quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Libertação e o racismo deles de cada dia

Quando penso em maneiras de me livrar de um peso muito grande, não consigo me imaginar fazendo outra coisa melhor que não seja escrevendo. Escrever é a minha maior arma desestabilizadora a tudo que me sufoca, o meu grito contra a sociedade que me rejeita, o alívio e o calmante às dores emocionais e, provavelmente, o passaporte para a libertação. Tenho lido bastante sobre racismo e feminismo interseccional asiáticos e muito tenho notado e relembrado o quanto minha liberdade foi invadida, meu despeito tirado à força e minha paz arrancada. Desde que me tenho por gente, percebo que nunca fui tratada como igual pelas outras pessoas. É um sentimento de não-pertencimento enraizado e que, conforme fui crescendo, foi se aflorando. Começando na pré-escola, desde a entrada na perua, durante todo o trajeto e com o passar do dia, eu ouvia, de crianças a adultos, piadinhas sobre como meus olhos eram puxados, perguntas sobre como eu conseguia enxergar, se meus pais sabiam falar em português, sobre a comida que eu comia, entre outras coisas. Para mim, eu era uma criança normal, mas as pessoas sempre me trataram com diferença. Conforme fui crescendo, as insinuações foram piorando, porque eu comecei a ser fetichizada e odiada. Perguntavam se a minha vagina era invertida, se eu só ficava com japas, e ouvia coisas como: "nunca fiquei/provei/comi uma japinha". Muitas vezes me senti com raiva de ser quem eu era, sonhava em acordar um dia e no reflexo do espelho encontrar uma menina branca e de olhos grandes. Quantas vezes me perguntei por que eu tinha que ser diferente. Comecei a ter ódio de ser quem eu era. Comecei a notar que as pessoas se aproximavam ou se afastavam de mim por conta da minha aparência. E o pior disso tudo, é que eu sempre estive exposta, ajudando meus pais na loja deles, cresci vendo eles sendo tratados de maneira diferente, ouvia/ouço meu pai sendo chamado de qualquer outra coisa que não fosse o nome dele, o mesmo acontecia com a minha mãe, minha irmã e qualquer outro parente. Acontecia e acontece o tempo inteiro. Isso cansa, isso dói, porque te faz duvidar de si mesmo. Mas tudo isso despertou em mim uma fúria que se reverteu em me distanciar das minhas origens ou abraçá-la, num dilema infinito. Foi então que eu encontrei o feminismo e descobri que precisava me empoderar, que precisava aprender a me colocar no lugar dos outros, a me ver na pele dos outros. Só que notei que as pessoas também não se colocam no meu lugar, ou no lugar de mulheres como eu. Amarelas, orientais, asiáticas. Hoje eu sei: eu sou diferente. A minha cor é diferente, o meu biotipo é diferente, a minha história também é diferente. E nem por isso dói menos ou mais, apenas a gente vai criando uma armadura. Eu sei me defender, o problema é quando esses pequenos abusos acontecem em ambientes que deveriam ser seguros. Não é todo dia que você acorda empoderada, pronta pra se defender com classe e dignidade. Tem dias que eu só queria ser invisível. Tem dias que os olhares incomodam. Tem dias que a verdade não é sempre branda e nem os abusos são evidentes. Tem dias que você não quer explicar para as pessoas que elas estão sendo racistas, machistas ou homofóbicos, você só quer que elas calem a boca e fiquem longe de você. Tem dias que você só quer se divertir como uma pessoa qualquer, sem receber olhares e julgamentos, sem ter que ter vontade de mandar alguém calar a boca ou se fuder, sem querer se irritar ou virar os olhos. Olhos que por sinal estão bem abertos e observando essa podridão toda sem tentar absorver tudo de ruim que há.
Hoje, eu me olho no espelho com orgulho de ser quem eu sou. Das minhas histórias contadas em tatuagens, dos meus olhos, do meu cabelo e do meu olhar colérico que muitas vezes diz: cuidado, não mexe comigo. Minha aparência desagrada porque não sigo mais qualquer padrão e eu sei que incomoda. Mas, bastasse o olhar de distanciamento a completa defesa das agressões. E é sobre isso que eu ainda não consegui me libertar. Tô cansada. Ainda não me identifico com capas de revista, ainda não me vejo representada em campanhas de "representatividade", ainda não me sinto acolhida por este feminismo, que descobri ser branco, elitista, classista e racista. E agora apenas decidi que não vou terminar este texto com mais lamúrias e sem resolução, porque é aqui que eu firmo: eu vou me levantar, vou continuar sendo forte e vou começar a me posicionar. E essa sociedade que tanto me rejeitou vai ter que me aguentar.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Um ano ao seu lado

