inteiro. Eu só preciso que você queira ficar e voltar, quantas vezes você desejar e eu quiser te receber. Obrigada por me fazer recordar de coisas tão simples, mas tão importantes.
Queria te agradecer por sempre me incentivar e, de certa forma, esperar o melhor de mim. Por ter me escutado e me apoiado todas as vezes que enlouqueci e você, mesmo sem ter qualquer responsabilidade, fez de tudo para me compreender e, com muito esforço, me ofereceu sua gentileza em forma de palavras.
Queria agradecer também por tornar meus dias mais doces, por ter me mostrado, sem saber, que eu não preciso de envolvimentos que me deixam pesada e por ter sido sempre tão afável e solícito.
Nada é eterno, muito menos a vida, então vamos brindar enquanto ainda pudermos!  Queria te agradecer e aqui estou. Obrigada.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Eu sou o caos

São tantos questionamentos que eu nem sei por onde começar este texto. Só sei que preciso fazê-lo para aliviar em mim este peso. Desde que assisti a um vídeo de um monge entendi que não deveria criar uma imagem de mim mesma, porque isso nada mais é do que dar forças ao ego e eu tento, ao máximo que posso, me desapegar dele. No entanto não consigo me desvencilhar da necessidade de me sentir leve, mas sei que não sou e é assim que eu me perco na minha própria ilusão. Sou densa e preocupada, assim como se descreveu um ser que já teve importância na minha vida. E no momento, tudo o que mais queria era ascender à insustentável leveza do meu ser. Cheguei à exaustão, meu corpo dói, minha mente pifou e assim me dei por vencida. Uma inesgotável necessidade de chorar me invadiu e agora, me sinto vítima de meus próprios pensamentos. Completamente vitimizada. Queria entender porque meu timing está sempre tão desconexo com os homens que entram na minha vida. Por que tenho sido constantemente descartada, por que me dizem que sou admirável, uma pessoa incrível, mas nunca sou a escolhida. Por que desistem de mim, por que me enganam, por que se perdem tanto, por que se confudem, por que me deixaram tão perdida? Eu cansei de tudo, cansei de procurar parcerias em quem não sabe dividir, cansei de relações confusas, cansei de se opção, cansei de ser cuidadosa, cansei de esperar, cansei de ser compreensiva, cansei de ser trocada, cansei de me sentir cansada, cansei de todos. Cansei de mim mesma.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Por que não quero que você fique

Naquela última noite, eu tentei cortar nossos vínculos físicos, mas não consegui porque sou fraca. Meu racional é presente, mas por vezes delirante devido a diversos fatores externos, são meus impulsos que traem o meu consciente. Então eu sugeri te pedir para que voltasse e você voltou, sem delongas, e aquele foi o ápice de qualquer constatação romântica na nossa confusa e gélida relação. Eu estava aos prantos e você deu a ideia de voltar como o salvador da minha solidão, e então tudo voltou a ser efêmero como nos outros dias em que estivemos juntos. Acredito que nesse meio tempo eu tenha me tornado um mártir, porque intensifiquei coisas que para você permaneciam perfeitamente intocáveis, mas eu quis ir além e você se mostrou imóvel e sólido. Sob uma resistência totalmente impenetrável.
Eu demorei para entender que existe um abismo que nos separa, mas quando finalmente tudo veio à tona, eu me vi incapaz de prosseguir com essa desventura. Seguir com isso seria muito além de uma loucura, seria um suicídio, por que, quem em sã consciência, prosseguiria num caminho ilusório que pode não levar a lugar algum? Quem iria querer estar com alguém que não tem certeza sobre você, que se diz confuso e que, durante semanas, não demonstrou qualquer apreço pela sua companhia? Não fez questão da sua presença e nem se fez presente quando você lhe pediu? Quem iria silenciar um pouco dos seus desejos para respeitar o tempo do outro, um tempo que não tem data e nem previsão de manifestação? Quem iria querer continuar numa relação sem futuro, nem eixo, nem ponto de partida e, até mesmo, sem emoção?
Eu me enganei por um momento sobre você, achava que o que tínhamos era leve, mas não, era superficial. Eu não sabia nada da sua vida, mas por alguma razão, sabia muito sobre o seu trabalho e sua cansativa rotina. Eu não sabia nada sobre as suas intimidades, suas dores, as batalhas que você enfrenta no momento - inclusive as internas -, mas sabia sobre a maneira que seu chefe te perturba e o quanto você se cansa com isso.
Você provavelmente não sabe muito de mim, porque não te interessa. Eu sempre achava que estaria invadindo a sua privacidade se colocasse alguma pergunta errada na mesa, e, pelo jeito, você parece sentir o mesmo com relação a mim. Ou você apenas não me pergunta porque não tem vontade de saber e isso já me fez pensar que você me vê com um ventrículo para o seu prazer. Uma fonte infinita de prazer, a opção que resta quando o desejo do escapismo se faz presente. E me fazendo sentir tudo isso, você declara gostar de mim, diz que eu mexi com você. Ouvir isso a primeira vez é lindo, é tudo o que você quer escutar de alguém que mantém um rolo de mais de dois meses sem qualquer perspectiva de futuro. Porque de repente o jogo vira e se torna mais afável do que se mostrava anteriormente. Mas o que são palavras comparadas a atitudes? O que são a falta de chão e de planos em meio a uma imensa confusão que você me inseriu?
Sei que existe uma cláusula dos bons relacionamentos que se chama liberdade e que você, mais do que ninguém, precisa de um tempo maior. Você que teve uma vida ao lado de alguém e saiu recentemente de tudo isso. Você que foi leviano em se deixar envolver comigo e me envolver também. Você que diz querer ficar comigo sem qualquer hesitação, mas é incapaz de planejar qualquer evento - de menor importância possível - comigo e por nós. Você que não consegue me ver na sua vida, que não consegue entender o que tem a me oferecer e o que quer para si mesmo. Você que me faz sentir a pessoa mais bipolar do mundo, porque faz surtir em mim sentimentos de: quero estar com você; não posso pensar só em mim; estou cobrando demais, é muita pressão, ele não vai aguentar; e com o que eu quero da minha vida.
Eu não posso falar por você, então, eu falo por mim. O que eu quero da minha vida além de todas as outras questões importantes como carreira, viagens, êxitos pessoais: eu quero alguém que não tenha dúvidas de mim. Que diga que me quer e portanto vai estar comigo, vai me levar pra viver o que tivermos pra viver e vai se deixar levar para o meu universo particular também. Alguém que respeite o que diz, que quando me disser que me quer, essas palavras terão todo o peso da consciência e não somente representarão um ato de desespero para não me deixar escapar do seu alcance. Alguém que não me queira somente durante os dias espaçados da semana. Alguém que esteja comigo aos finais de semana por pura vontade de estar e não porque não tinha algo melhor para fazer, ou porque seus amigos desistiram dos seus planos. Alguém que vai me fazer ter certeza também, que vai embalar a minha mente e vai ser a minha melhor companhia, não apenas um entretenimento sem qualquer apelo emocional. Alguém que esteja de braços abertos para me receber e que venha me tirar um sorriso quando os dias estiverem cinzas, e que vai me deixar fazer o mesmo. Que vai nos deixar ser algo bom na vida do outro, e não uma grande confusão.
Te sinto preso no seu passado e, mais do que isso, te sinto perdido porque a vida tá correndo e você não sabe onde está nessa parada. Quem é você na noite? Um ser sedento por diversão efêmera, que sabe das ilusões da vida noturna ou uma alma solitária que não sabe quais os próximos passos deve dar para encontrar a luz do dia?
O que você quer para você? O que você quer de mim? O que você tem a me oferecer?
Queria muito poder te dizer: esquece toda a merda que te aconteceu, porque você não estará pisando no seu passado, você só estará se libertando de algo que te aprisiona para encarar um recomeço. Te convidar para mergulhar fundo no meu mar e que você mesmo perceba que a minha água não é tão turva quanto parece. Te ajudar a conduzir este novo caminho e te mostrar que a vida pode ser mais que isso. Te provar que você está seguro para se soltar, para confiar e ser você mesmo, ou para que você possa se reinventar, se redescobrir, porque eu estarei ao seu lado para te segurar quando você cair. Mas eu acredito na Frida e ela já disse: Onde não puderes amar, não te demores. E eu tenho certeza de que você não está pronto para o que eu tenho a oferecer, então, não posso me demorar. O amor não tem pressa, mas tem fome.

