sábado, 9 de maio de 2015

A razão que encontrei na sua ausência

Febril me acolhi no meu cantinho: minha cama com todos os travesseiros e edredons que tenho, e adormeci. Quando despertei, já estava escuro, e no meio dessa escuridão, vi teu rosto, exatamente como estava acostumada, com você dormindo tranquilamente, meio babando, meio roncando, ao meu lado. Ainda tenho costume de dormir no canto da cama, como se estivesse te dando espaço, e as vezes lembro de você reclamando que eu durmo encolhida demais, sem perceber que você dominava quase todo o colchão, apenas me disponibilizando o cantinho. E eu nunca achei ruim te deixar aquele espaço todo, era uma maneira de te deixar à vontade na minha casa, de deixar um pouco do meu para você, e, metaforicamente, de te dar um grande espaço na minha vida.

Lembro-me que depois de algum tempo juntos, àquela sua imagem passou a me confortar, e muitas vezes eu te abracei e distribui beijos sem você notar. Era um modo de cuidar de você, de te amar mesmo que você não estivesse acordado para perceber. Ainda deitada no colchão, outras imagens suas começaram a surgir de maneira tênue, não mais me bombardeando e enchendo meu peito de mágoa e meu rosto de lágrimas, como há alguns dias. Acho que sua ausência tem me resultado compreensão e tenho aprendido a lidar comigo mesma muito mais tranquilamente do que em toda a minha vida. Coisas que eram nebulosas meses atrás, agora fazem muito sentido. Tenho aprendido a amar a minha casa, me sinto acolhida, mesmo quando não há companhia. Quando estava com você, eu mal ficava sozinha aqui, eu até tinha medo de estar, era como se eu estivesse postergando enfrentar a minha solidão. Li esses dias que tememos os momentos de isolamento porque sabemos que teremos de nos enfrentar, e o quanto isso pode ser doloroso. E hoje eu aprendo a apreciar isso, minha solidão que nada é vazia, minha solitude que me torna uma pessoa mais consciente e cuidadosa comigo mesma. Não me cuidei enquanto estava contigo, coloquei muito peso sobre você e me perdi, hoje eu entendo isso. Pensava que você era a pessoa certa na hora errada, mas não, você veio na hora certa porque eu aprendi e ainda tenho aprendido com você, e eu espero que eu também tenha provocado algo assim em você. Sejamos honestos, tudo na vida é aprendizado e a gente só enxerga isso quando abandona o ego.

Foi então que te admirei em meus pensamentos e senti que isso prova o meu amadurecimento, dado o fato de como as coisas terminaram, eu poderia me forçar a te esquecer, ou estar com raiva ainda, remoendo tudo o que aconteceu. Eu acho que só parei de me desesperar ao lembrar de você ou a ver coisas que te remetem, é como se eu calasse um pouco meu coração e tirasse os pensamentos ruins sobre você de mim. Aos poucos eu vou parando de ver você em todo mundo que eu encontro na rua, ou a lembrar de você com pesar. É como se apenas fosse restando a lembrança boa, muito mais amena e menos frequente, e acredito que eu ainda tenha que aprender muito sobre tudo isso. Quando as coisas começaram a parecer que poderiam ficar ruins, liguei a luz, levantei, e um banho tomei. Liguei um som alto, falei ao celular, me arrumei. Tô pronta para sair.

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