Quanto mais o tempo passa, mais eu percebo que a razão nada tem a ver com o amor genuíno - não a forma como se o coloca em prática. Isso porque, se eu fosse racional demais, provavelmente estaria sozinha. Provavelmente também, viveria de maneira autônoma ao amor romântico, desacreditada no conceito de alma gêmea, mas, internamente, à procura de um ser impossível. Depois de ontem, um dia que começou mal e só tomou um rumo positivo porque nos depusemos, percebi que não quero mais procurar por esse ser ideal e irreal, porque eu sou real e sou imperfeita. Eu não quero um ser perfeito, porque hoje tenho a perfeita noção de que é justamente a imperfeição que nos leva a crescer juntos. Não importa se nos diferimos em alguns sentidos, o que me é o bastante é saber que ao meu lado tenho alguém imperfeito, real, que cuida de mim à sua maneira e que planeja ter um futuro comigo e, mais do que isso, me ama sendo imperfeita e real. Alguém que eu aprendi e continuo aprendendo a amar, com a consciência de que estamos em constante expansão e mutação, e assim, vou aprendendo. Um ano se passou e percebo o quanto o tempo significa nada. Pois temos todo o tempo do mundo.

sábado, 27 de agosto de 2016

Ótimo em negar

Eu poderia dizer que sinto falta de quando as coisas eram leves e despretensiosas. Mas nunca foram, pelo menos, hoje eu sei. Então, não posso me sentir nostálgica com algo que não vivi. Se a sua arma é a ironia, isso só me demonstra a necessidade de vestir uma máscara para esconder sua insegurança. Essa cosmética também se traveste de arrogância, na maioria das vezes. Tudo para justificar sua comodidade. A imagem de pessoa positiva e ultrasegura de si é o que não te deixa enxergar suas fraquezas e, portanto, resolvê-las. Não preciso de binóculos para vê-las, porque suas últimas atitudes têm as deixado evidentes. É difícil abandonar as próprias amarras pervertidas de proteção. É duro despir-se na frente de alguém, mas é mais complicado ainda despir-se na frente de um espelho, porque o reflexo, em conjunto com a mente traiçoeira, pode enganar.
A mente engana ou quer se deixar enganar? É uma escolha? Ou seria necessário abrir os olhos para ver além do que a própria imagem promove? O que serviria de ultrassom capaz de desafiar o próprio conforto que o reflexo possibilita?
Cansei de pensar, porque até meus óculos não têm resolvido minha miopia emocional.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Da morte, o renascimento

Por quanto tempo ainda iremos continuar nos enganando, achando que sabemos algo sobre a morte, que sabemos a real essência da vida? Quanto ainda é preciso sofrer, sentir, chorar e se anestesiar para finalmente conquistarmos algum ensinamento que nos preencha o vácuo que existe quando a vida se extingue? Da morte vem o renascimento? Essa teoria só cabe em metáforas sobre qualquer outro assunto que não seja a morte. A morte é dolorida, silenciosa e solitária. A vida, no entanto, pode ser diferente. Mas, qualquer caminho que seguirmos nos conduzirá ao mesmo destino: a morte. E por que se vive tão mal? Será que a forma como se vive também é questionada através de uma ótica completamente pessoal? Perder alguém dói, mas dói mais quando se sabe que poderia ter sido diferente. Meu luto tem sido penoso, porque pensar me esgota principalmente porque não encontro respostas. Nada irá confortar meus questionamentos, nada irá afagar minha memória, porque nada mais pode ser feito. E, nisso, não existe aceitação. Me dizem para parar de remoer, para "deixar ela ir", porque se não sua "alma" ficará presa na terra. Mas, EU NÃO ACREDITO NISSO! Como posso crer em algo que não faz sentido?