domingo, 26 de julho de 2015

Rotina que me emburrece

O título é ofensivo, mas o motivo dele é muito mais literal do que propositalmente passivo-agressivo. Acho que alcancei um limite em que parece impossível continuar a manter a minha rotina. Já fiz de tudo para melhorá-la de maneira geral: comecei a me exercitar mais da forma que me agrada, me alimento mais saudavelmente, mantenho um convívio social extremamente enriquecedor fora do trabalho, cuido de minhas responsabilidades, minhas obrigações e da minha casa, mantenho uma interação grande com a minha família, e tenho lido mais livros do que assistido séries. No entanto, continuo recorrendo à diversão como maneira de escape, mais do que simplesmente diversão que tranquiliza, tenho gastado horrores com bebida, entrada de balada e táxi, não deveria ser assim se tudo - ou parte do todo - realmente fosse mais ameno. Se a minha rotina fosse mais tranquila, os gastos também seriam. Talvez eu precise de um escape maior, fazer uma viagem dessas que nos renovam a alma, talvez eu devesse largar tudo e, sei lá, o que eu poderia fazer? Como iria sobreviver? Queria trabalhar com social em vez de capital. Queria ter orgulho ao ver o resultado do meu suor, que deveria ser diferente da sensação de ter em mãos um salário que não sobra. Queria sentir uma paz de espírito cada vez que acordasse todas as manhãs e cada vez que fosse para casa. Queria colegas que contribuíssem para o desenvolvimento intelectual de todos, como uma troca de sinergia e conhecimento. Queria fazer a minha parte e deixar um legado. Queria que meu trabalho fosse importante, para mim.
Vênus e mercúrio na casa 10 são os posicionamentos que me fazem preocupar tanto com a carreira, isso não quer dizer que eu sou responsável ou extremamente dedicada. Isso só quer dizer que existe uma sombra que sempre me perseguirá, e tempestades irá criar, para me lembrar de que eu não deveria desperdiçar o meu talento, tempo e abnegação para gerar valor e lucro para empresas. Eu não quero trabalhar para servir de massa de manobra do capitalismo, da indústria farmacêutica e/ou da doença. Eu queria, muito além de informar, levar as minhas palavras para melhorar o dia de outrem, para prover ensinamentos, resolver questões sócio-políticas, ou qualquer outro fator que me fizesse sentir maior. Eu não sei exatamente quais passos devo seguir, é como se houvesse uma neblina que embaçasse minha visão, porque eu não sei o que devo fazer. Existe um nó, e eu preciso aprender a desatá-lo. Existe uma desordem em ebulição, e eu preciso entender de que maneira posso amenizá-la, confrontá-la ou eliminá-la. Existe um sentimento de frustração, uma dor no coração de, todos os dias, fazer muito pouco pelo que acredito ser positivo para mim e para o todo.
Eu cansei de toda essa lorota corporativa, cansei dessa falsa simetria que as pessoas apenas fingem, diariamente, como fantoches de um sistema que valoriza mais a conta bancária do que o teor de conhecimento conquistado, que o prazer no trabalho e que a necessidade de se fazer algo realmente construtivo que não seja esse padrão hipócrita e insensato que a sociedade prega sobre a maneira que devemos conduzir nossas vidas. Eu devo conduzir a minha vida, não o dinheiro, não os padrões, os patrões, o estresse diário, e o escapismo mais que necessário. Eu quero ser livre.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O que compreende a tua alma?