PS. Descanse em paz, agora, batian.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Qual é o meu sonho?

Tenho me perguntado recentemente, com certa frequência, qual o meu sonho. E, sobre isso, sempre tive vaga ideia. Sempre soube que escrever seria a minha melhor saída, a minha paixão, o meu tesão e a minha redenção. E, provavelmente, onde estaria meu triunfo.

Aos 12, decidi que seria jornalista. Aos 18, na faculdade, decidi que seria repórter investigativo, deslumbrada pelo trabalho de Cacos Barcellos da vida. Aos 20, perante à crise no mercado de trabalho, decidi que toparia qualquer emprego em que pudesse escrever. Aos 21, recém-formada e com 3 experiências no currículo, desempregada, comecei a fazer freelas. Aos 22, sem freelances e sonhando muito, tangenciada pelo trabalho na loja dos meus pais, o desespero já havia se tornado meu companheiro. Aos 23, voltei ao mercado de trabalho para continuar fazendo o que eu queria, que era escrever. Aos 24, ainda no mesmo emprego, meu salário foi aumentando, assim como minha insatisfação. Aos 25, resolvi morar sozinha, a solitude e a solidão se fizeram presentes e também completaram o cenário ideal para conseguir escrever mais. Aos 26, o desespero volta a me atormentar, só que com mais força e, de repente, sobreviver já não é mais uma escolha.

Cansei de direcionar toda minha imaginação e inspiração para escrever coisas que não acredito, para empresas farmacêuticas que escravizam vidas e criam doenças em função do lucro. Estou farta desse mercado que torna refém uma sociedade necessitada de bens de consumo, mais do que de qualidade de vida. Esgotei as minhas forças tentando humanizar minha visão por patrões e líderes, pois os discursos sempre prevaleceram exatamente isso: o capital.

Mas, não se engane, não vim aqui lamentar minha falta de estabilidade financeira e criticar o capitalismo. Vim aqui dizer que desejo não mais fazer parte disso. Cansei de dar dicas baseadas em estudos para promover medicamentos, cansei de escrever para vender produtos, cansei de enganar leitorxs com uma escrita atrativa e pseudo-gentil. Não tenho mais qualquer desejo de tentar informar a partir de uma imprensa que mais desinforma do que realmente tem preocupação com a parcialidade e respeito com seu leitor. Não quero ser jornalista, não quero ser publicitária. Não quero!

E meu sonho no meio de tudo isso? Eu quero escrever para ajudar, para provocar reflexões e, possivelmente, aprendizados. Quero falar com jovens que estão formando seu caráter, descobrindo o mundo e se descobrindo com ele. Quero dialogar com gente como eu, ou gente diferente de mim, mas que, em algum pensamento, nos encontramos e nos compreendemos. Quero escrever sonhos, utilidades, memórias e histórias que merecem ser contadas.

Quero que a literatura brasileira seja valorizada, que novos Camões, Machados, Leminskis e Vinícius surjam, e que a memória dos antigos permaneça. Que as mulheres ganhem força nesse meio, que lotem as estantes, das livrarias e das casas. Que autores brasileiros sejam tão lidos e venerados quanto são os lá de fora. Que se leia mais, que se desperte o prazer por ler e que livrarias, sebos, saraus e eventos literários se tornem mais populares do que Netflix. E, não somente pelo aprendizado que a atividade proporciona, mas também, como forma de introspecção, de lazer e de transgredir cultura e sabedoria.

Sim. Esse é meu sonho.

domingo, 17 de julho de 2016

As mãos que descascam uma mexerica


O dia em que não puder mais descascar uma tangerina com as minhas próprias mãos significa que parte de mim está morrendo.


Lembrando que toda morte representa também o renascimento, uma nova vida. Então, se há vida, vamos brindá-la.

Caipirinha de sakê e tangerina.

"Devemos amar mais a vida do que o sentido da vida." - Fiódor Dostoiévski

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Dor na coluna, a resposta da dúvida


Sinto uma dor na coluna, há duas semanas, sem qualquer razão. A mesma dor tem afetado meu sono, que também não está da melhor qualidade, assim como tem me impedido de ir na academia nos últimos dias. Ela causa um desconforto que pulsa da coluna vertebral às costelas. Como um incômodo que lateja, persistente. Como uma dúvida sem conclusão. Um pensamento que não se completa, mas permanece aberto, sem cicatrizar.
Em alguns dias completo 26 anos e, com a espera involuntária pela chegada deste dia, vem a ânsia, a insônia e a dúvida. O que eu quero da minha vida? Eu quero continuar neste emprego? Quero casar e ter filhos? Quero largar tudo e ir morar na praia? E tantos pensamentos parecem cada vez menos importantes - mas não menos frequentes - do que a preocupação com dinheiro, necessidade de felicidade e relacionamentos interpessoais.
Encontrei uma luz que, metaforicamente (por favor), me mostrou o que eu desejo, o que substancialmente poderá me fazer feliz. Sei que essa felicidade é superestimada muitas vezes, ninguém é feliz todo dia fazendo o que escolheu pra vida, mas também já sei o que não quero. E o que eu não quero é cometer os mesmos erros.
Sinto que amadureci lendo anotações de um ano atrás, mas os questionamentos, ah, esses persistem e insistem. Causam dúvidas, fraquejamentos e perturbações. Me pergunto o que faz as pessoas felizes. Seria uma casa grande? Um passaporte cheio de carimbos? O emprego dos sonhos? O carro do ano? Filhos e animais de estimação? Essas coisas me trariam felicidade? Ou eu só tenho que fazer um pouco do que gosto a cada dia (e, de preferência, cada vez menos do que não me agrada)?
Tive momentos de fúria e caos mental, quis a morte como subterfúgio para meus pensamentos incansáveis e pseudo-suicidas, me afoguei e continuo na orla por não saber nadar. As águas turvas me trouxeram à superfície, como se me salvassem. Ou seriam minhas nadadeiras tentando se mover? A verdade é que não sou filha de peixe, aliás, até sou, mas não fui aprendiz porque voei demais. E talvez seja no ar, com os pés longe do chão, que eu poderia me encontrar.
Da lama veio a sobriedade. Não que significassem caminhos consequentes, mas a exaustão me trouxe o oco, e esse vazio precisa ser completado. Sem dor, nem pressão, apenas, completado até a borda. Eu não sou líquido, mas evaporei.  

quinta-feira, 10 de março de 2016

Carol Peletier, férias e feminismo

Algumas semanas depois do carnaval, percebi que precisava descansar. A fadiga me subia pelas pernas e era conduzida por cada artéria, penetrando em cada poro até totalizar meu corpo, deixando-o completamente pesado. Percebi que minha ansiedade também estava às alturas e que desacelerar era mais que preciso. Chorei por duas semanas seguidas, todos os dias, ao me levantar para (não querer) ir trabalhar. Foi uma lástima nunca vivenciada.

É final de fevereiro, tive recesso no começo do ano e folga no carnaval, mas por que merda estou assim? Não sei. Até sei. Mas aqui, vou me abster em declarar apenas que meu corpo e minha mente pediram socorro - e minha mãe, que me disse que eu estava deprimida. Sofrimentos à parte, finalmente os dez esperados dias de fazer porra nenhuma férias chegaram. Embarquei numa maratona de descanso, muito sono, comidas deliciosas e frescas, muita arrumação (e desarrumação) no lar, momentos gostosos e de preguiça ao lado de momô, idas e vindas ao mercado e à casa de mamãe, papai e sistra, alguns momentos ao lado de amigos, e também muitos filmes e séries. E, claro, muito silêncio, ainda bem. Em um desses dias, entediada, resolvi que era a hora de colocar The Walking Dead em dia. Parei na terceira temporada faz mais de um ano, por preguiça e também porque não aguentava mais os assustadores pesadelos com zumbis que tive nesse tempo.