Acho que a solidão tem me feito bem, porque nela pude ser invadida por pensamentos que se transformaram em decisões. Preocupações que há tempos permeiam a minha mente, mas que nunca tive forças para torná-las atitudes. Pois bem, essa sou tentando ser uma pessoa melhor de fato, isso porque antes sempre me ocorreu, mas eu não havia percebido que só desejava me tornar alguém melhor para mim mesma. Isso acontece porque existem coisas dentro de nós que estão tão enraizadas que esquecemos realmente de abrir nossos caminhos e colocarmos algo positivo em prática. O que eu estou fazendo de bom para o mundo?
Estamos tão presos no conceito "crescer na vida e ser feliz" e isso está tão atrelado à necessidade de estudar, trabalhar e construir uma vida com independência financeira que esquecemos de muitas coisas.
O primeiro pensamento surgiu quando conversava sobre viagem com uma amiga de Niterói (RJ), que me disse algo que talvez ficará muito tempo na minha cabeça: o ser humano esquece que também é bicho, que precisa de natureza e que só se sente melhor levando uma vida longe das metrópoles, das tecnologias, dos vícios e dos alimentos industrializados. Pois é. Tal constatação surtiu em mim o desejo de utilizar meus cinco dias de férias para conhecer sua cidade e passar longe da ideia de visitar Buenos Aires, afinal, por que iria gastar mais dinheiro indo conhecer outra cultura se mal conheço a de uma cidade vizinha? "Se não conheço nem 50% de SP inteira?" Mas mais além disso, surgiu a necessidade de voltar a testar o vegetarianismo na minha rotina. Eu já fiquei quatro meses sendo ovolactovegetariana, fiquei quase um ano sem comer carne vermelha, e a partir de então, sempre tento substituir a soja pela carne. Por que não tentar de vez agora que moro sozinha e posso cozinhar o que eu tiver que comer? Bem, dadas as minhas condições atuais, ainda preciso almoçar na agência e aqui temos carne todos os dias, então, decidi que vou continuar comendo aqui e trazendo almoço de casa sempre que possível, e vou evitar os alimentos de origem animal o máximo que puder (e resistir). Isso também tem a ver com uma preocupação que há tempos criei quanto ao consumo desse tipo de alimento, porque sei que meu corpo funciona melhor sem proteína e gordura carnívora e porque eu quero tentar não contribuir para a matança animal e, consequentemente, à degradação do meio ambiente.
Outra preocupação é cuidar mais da saúde e isso quer dizer que eu vou tentar me exercitar mais de três vezes por semana (que é o máximo que já faço), mas como já percebi que em casa minha procrastinação é grande, pretendo começar a natação mês que vem e também vou entrar num grupo de ciclismo e poder pedalar à noite pela cidade, já que temo fazê-lo sozinha.
Outro questionamento que me invadiu foi quando me vi discutindo com a minha irmã sobre a legalização do casamento LGBT nos Estados Unidos - que ocorreu semana passada e levou uma legião de pessoas no Facebook a trocarem suas fotos de perfil como maneira de comemorar e apoiar a conquista. Não quero discutir esta pauta, mas quero provocar um pensamento: nossa sociedade, especialmente a minha geração, só é ativista para o outro ver e só faz as coisas sob a possibilidade de torná-las conteúdos compartilháveis. É fácil estender uma bandeira para ganhar likes, ter argumentos válidos para discorrer sobre qualquer tema e defender suas convicções, mas o que estamos fazendo para realmente gerar progresso? Quando minha irmã reclamou sobre "existir mais coisas para se preocupar do que casamento de gay" e eu rebati perguntando o que ela estava fazendo para mudar essas coisas, me vi cometendo o mesmo erro que praticamente quase todas as pessoas nas redes sociais cometem: o engano de achar que estão contribuindo para algo realmente concreto com suas discussões, principalmente porque estas geralmente se tornam brigas de ego e ganha aquele que souber argumentar melhor.
Depois desse episódio, me vi novamente discutindo com minha irmã, mas desta vez, dando-lhe conselhos, quando ela me procurou para dizer que estava se sentindo depressiva e eu lhe recomendei algumas mudanças positivas em sua vida. Ela me disse que não sentia vontade de nada e que pensava em voltar para o Japão, mas que mesmo assim queria construir sua vida aqui - porque lá tinha liberdade e estabilidade financeira, mas aqui ela tem a nossa família. Logo lhe confrontei, disse que isso seria fugir novamente e que se ela sente necessidade de estabelecer uma vida aqui, é porque é isso que ela precisa fazer, afinal, ficar um tempo lá para ter que voltar novamente e ter nada construído só iria lhe render mais frustrações, não é mesmo? É postergar insatisfação, quando o contrário poderia ser realizado. Falei que a falta de vontade pode ser resolvida aos poucos, com paciência e perseverança, ao agregar formas de adquirir mais qualidade de vida. No caso dela, seria preciso se forçar a fazer tais coisas. Perguntei o ela gosta de fazer no tempo livre, ela disse que era ver séries. Fui mais além e perguntei o que ela acha que poderia fazer de divertido ou proveitoso que poderia fazê-la se sentir mais completa. "O que acalenta a sua alma?" Ela não soube responder e disse que gosta de ver séries. Eu deixei essa questão com ela, para fazê-la pensar ou para manter em sua mente e, quem sabe, essa conclusão chegasse em alguns dias. Ou pelo menos lhe cause uma preocupação que lhe faça procurar por essa resposta e assim poder colocar em prática. Da conversa surgiram outras pautas, depois lhe convidei para dormir em casa e preparei um jantar vegano, em troca ela me comprou os ingredientes e deixou algumas maçãs em casa. No dia seguinte, ela me mandou um vídeo fazendo carinho em seu gato, mostrando que se sentia um pouco melhor depois do nosso encontro.
Depois disso, eu percebi que eu também não tinha concretizado o pensamento sobre o quen compreende a minha alma e percebi o quanto tenho ido em contra partida às minhas convicções. Afinal, sou feminista, mas não ativista - não mais, porque não vejo compactuando com muitos conceitos empregados por movimentos feministas (como ir à marcha das vadias, por exemplo), acredito que é possível desconstruirmos o machismo no dia-a-dia, por meio do diálogo e com as pessoas que estão abertas à reflexão de seus atos -, e durante anos me vi totalmente refém de relacionamentos amorosos com homens, como se dependesse deles. Não, não decidi me tornar homossexual ou abdicar de encontros sexuais, eu sou hétero e sexual, não posso tentar dominar o meu primitivismo, afinal, quem sou eu para me auto-reprimir? Mas notei que, os romances não precisam ser o centro da minha vida, até porque isso nunca foi o suficiente para me fazer completa. Primeiro porque - custei, mas - aprendi que não se deve buscar uma cura para a solidão em uma pessoa, não se deve esperar ser completada e nem se deve colocar responsabilidades sobre o outro. As pessoas são livres, elas vêm e voltam quando quiserem, e amor não pode ser a razão para a obrigação de estar sempre presente. Além disso, sei que não devo colocar minha esperança de ser feliz em um homem. Tenho certeza de que não é possível, nunca será suficiente, e ninguém tem a obrigação disso: de me fazer feliz. Até comentei com a minha irmã, quando ela me disse que sempre foi infeliz, que não acredito que a felicidade seja um sentimento eterno, unilateral e, ainda, essa coisa tão superestimada e praticamente inalcançável que tanto desejamos e temos obrigação de conquistá-la. Eu acredito que a felicidade é algo sublime e funciona como uma união de sensações, sentimentos e situações felizes, e que, se vivenciamos isso com frequência, conseguimos ser naturalmente mais felizes, assim como o contrário. E se estamos felizes, a vida fica mais leve e nos tornamos mais fortes para enfrentarmos os momentos difíceis e de extrema infelicidade. Ninguém é feliz o tempo todo, assim como deve ser o oposto disso.
Pois bem, me questionei sobre as minhas principais preocupações, excluindo as minhas necessidades e responsabilidades pessoais - que são trabalhar, pagar o aluguel, aumentar a renda, estudar, escrever etc -, que são: cuidados com o meio ambiente, consumo de recursos de origem animal (que muito além do alimento estão os testes de laboratório, o uso para desenvolver produtos de beleza, limpeza e vestuário somente para abastecer a indústria e, consequentemente, engrandecer o capitalismo) e, principalmente, educação. E com essa preocupação, sempre existiu o desejo de ser professora da rede estadual, algo que pretendo colocar em prática um dia. Mas e o que eu poderia fazer neste momento? Então procurei por ongs e orfanatos na região e decidi me candidatar a um trabalho voluntário - e penso até mesmo em apadrinhar uma criança. Acabei chegando em uma casa que atende no mesmo bairro que o meu e marquei uma visita, além disso, estou tentando coletar doações para levar no local. O objetivo disso não é só me fazer uma pessoa melhor, mas ajudar com o pouco que posso às pessoas que precisam, realmente é algo que compreende a minha alma. Não desejo somente fazer doações, quero poder ter contato com uma ou mais crianças e adolescentes, tentar conversar com elas, tentar contribuir com um pouco do meu conhecimento e, se possível, gerar sorrisos.
Essa sou eu tentando ser alguém melhor, essa sou eu, fazendo o melhor para mim mesma, e essa sou eu realmente encontrando uma proposta de vida que compreenda a minha alma. Chega de ficar na superfície.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Paixão que desestabiliza

Voltei a escrever o livro e reli alguns posts desse blog, e assim percebi o quanto me vi confusa com o término com ele. Praticamente tudo o que escrevi aqui até antes do meu aniversário demonstravam o quanto eu me vi perdida e contraditória. Se apaixonar causa um caos imenso, não? Eu aproveito para dizer que tenho agido diferente nesse meio tempo, tento não criar tantas certezas porque eu sei que não serei capaz de transformá-las em estruturas. Não sei se porque ainda sou imatura para realmente criar metas alcançáveis ou se porque sou leviana demais para manter algo. Então, vou vivendo e, vivendo, vou aprendendo, seja algo importante que eu possa aplicar ao meu dia a dia, ou algo que simplesmente me provoque alguma reflexão profunda e descobertas. Sei que ainda não o esqueci, claro, não é possível esquecer alguém assim, não quando você realmente amou, o término foi horrível e logo quando você estava completamente apaixonada. Disse muitas vezes para mim mesma que não era amor, mas menti em todas as vezes. Apego não me proporcionaria as sensação que senti e nem os pensamentos que me confortaram de tal maneira que me vi capaz de imaginar toda uma vida ao lado de alguém. Ou talvez tudo isso seja um grande devaneio de quem não tem os pés no chão e eu confesso: de fato não tenho.
Tenho conhecido pessoas, uma em específica me agrada e me faz bem à alma, outras têm gerado interesse, mas não o suficiente para ser revertido em envolvimento, não desse modo. Talvez eu não esteja mais tão aberta assim, talvez eu esteja mais preocupada em encontrar maneiras plausíveis de desfazer meus erros, e tenho feito. Fui atrás de gente que dei mancada e me redimi. Não sei se fora o suficiente, especialmente para um, mas eu tentei e fui bem recebida. Acho que é um momento de fazer diferente, tentando controlar os impulsos e encontrar alguma fonte de paz, não em alguém, mas em mim mesma.

sábado, 20 de junho de 2015

25 anos, novos rumos


É muito cedo para assumir alguma coisa, e se eu fizer isso estarei sendo leviana, que é algo que eu não quero mais ser. Acho que talvez seja o momento de me redimir comigo mesma e fazer as coisas da melhor forma, da maneira que não me vi capaz de fazer no passado. Talvez de consertar os erros do último relacionamento, talvez para me tornar alguém melhor, mas de certo modo, tenho receio de entrar em um território que não conheço e acabar mais confusa do que já estava. Mas eu me sinto outra, queria dizer que me sinto mais sábia, mas temo ser leviana nesse ponto também, então prefiro dizer que sim, sou outra, com uma nova visão para alguns assuntos, de coração aberto para novas experiências, mas ainda procurando uma consciência que me promova segurança. Não quero pensar muito, porque o pensamento esgota e provoca desgaste, então prefiro viver e quero viver com uma tranquilidade que nunca provei, talvez com a necessidade de ser mais plena desta vez. Em resumo, tenho fugido dos exageros, inclusive dos de teor mental. Tanto que comecei a ensaiar um pensamento que se traduziria em uma reviravolta na minha vida, mas preferi voltar atrás e assumir que não, foi apenas um começo para algo novo e bom. E isso é ótimo e eu me sinto completamente satisfeita por ter me aberto a novos planos, a novas vivências e, quem sabe, um novo amor. Decidi parar de negar meus desejos mais profundos e completamente enraizados e aceitar o que a vida proporciona de uma maneira mais receptiva, sem carregar o peso dos dias passados e sem múltiplas teorias sobre como cada coisa deve ser e acontecer. Gostaria também que a carência da solidão não confundisse meus sentimentos, queria estar consciente o tempo inteiro, mas isso eu não consigo controlar completamente, portanto, sinto que tenho que levar em consideração outras metas, inclusive aquelas que eu dependo para sobreviver. Vou me deixando viver e eu quero viver. E agora aceito o fato de que sim, eu quero um amor, não as paixões fugazes, não as diretrizes que abordam desastres, não o aperto que dói no peito e deixa um vazio imenso, eu quero amor que me faça transbordar, um amor que me torne melhor e não que me complete, mas que faça eu me sentir mais plena - talvez eu necessite disso, talvez eu realmente seja uma pessoa venusiana, que só se sente mais completa amando - um amor que só agora eu estou disposta a receber e compartilhar.

Eu sou amor, da cabeça aos pés, eu sou.

domingo, 7 de junho de 2015

O lado bom de cada pessoa

Todas as pessoas carregam inúmeras personas. Cada ser é único, em aparência, características físicas, emocionais, espirituais e psicológicas. Cada pessoa, resumidamente, possui um lado bom e um ruim. Não precisamos descobrir qual é o lado tóxico de cada um, nós precisamos relembrá-las do seu melhor, incentivá-las a sempre darem o seu melhor.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Homem de fogo

Sua necessidade de fixar seus olhos nos meus era cada vez mais evidente, assim como foi em todas as vezes que você aproveitou a oportunidade para me tocar e perguntar mais sobre a minha vida. O que você queria? Todas as vezes que bebeu do meu drink e, enquanto fazia isso, olhava no fundo dos meus olhos com um ar divertido, mas ao mesmo tempo provocativo, me fez perceber que você tentava me seduzir, talvez, sem perceber aonde isso poderia chegar. O magnetismo que rolou entre nós ultrapassava os limites da pele, era como se quiséssemos nos fundir. Eu percebi seus olhares enquanto estávamos distantes e notei também a sua ânsia em estar ao meu lado, em falar perto de mim e sentir que eu estava sendo seduzida. Que energia incrível a sua! Você tem ideia de que eu me encantei desde a primeira vez que coloquei os olhos em você? Que tudo o que eu desejei naqueles momentos era sentir o gosto dos seus lábios e eu sabia que você também queria o mesmo? Quando te fiz o convite foi espontâneo, e você reagiu a ele da mesma forma, eu sei que você me queria e todas as suas atitudes deixaram isso claro. Por que voltou atrás? Será que a consciência pesou no momento em que eu te esperei lá fora? Por mais que eu quisesse aquilo naquele momento, eu não sei como estaria agora se algo realmente tivesse acontecido. Porque eu sei que não tenho porquê ser motivo de arrependimento de alguém, e eu jamais queria te provocar isso. Será que seria muito errado, deixar nossas vontades serem sucumbidas à prática? Você me perguntou: eu queria muito ir com você, mas você entende que eu não posso? E de repente, eu vi nos seus olhos, toda aquela energia boa desaparecer, você parecia se sentir culpado e provavelmente encontrou o aconchego que necessitava nos braços de sua amada, a mulher que você disse ser o amor da sua vida. O que você queria, homem ariano? O que você faria se a sua consciência não te impedisse de seguir seus impulsos?

domingo, 17 de maio de 2015

Racional

Muito aprendi com o término brusco do meu último relacionamento. Tardei, mas não falhei. Uma das coisas que aprendi foi que ser racional não é pensar e, logo, agir de tal maneira. As pessoas se confundem muito com este termo. Ser racional é ser um pensador, alguém que tenta entender as coisas - acontecimentos, situações, pessoas, sentimentos, sensações - por diversos pontos de vista e, geralmente, de modo detalhado, com conclusões abstratas ou objetivas, ou não. Seres como eu discorrem e perpetuam pelo pensamento livre, ou não, de tudo o que ocorre ou presencia em suas vidas, e costumam entender como ninguém sobre determinadas coisas. Geralmente temos dificuldades em entender nossas emoções porque temos necessidade de racionalizá-las, de transformá-las em vocábulo, ou transcorrê-las, tais necessidades transformam nossos sentimentos em literatura ou em muita conversa, seja com os amigos, seja com psicólogos. Somos seres que pensam, muito e, geralmente, sobre tudo. E quanto chegamos ao entendimento ou conclusão de algo, é como se pudéssemos, finalmente, nos tranquilizar, pois resolvemos tal equação em nossas mentes. Isso independe de nossas ações ou intenções, nós pensamos, ponto. Meu ex se achava racional porque agia de maneira que não demonstrava emoções - assim como um robô - e me classificava como sentimental. Esse tipo de pensamento é comum entre as pessoas, algo que geralmente provém com mais ocorrência no sexo masculino: "homens são racionais, mulheres são sentimentais", e agora eu te digo porquê essa é a maior balela que já te contaram. Primeiro que pensamento, forma de agir, sentir e compreender entre um sexo e outro não difere por esse mesmo motivo. As pessoas são diferentes no seu interior, isso não é porque são homem ou mulher. Se fosse assim, se coubesse essa linha de raciocínio para Deus todo poderoso, criador de Adão e Eva, ele teria criado dois Adões, certo? E não teríamos Felicianos e Bolsonaros vomitando desinformação, preconceito, intolerância e ignorância em defesa da família tradicional brasileira, correto? Mas enfim, eu não quero entrar nesse mérito, se não, não chego aonde queria e nem vou conseguir terminar o texto esta noite. Bem, hoje eu posso dizer que não sei o que sinto por ele, se sinto algo, mas também não faço questão de entender. Talvez eu sinta nada, por ele, e começar a ensaiar qualquer pensamento sobre isso me dá uma baita preguiça. Já não sinto mais sua falta, já me desfiz de qualquer sensação de estranhamento referente a sua ausência, nada mais que tenha a ver com ele me incomoda ou me faz mal, faz nada, sabe? Um nada. Eu apenas cheguei a muitas conclusões e meu coração começou a seguir então a voz da razão, ou mesmo, pensar demais me cansou por completo, então a razão e a emoção se uniram e nenhuma delas está desalinhada. E posso dizer que isso foi ótimo, como um estalo, sabe? De repente você se sente indiferente à tal pessoa e você começa a agradecê-la - em pensamento - por ter saído da sua vida. Não porque te fez mal demais - você já conseguiu se esquecer de qualquer mal que ela tenha lhe causado -, simplesmente porque tudo o que você sentia ou pensava por ela mudou. E, confesso, estar solteira nesse momento da vida está sendo a descoberta mais gostosa de todos os tempos. Porque consegui unir o término, com o aprendizado disso tudo e mais o fato de começar, finalmente, a morar sozinha (porque ele estava sempre aqui), e tem sido incrível. Tenho gostado da minha solitude, tenho aproveitado a minha solidão e, quando canso de estar só, eu simplesmente saio de casa e posso trazer quem eu quiser aqui, inclusive, pessoas que eu não poderia trazer enquanto estava com ele. Tudo tem sido tão desbravador e ao mesmo tempo consolador, me sinto mais madura, mais segura, mais completa e repleta de amor próprio. Obrigada ex, por ter terminado de maneira horrível, por ter me feito te tirar da minha vida e, mais ainda, ter me deixado só, porque o mundo sem você, realmente, tem sido mais belo e proveitoso. E, outro fato importante, não era amor.  

sábado, 9 de maio de 2015

A razão que encontrei na sua ausência

Febril me acolhi no meu cantinho: minha cama com todos os travesseiros e edredons que tenho, e adormeci. Quando despertei, já estava escuro, e no meio dessa escuridão, vi teu rosto, exatamente como estava acostumada, com você dormindo tranquilamente, meio babando, meio roncando, ao meu lado. Ainda tenho costume de dormir no canto da cama, como se estivesse te dando espaço, e as vezes lembro de você reclamando que eu durmo encolhida demais, sem perceber que você dominava quase todo o colchão, apenas me disponibilizando o cantinho. E eu nunca achei ruim te deixar aquele espaço todo, era uma maneira de te deixar à vontade na minha casa, de deixar um pouco do meu para você, e, metaforicamente, de te dar um grande espaço na minha vida.

Lembro-me que depois de algum tempo juntos, àquela sua imagem passou a me confortar, e muitas vezes eu te abracei e distribui beijos sem você notar. Era um modo de cuidar de você, de te amar mesmo que você não estivesse acordado para perceber. Ainda deitada no colchão, outras imagens suas começaram a surgir de maneira tênue, não mais me bombardeando e enchendo meu peito de mágoa e meu rosto de lágrimas, como há alguns dias. Acho que sua ausência tem me resultado compreensão e tenho aprendido a lidar comigo mesma muito mais tranquilamente do que em toda a minha vida. Coisas que eram nebulosas meses atrás, agora fazem muito sentido. Tenho aprendido a amar a minha casa, me sinto acolhida, mesmo quando não há companhia. Quando estava com você, eu mal ficava sozinha aqui, eu até tinha medo de estar, era como se eu estivesse postergando enfrentar a minha solidão. Li esses dias que tememos os momentos de isolamento porque sabemos que teremos de nos enfrentar, e o quanto isso pode ser doloroso. E hoje eu aprendo a apreciar isso, minha solidão que nada é vazia, minha solitude que me torna uma pessoa mais consciente e cuidadosa comigo mesma. Não me cuidei enquanto estava contigo, coloquei muito peso sobre você e me perdi, hoje eu entendo isso. Pensava que você era a pessoa certa na hora errada, mas não, você veio na hora certa porque eu aprendi e ainda tenho aprendido com você, e eu espero que eu também tenha provocado algo assim em você. Sejamos honestos, tudo na vida é aprendizado e a gente só enxerga isso quando abandona o ego.

Foi então que te admirei em meus pensamentos e senti que isso prova o meu amadurecimento, dado o fato de como as coisas terminaram, eu poderia me forçar a te esquecer, ou estar com raiva ainda, remoendo tudo o que aconteceu. Eu acho que só parei de me desesperar ao lembrar de você ou a ver coisas que te remetem, é como se eu calasse um pouco meu coração e tirasse os pensamentos ruins sobre você de mim. Aos poucos eu vou parando de ver você em todo mundo que eu encontro na rua, ou a lembrar de você com pesar. É como se apenas fosse restando a lembrança boa, muito mais amena e menos frequente, e acredito que eu ainda tenha que aprender muito sobre tudo isso. Quando as coisas começaram a parecer que poderiam ficar ruins, liguei a luz, levantei, e um banho tomei. Liguei um som alto, falei ao celular, me arrumei. Tô pronta para sair.

Crescendo

Escrito dia 06/05/2015 - não editei o texto, mas hoje, quatro dias depois, não faço ideia de como posso ter escrito algo assim, com tanto peso, tanta dor, bom saber que já não me sinto mais assim.

Hoje faz uma semana e um dia desde o nosso fim. Até ontem eu estava onde estou, no meu antigo quarto, chorando por você. Repleta de nostalgia, fiquei lembrando do nosso primeiro encontro e quando fui apagar as mensagens antigas do meu cel, encontrei nossa primeira conversa. Confesso que hoje essas memórias doem menos. Falar sobre você já não me causa tanta dor no peito. Nada como um dia após o outro. Conversando com amigos, percebi o quanto de errado havia na nossa relação e o quanto de coisas ruins você deve ter guardado consigo mesmo. É uma pena, porque eu fui totalmente sincera com você, especialmente no fim. Mas nossas mães já dizem que não podemos esperar que as pessoas ajam da mesma forma que nós. Hoje, as músicas tristes já não me sufocam tanto e até o som do Tim se tornou super esclarecedor. Não nego a saudade, e muito menos nego que ela me traz tristeza. Mas eu sei que em algum momento as lembranças só deixarão uma saudade boa, o suficiente para me enxergar como diferente do que eu posso estar no momento. Queria saber como você está, se está se cuidando, se alimentando bem. Mas não tenho a mínima vontade de te procurar, não faz mais sentido, e eu sei que você não irá me tratar bem. Esse foi um dos motivos de ter fechado as portas para você. Acho que você se tornou audacioso demais, convincente demais com relação a mim e a minha vida. É como se você achasse que a minha porta sempre estará aberta, é como se você tivesse certeza sobre mim. Bem, é ai que você se engana. Eu não sou como você, que nega seus sentimentos de maneira agressiva e retrógrada. Eu sou leve e, ainda bem. Meus sentimentos são fixos, demoro para esquecer, mas outras características minhas me impulsionam para frente, assim como meus amigos e as demais pessoas que me amam. Eu sou amada, eu sei, e não é por poucos. Sou querida e adorada, ninguém gostou de me ver derrotada. Não porque as pessoas sempre esperam me ver bem, todos têm consciência de que ninguém está sempre 100%, mas porque elas sempre esperam o melhor de mim e jamais achariam que alguém poderia tirar meu brilho dessa maneira. Mas, meu brilho continua e, apesar de não viver esses últimos dias com prazer, eu sei que dias melhores virão. Dias em que terei me reerguido, em que os vestígios de mágoa e saudade de você estarão menos presentes. Sua ausência se tornou meu maior aprendizado e hoje agradeço por você não estar mais presente na minha vida, porque estou aprendendo comigo mesma e a ser uma nova Angélica, que ainda estou descobrindo. Espero que algum dia você abandone suas mágoas de mim, você sabe que elas existem e gostaria que você pudesse compreender isso, mas não sei se quero acreditar nisso. Não posso esperar mais nada de você. É lamentável que você tenha se tornado um desconhecido, é uma pena sentir o meu amor morrendo. Mas, é a vida. Você segue, eu sigo. Não vou voltar atrás. Não como o seu orgulho, mas porque sabemos que não era para ser. E o que será que será da nossa vida? Não sei, só sei que quero ser feliz, longe ou não de você. Se cuide.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

O fim

Hoje tento compreender este fim repentino que quebrou todos os nossos planos. Nossa viagem no meu aniversário, o almoço com meus pais no domingo, a visita à casa de sua avó no natal, a nossa ida sozinhos à praia assim que recebêssemos, os pequenos desejos que criamos em conjunto e poderíamos colocar em prática no decorrer do ano, da vida, o fim de semana sem dinheiro em que passaríamos enrolados no edredom, nos aquecendo com o calor de nossos corpos. Como eu vou esquecer cada um desses planos que minha mente construiu junto à sua ao longo desses 4 meses, assim, de repente? É como pegar um saco cheio de papéis coloridos, amassá-los e queimá-los até perderem sua cor, sentido e definição.
Mas a vida tem que seguir, assim como os planos, certo? Planos que podem ser reciclados, arrumados e totalmente renovados. Nisso, o tempo e uma dose de coragem ajudam. Mas, e o meu amor, onde fica? Eu não sei o tamanho dele - nem sei se é possível medi-lo -, mas pequeno, não é. Não sei se vou descobrir a profundidade dele durante esse tempo longe de você, mas definitivamente, eu não queria passar por isso, é muita dor. Eu não queria desistir de nós, não queria refazer os meus planos, não queria te ver como um estranho, que esteve tão presente na minha vida e que agora está tão distante.
Minha casa mantém seu cheiro, é como se você estivesse ali o tempo inteiro. E está, porque você faz parte de toda a história que eu tive nela. Desde arranjar os entregadores, ao desencaixotar de caixas, à primeira refeição, ao primeiro drink, à primeira compra, ao primeiro passeio pela vizinhança, ao descobrimento dos comércios locais, ao boteco da frente que foi cenário para conversas sérias e para a primeira noite na minha rua, ao seu lado. Eu ainda não te conhecia bem e você as vezes parecia nervoso, mas sempre gentil e afável, sempre convidativo, sempre incrível, em tudo. Eu temia muitas coisas, mas você sempre me deixou segura para ser eu mesma, e eu fui ficando e você entrando cada vez mais na minha rotina, nos meus desejos, na minha vida.
Te tirar assim, bruscamente, é um abuso dos mais graves a tudo que eu tenho como mais essencial no meu caráter e no meu emocional. É arrancar uma parte imensa de mim e da trajetória que iniciei este ano. Entretanto, eu não sei se é preciso. Eu não quero te esquecer à força, me esquivar da lembrança sua a cada momento que eu ver, sentir ou tocar algo que te remeta. E daí eu entendi que eu não quero te esquecer. Eu não quero te amar menos, e nem quero tirar qualquer vestígio de você de mim. Mesmo que seus pensamentos e desejos agora sejam completamente contrários aos meus, mesmo que hoje você tente me ignorar na sua mente e no seu coração, mesmo que você esteja tentando me odiar. Não me importa. Eu não quero te tirar de mim.
Eu não quero esquecer da maneira doce que você ri, com a boca fechadinha e repleta de graça. Da voz grave que sai desses lábios carnudos e doces que fizeram eu me perder tantas vezes. Do olhar confuso e penetrante desses olhos fundos e radiantes. Do toque da sua pele macia e rígida, que contempla esse corpo forte. Dos seus braços aconchegantes que me pegavam no colo e me transportavam para outra dimensão. Do seu delicioso pênis, que se encaixava direitinho em mim e me proporcionaram inúmeros momentos de prazer e loucura. Da forma como você me possuía e me despertava os desejos mais impuros. Da sua companhia insubstituível, seja nos dias cinzas, seja na hora da alegria. Do seu bom humor repleto de ironia e da maneira simples que você encara a vida. Do seu jeito tão único, que se desmembra entre o menino sonhador e alegre, ao homem preocupado e responsável e ao garoto que ama super heróis e coleciona bonecos repletos de valor sentimental, que aludem sua infância e o seu desenvolvimento pessoal.
Eu sinto que jamais poderei esquecer aquela viagem na praia, que vimos a lua vermelha, fizemos planos com os pés na areia e nos amamos como nunca, sedentos pela carne do outro e com o peito cheio de amor. Em que você nos salvou de três trombadinhas, tão pequenos perante ao enorme homem que os enfrentava, com uma coragem e senso de proteção imbatíveis. Da noite na Roosevelt, em que me declarei à você no dia em que decidimos voltar e compreendemos, ali mesmo, que nosso futuro estava apenas começando - será que fomos ingênuos demais em acreditarmos que nosso amor salvaria as mazelas que trouxemos para o nosso relacionamento? Eu sentia que podia flutuar, mas melhor que isso: que poderia fazer isso de mãos dadas a você sem qualquer medo de cair. Não porque te via como uma muleta emocional, mas porque eu criei confiança em você e sentia que éramos parceiros de crime, cúmplices do acaso e da rotina e amantes que se amavam e cuidavam um do outro. Também não tenho como esquecer da vez que apareci no meio da noite na sua casa, de táxi, durante a semana, e você me arrancou do carro e não conseguia me soltar mais. Nem da vez em que te levei para o banheiro do bar, enquanto batiam na porta loucamente e ríamos sem parar, com você, todo sem jeito. Do seu último dia de trabalho em que te visitei antes de fechar, e estreamos aquele lugar. Das vezes em que, sem dinheiro, trouxemos o bar para a nossa casa, e bebemos, fumamos e cozinhamos petiscos, enquanto planejávamos o que faríamos quando estivéssemos com grana, não porque estivesse ruim daquele jeito, mas porque ambos queríamos melhorar o momento com o outro. Não esqueceria também das vezes que você me socorreu, no dentista, no hospital, nas quedas na rua, nas escadas, no trampo, quando eu não aguentava mais e saber que ao te encontrar ao fim do dia, tudo ficaria melhor. Dos rangos quando não tive forças para cozinhar, das vezes em que me perdi e você me doou seu abraço para me confortar, e das inúmeras massagens para me fazer relaxar. Das bebedeiras, em que já pudemos cuidar um do outro. Das vezes em que, naturalmente, proferimos elogios enquanto nos pegávamos nos encarando, como se o sentimento de amor nos dominasse por completo.
Chorei muito ao relembrar cada momento até chegar até aqui, mas eu decidi não lamentar mais pelo fim. Eu fui sincera, poderia ter agido de outras maneiras, poderia ter uma máquina do tempo e desfazer vários erros, mas a vida é agora, e no momento, eu fui sincera comigo mesma e não tenho como voltar atrás. Decidi que, por te amar demais, eu tenho que te deixar partir e também devo seguir o meu caminho. Mesmo sabendo que o que estamos fazendo vai contra o que queremos, mesmo sabendo que o tempo pode ser crucial para nunca mais te ter na minha vida, e que poderemos nos perder para sempre um do outro. Eu não quero falsas esperanças, então compreendi que vou ter que lidar com a sua rejeição. Que em alguns dias, vou chorar menos e terei aceitado melhor a sua ausência. E que ainda terei muitos demônios para enfrentar, especialmente longe de você. Esses dias foram essenciais para o meu crescimento, mas ainda me restam muitos - assim espero. E talvez, quem sabe, um dia nos encontremos pelas esquinas da vida, e estejamos mais maduros e dispostos a nos amar com plenitude, a sermos o que queríamos ter sido um para o outro e talvez estejamos prontos para o relacionamento que ambos queríamos. Não para enfrentar os dias frios, esquentar nossa cama vazia ou solucionar nossa solidão, mas porque, se for amor de verdade, então nosso fim só aconteceu por um cálculo errado de timing. Não tão errado assim, porque confesso: foi um verdadeiro prazer te conhecer. Se cuide e saiba que sempre torcerei por você. Vá e voe, nenão.

terça-feira, 24 de março de 2015

O amor nos tempos de Facebook

Seja qual for a sua rede social favorita, em qualquer uma delas você verá uma enorme quantidade de casais extremamente apaixonados e felizes. É como se a nossa timeline fosse uma capa de revista de fofocas, e a bomba da vez seria a mudança de status de relacionamento de fulano, que até poucos meses antes estava com outra. "Coitada da ex, que fora abandonada e agora ofuscada pelas juras públicas de amor eterno do amado para outra." É o que as pessoas pensam. A diferença é que, nas redes sociais, as informações correm mais rápido e somos vítimas desse bombardeamento constante de novidades, notícias, inutilidades e mudanças de status alheio. 

Queria discorrer sobre como tudo começou até chegar ao ponto atual, em que a exposição da própria vida pessoal é gratuita e comum, afinal, todo mundo que você conhece e convive faz e o tempo inteiro. No entanto, não vejo aqui necessidade para tal, até porque, ainda quero chegar ao ponto em questão. 

Hoje, para se fazer algo é preciso contar para todos. Mas só compartilhamos o que queremos que as pessoas saibam, é como se fizéssemos o trabalho da edição das revistas, apenas mostrando o nosso melhor: o quanto somos bonitos com nossas selfies cheias de filtros e alterações, o quanto somos felizes e altruístas, repletos de amigos, estamos sempre nos divertindo e visitando os melhores e mais caros lugares, e como nosso relacionamento é profundo e inabalável. Verdade seja dita: esta é a hipocrisia velada em seu estado mais bruto. 

Vejo casais tirando selfies semanais, sempre sorridentes e amorosos. Mesmos casais que, certas vezes, se separam durante o decorrer da semana, porque um ou outro está em uma festa, dando em cima de outrem. Você observa tudo isso, e na segunda-feira vê uma selfie apaixonada dos pombinhos e tem vontade de regurgitar o almoço. Não porque você se importa com o andamento do namoro dos outros, você só é obrigado a ver certas coisas que não podem ser desvistas, ainda mais depois que você já pode ver tudo. 

Você se dá conta que já fez isso um, dois ou três dias, mas você aprendeu. Vendo o próprio erro, ou o erro alheio, e você julga, mesmo não querendo, mas o que está exposto, dificilmente não está pedindo para ser julgado. Os olhos e a mente são as maiores armas críticas do corpo humano. É da nossa natureza opinar. E você percebe o quanto já foi idiota em tentar ser mais uma pessoa feliz aos olhos dos outros.

Me desculpem, senhores mais felizes e completos da minha timeline. Vocês podem continuar sendo hiper alegres e bonitos, eu não me importo com o que vocês deixam de fazer frente às lentes de seus smartphones, ou aos cantos escuros, mas eu não acredito na imagem que vocês querem passar. Podem, inclusive, fazer suas propostas cheias de argumentos, mas eu não vou votar em vocês nem em 2018, nem na veracidade da cor de seus sorrisos. Quem muito quer mostrar é porque tem algo a esconder. Não digo que todos os exibicionistas da web traem ou na verdade são depressivos, só acho que por trás dessa forte necessidade de se aparecer, existe algo muito mais intrínseco e contrário ao que está sendo exposto. Essa relação pode ser aplicada ao dia a dia, até mesmo de quem não é um heavy user das redes sociais. 

Peço desculpas mais uma vez, mas agora eu falo de mim: eu não quero um amor que só seja perfeito para o outro ver. Eu nem procuro um amor, quanto mais perfeito. E também não quero o rapaz mais bonito do quarteirão ou do Tinder. Aquele que as suas inimigas aplaudem - em segredo - de pé, com uma pontada de inveja e recalque. Eu prefiro muito mais um moço que meus amigos de verdade irão dizer: esse cara é foda, e vocês são mais foda juntos. E que a nossa foda seja literalmente maravilhosa, porque de opinião alheia, eu não preciso para amar. Nosso amor não é segredo, nós só não precisamos da aprovação de quem quer que seja para funcionar. E se algum dia nosso amor vier a público, que os likes sejam sinceros. Mas se não forem, foda-se e vamos foder gostoso lá na minha cama, onde ninguém precisa ver.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Insaciável



Acho que descobri o que realmente quero, só que decidi não ficar procurando isso. Existem coisas na vida que vêm ao acaso, por mais que você tente buscá-las - já dizia um clichê -, quando tiver que ser, será. Nunca aprendi tanto na vida como nos últimos anos e sinto que ainda passo por um processo de transformação intenso, até chegar o momento que diversas questões irão se estabilizar (assim espero). Ano retrasado foi quando emagreci vinte quilos, fiquei louca, tentei parar de fumar durante um mês e voltei no primeiro gole de cerveja, parei com a maratona de baladas em que passava vários dias da semana bêbada e caçando sarna pra me coçar, namorei um psicopata que flertava com a morte e com dezenas de garotas por diversos meios. E então teve a vinda da minha avó acamada e com demência à nossa casa durante cinco meses, o que resultou em uma briga imensa sobre dinheiro, meu primo ignorante tentou bater no meu pai dentro da nossa própria casa, e paramos de falar com a maior parte da família de meu pai e uma parte da família de minha mãe, nos isolando. 2014 foi o ano mais louco da minha existência, terminei o relacionamento doentio no carnaval, 3 semanas depois andava na rua acreditando que estava flutuando, tive inúmeros casos, fiz sexo casual com parceiros suficiente para inundar a minha lista (nada de DSTS ou gravidez, por favor),  me apaixonei 3 vezes (todos piscinianos), conheci gente pra caralho, viajei pra caralho, e voltei a ver o mar depois de 4 anos distante, que foi o cenário para a minha última paixão. Fiquei louca, chorei, berrei, briguei, quase fui pivô de um término, comecei a estudar astrologia, iniciei um livro (e não terminei), finalizei outro, me entreguei ao yoga, e, virei devota do mar (tive que falar dele de novo, não resisti), passando a virada do ano com os pés nele. E 2015 começou de uma maneira muito diferente do que eu achava que seria, mas talvez do jeito que eu desejava. Começou sereno e com dezenas de mudanças, não menos caótico, mas mais esclarecedor. Conheci o cara mais legal do mundo, que se chama Edgar, o foi o primeiro libriano que me envolvi. Fazíamos tudo junto, nos dávamos bem, nos entendíamos, e nunca conheci (e talvez nunca mais conheça) alguém tão parceiro quanto este, mas não demos mais certo porque eu não pude amá-lo da maneira que ele merecia, talvez por não estar pronta para um compromisso, talvez por não estar apaixonada por ele. Também finalmente sai da casa de meus pais e ainda luto para processar o que é essa vida nova, onde tenho experimentado cada vez mais terríveis sentimentos de medo, falha, culpa e, algo que senti ontem quando terminei com o Edgar, solidão. No entanto, entendi que esta solidão me é necessária para me entender melhor e lidar com meus próprios pensamentos, receios e devaneios, tanto que este foi um dos motivos para ter decidido morar sozinha. Como sempre, tudo na minha vida ocorre de maneira turbulenta, então tive que vivenciar a doença que atacou o meu estômago e é responsável por eu estar há 4 dias sem comer direito (e infelizmente, sem beber, sendo que eu precisava), o rombo que encontrei na minha conta e perceber que não vou conseguir nem pagar o meu primeiro aluguel e todas as minhas despesas com o que tenho no momento, e ter que apelar para o pagamento das minhas férias, 30 dias que eu poderia tirar para descansar, mas trabalhar enobrece a alma (vou tentar acreditar nisso), para pagar tudo o que devo e de quebra tentar visitar o mar, o término com o Edgar que está corroendo meu coração e a culpa constante por ter saído de casa sem qualquer condição para isso, ainda dependendo de grandes ajudas de meus pais, tudo assim, de bandeja, na mesma semana. Por mais que eu esteja totalmente preocupada - e hoje eu sei o que é deixar de dormir por falta de dinheiro (algo que já vivi várias vezes, a diferença que agora depende totalmente de mim) -, eu sei que é tudo uma fase e estou animada sobre o que pode acontecer daqui pra frente nessa nova jornada de liberdade e independência que me aguarda. Sentir isso me faz perceber o quão estava despreparada para namorar, pois, estar num relacionamento cômodo te faz pensar menos (esse é um dos motivos que me fizeram parar de postar aqui), porque você sempre tem alguém para afagar as suas mágoas e dúvidas, e o que eu preciso é aprender a lidar comigo mesma e com a vida que escolhi e este momento é agora, e eu não conseguiria fazer isso estando com alguém. Eu espero que em algum momento eu esteja mais tranquila e quem sabe, conheça alguém que me faça apaixonar e amar ao mesmo tempo o suficiente para apaziguar essa insaciável vontade de descobrir as mazelas e prazeres da solitude e viver um amor desses que enchem o peito, te fazem mais feliz e a pele brilhar, em que planos para o futuro surgem em cafés-da-manhã a dois, na cama, pós-sexo, de maneira natural para ambos. Enquanto isso não acontece, vou voltar a me jogar no mundão e ver no que dá.

Uma carta ao cara mais legal do mundo

Começo esse post com os olhos cheios, porém, com o coração conformado. Porque com tudo que já passei não haveria porque não aceitar o fim que procurei. Eu queria ter te amado da maneira que você merecia, mas eu não posso oferecer algo que não sinto profundamente. Porque eu te amo, mas este sentimento não é intrínseco em mim. Eu sempre disse que queria um relacionamento leve, desses com sabor de fruta mordida, doce, que nos deixa sermos nós mesmos, mas eu não sabia que deveria estar pronta - digo, com o coração totalmente livre e a mente mais amadurecida - para ter embarcado. Nossa maré era serena, mas isso era o que eu achava, porque percebi que as águas vindas de você eram mais profundas e eu nunca estive preparada para lidar com isso. Por isso eu briguei, eu tentei fugir de seus braços e preocurei razões para não estar com você, mas eu sempre voltava, porque apesar das minhas atitudes escapistas, eu te amo. Mas eu só amo, e talvez eu precise de mais para deixar alguém mover o meu mundo, além disso, existem outras coisas que me levam para outros sentidos, diferentes dos teus. Você dizia para irmos viajar, para visitarmos o mar, mas a cada vez que ouvia isso, eu associava o mar com outras pessoas e outras ocasiões que nada tem a ver com você, me perdoe. Eu fui tola em te subestimar, porque eu estava numa onda tão leviana e egoísta, me livrando de uma droga de amor, e ainda esperando que tudo que viesse fosse bom, ao meu modo, que esqueci que você é humano e também tem expectativas e não age sem esperar algo em troca. Você sempre foi tão gentil, tão afável e solícito, e eu, por vezes, tão distante e fria, porque não sabia lidar com todo esse amor que você pode me oferecer. Eu percebia na maneira que me olhava, nas palavras sutis, que você estava apaixonado, e toda vez que eu me perdia e escapava por teus braços, sabia que estava destroçando o seu coração. Até que esta foi a última vez que eu me perdi na vida estando com você, e deixei toda a minha confusão te abalar, porque retomei a consciência e entendi que não posso mais fazer isso com você e nem comigo. Isso não quer dizer que não doa, que não esteja sofrendo, mas eu sei que é o certo a fazer. A vida é feita de escolhas, e por mais que eu sei que vou sentir uma falta imensa de você, eu escolhi te deixar ir. Vivemos muito dentro de pouco tempo - dois meses - e esse pouco foi o suficiente para conhecer essa pessoa maravilhosa que você é e eu tenho certeza de que você merece muito mais. Boa sorte na sua vida e eu espero que algum dia você me perdoe. Com amor, Angélica.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Clandestinagem - Uma crônica sobre a pluralidade que encontrei em você


Eu te pedi e você veio, e devagarzinho vai deixando a sua marca em mim. Como uma brisa que bate no rosto num fim de tarde caloroso que, aconchegante, refresca e acolhe. Lembro dos seus olhos se levantarem e se arregalarem quando se encontraram com os meus, e eu pensava em jogar o meu cigarro antes que você me visse, mas não deu tempo, porque você já estava na mesa do bar de esquina soltando a fumaça do cigarro teu. Logo já estávamos íntimos, dividindo a cerveja e o friozinho que aquele dia chuvoso nos trouxe. Você parecia acanhado sendo que eu esperava uma persona mais escrachada, e isso me fez te apreciar mais naquele momento. Quando demos as nossas primeiras risadas foi quando percebi que poderia ser eu mesma, e tenho sido, sob a segurança de que você não me julgar por isso. Eu gosto do som da sua risada e quando seu rosto forma um sorriso sereno e doce que me contagia e me faz ser mais divertida, é como se você despertasse o melhor de mim. Cada vez mais você foi se infiltrando na minha vida e, sem que eu pudesse perceber, você já estava em mim, e isso me assustou. Me deixou confusa porque eu nunca tive a oportunidade de ter vivido o que vivo contigo hoje, e por mais que eu desejasse isso há anos, eu fiquei sem saber como agir. Eu sinto que eu posso ser livre com você, apenas não compreendo até que ponto essa liberdade funcionará para nós. Talvez eu ache que sei o que quero, mas eu não sei o que você quer, no entanto acredito que podemos descobrir isso juntos. Você estaria disposto? Eu amo a sua leveza e as gargalhadas que só você conseguiu me arrancar nas manhãs em que eu geralmente estou sob efeito de um mau humor doentio. Eu me sinto transbordar quando estou contigo, não sei explicar o que realmente é isso, mas eu apenas sei que é algo lindo que eu nunca havia sentido. É diferente daquelas paixões arrebatadoras e incontroláveis, em que você passa o dia todo enjoado à espera de algum sinal do ser amado, quando toca o telefone e você sai correndo para ver se é a pessoa e morre um pouco por dentro quando nota que se trata de outra. Quando você vive sob uma pressão angustiante entre picos de euforia e extrema depressão porque se entope de expectativas tão opressivas, que seu corpo se torna incapaz de se livrar das toxinas e sintomas narcóticos. Ou quando desperta em você um sentimento de caos onde a única fonte de paz se encontra no ser superestimado e praticamente irreal. Não, ainda bem que não é assim conosco. Você me faz sentir alguém melhor, assim como dizem nesses textos de auto-ajuda que lotam nossas time-lines e que as pessoas mais possessivas e intolerantes insistem em compartilhar como se estivessem aprendendo algo de tanto que se fixam em informações que, interiormente, não passam de palavras enfiadas goela abaixo e serão esquecidas no primeiro sinal de estímulo a um comportamento de ciume. Exatamente como as pessoas que oram diante de um padre ou pastor todas as semanas, e dormem enquanto os mesmos leem algum trecho de um livro grosso e antigo. Elas pensam que estão fazendo algum bem para o mundo e para si mesmas, quando na verdade a maioria se engana. Nosso romance é mais do que um romance, aliás, vai muito além. Eu te vejo como um cúmplice de uma vida clandestina e libertina em uma cidade caótica e tão louca quanto nós. Sinto que você não veio para me confundir e sim para me estender a mão, não para me ajudar, mas para caminhar ao meu lado por onde essa estrada puder nos levar. E enquanto não soubermos, nós iremos nos embriagar, cair no chão com dor de estômago de tanto rir de nossas próprias tolices e, levemente, provocando no outro qualquer sensação intensa e insana até descobrir se isso realmente é amor ou alguma outra coisa que não existe no nosso vocabulário. Obrigada.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Aceitação

Eu me sinto ridícula por não ter te esquecido. E, pior, me sinto enfraquecida e burra, porque meu sentimento por você é totalmente irracional a ponto de não fazer sentido sua existência e, principalmente, sua permanência. Não tivemos uma puta história, não namoramos, não moramos juntos, não passamos mais de 24 horas totalmente ao lado do outro. Eu não conheço suas manias, não faço ideia de qual seja seu prato ou cantor favoritos. Eu não sei qual é a marca do seu xampu e nem o nome da sua mãe. Eu só sei que eu sou uma idiota porque me pego sofrendo com a sua imagem, constantemente. Não sei o que você tem de especial, não te acho mais interessante do que qualquer um que tenha passado na minha vida, e nem vejo nenhuma lógica em ainda te manter nos meus pensamentos - mesmo não querendo - mas você não sai da minha cabeça. Eu até esqueço que você existe, mas sempre surge algo para me fazer lembrar de você. E, às vezes, você aparece do nada, inclusive em momentos inconvenientes. É isso que você se tornou: um pensamento safado, persistente, cansado. Eu queria não lembrar mais de ti, eu queria que as últimas vezes que te vi eu não tivesse ficado tão nervosa a ponto de não conseguir ficar no mesmo ambiente que você, mas não pense que é porque você é um cara muito incrível que foi capaz de me fazer tremer nas bases. Sua presença me incomodava, porque eu tenho ódio de gente covarde. Existe um abismo que nos distingue, talvez você não tenha percebido, mas enquanto eu sentia tudo isso, me mantive ali, em pé e com toda coragem do mundo, sorrindo para qualquer ameaça e sambando em cima de qualquer armadilha. Não para te enfrentar, mas para curtir o que me fosse proposto ou o que a vida decidisse me proporcionar nos dias em que estive em sua cidade, e, vou te contar, foi maravilhoso! E você, você fugiu como uma gazela prestes a ser devorada por um leão, um peixinho sem vida ao lado de um felino grande e valente. Eu não gosto de me comparar com esses dois exemplos acima, mas foi assim que você agiu. Minha presença te incomodou e te fez colocar a máscara do fracasso, e correr para o aconchego do seu lar, porque você é fraco demais para estar nas ruas, ou na selva. Mas você é assim, como um bicho do mato que só sabe se defender, você nunca será ameaçador para ninguém, porque você não sai da sua zona de conforto, afinal, você não caça. Você é quem larga o controle antes de chegar no final lap, porque tem medo de fracassar, sem saber que isso te torna um fracassado no jogo da vida, pois aqui, no mundo real, quem não dá o play não sabe, e nunca saberá, qual é a graça de viver. E nisso eu não posso te julgar, apenas lamentar, porque eu te acho maravilhoso o suficiente para conquistar o mundão, seja com a sua inteligência, ou com a sua paciência. Eu te vejo preso em seu próprio pesadelo, sob o constante medo de se arriscar. Eu queria que você se libertasse, e estenderia as mãos a qualquer momento para te acompanhar, mas sinto que minha necessidade maior é me libertar de você, porque a sua covardia se tornou tóxica para mim. Mas eu não consigo. Então prefiro aceitar o fato de que você vai continuar nesta cabeça durante algum tempo, cada vez menos frequente talvez, e, quem sabe o tempo te leve de meus pensamentos, quem sabe...

domingo, 4 de janeiro de 2015

O mar

Planta e Raiz - Aquele Lugar

Ter reencontrado o mar me libertou. Sentir sua água salgar os meus cabelos e meu corpo me lavou a alma e me libertou dos maus pensamentos, tirou de mim o que o ano passado deixou. Foi um ano bom, transformador, onde senti emoções e pude vivenciar experiências nunca antes imaginadas. Foi um grande rolê, uma aventura louca e inesquecível, mas ele acabou, e com ele, tudo o que restou. Sinto minha alma tranquila e serena, somente esperando os acontecimentos deste novo ano, pronta para viver o que tiver de acontecer, mas não me sinto ansiosa, e isso é maravilhoso. Acredito que se o ano passado foi transformador, 2015 será o ano de amadurecer, assim espero, assim gostaria.