Sim, sou uma pessoa que se impressiona fácil com algumas coisas e as injeta, letalmente, em seu subconsciente, saciando-o por completo. Devo dizer que fiquei impressionada com a série, não sei se era o tédio ou a emoção provocada pelas cenas de ação, mas tenho alguns motivos além: personagens evoluindo entre conversas profundas sobre questionamentos existenciais. Que delícia! Mas, cito a série aqui principalmente por outra razão: a personagem Carol e meu antigo ódio por ela.

Detestava sua submissão ao marido e não dei qualquer mérito por ela tê-lo enfrentado antes de sua morte. No entanto, meu ódio era por ela inteira, tanto fisicamente, quanto pelas suas atitudes e, principalmente, por seu flerte com Daryl, meu personagem favorito quando comecei a ver a série (há quase três anos, acho). Achava ridículo ela investir nele, mesmo ela sendo uma mulher livre (até demais, tadinha, pois também perdeu a filha), e acredito que sentia tudo isso muito mais por ela ser velha, do que por ciúmes, ou coisa do tipo. Eu achava que Daryl deveria ficar com uma mulher mais bonita e que tivesse uma idade próxima, pois acreditava que isso seria mais aceitável, apesar de que não gostaria de vê-lo com qualquer outra pessoa. Sim, rolou um fanatismo adolescente na época, acontece.

Devo dizer que para se entender melhor esta confissão, é preciso levar em conta meu ser naquela fase. Estava afastada no feminismo, havia acabado de sair de um relacionamento abusivo (ou ainda estava nele, não lembro) e tinha perdido, naquele ano, cerca de 20 quilos. 13, fazendo reeducação alimentar e exercícios, e mais 6 só de estresse. Não sei explicar tudo isso, só sei que aconteceu. Por isso, era muito fácil para mim odiar a Carol, uma mulher forte, empoderada e firme em suas convicções e desejos, mesmo passando por vários lutos, vivendo durante o apocalipse zumbi (é) e sendo totalmente fora do padrão ideal de heroína que estamos acostumados: novinha, gostosa, de cabelos compridos e lisos, sedutora.

Era uma época em que eu tinha muitos medos e surfava pela vida como quem só leva caldo na cabeça, mas continua boiando. Certeza que seria a primeira personagem a morrer na série (a não ser que fosse necessário cumprir cota de asiáticos e eu fosse uma espécie de Michonne+Psylocke). Confirmava com exatidão uma frase da Kelly Osbourne, em que ela disse que uma ex-gorda nunca se sentirá magra. De fato, eu estava no meu peso "ideal", mas parecia magra, porque emagreci muito rápido. Estava flácida, cansada e triste. Foi um momento difícil.

Mas ok, superei, cresci e evolui (acredito e espero). E hoje, com meus olhos treinados e despida de pré-conceitos, pude ver uma Carol de um jeito que não esperava. A admirei e torci por ela, chorei com ela em algumas cenas e me questionei, uma porrada de vezes: como eu odiava essa mulher? E, outra dúvida gritante: por que o Daryl não ficou com ela? Ela é sábia, poderosa e amadureceu de um jeito brutal. De mulher frágil que apanhava do marido, ela se tornou uma das cabeças e braços mais inteligentes e fortes do núcleo, tomou decisões difíceis, mas sobreviveu e ajudou outros a sobreviverem. Como fui estúpida, preconceituosa e babaca, pensei. E, na verdade, notei que ela não precisa do Daryl, assim como nunca precisou de qualquer homem. Ela mostrou isso, mais do que uma, duas ou três vezes. Que mulher foda!

Pois bem, meu último dia de férias termina com uma nova tentativa de reeducação alimentar e com o objetivo de começar na academia semana que vem. Não por desespero e necessidade de atingir um padrão impossível e desnecessário, mas porque sinto que meu corpo pede novamente por cuidados, afim de evitar mais carga estressante, mais dias de "como estou horrorosa" e para que eu possa me amar ainda mais. E também com algumas lágrimas, porque estou de tpm e tudo me emociona, além de um flan de chocolate light que me espera na sobremesa. :) Também comecei um laboratório de roteiro para webdocumentário em um coletivo feminista. Sim, vai sair vídeo feminista logo menos. Sim, vai ter meu dedo no meio e meu nome nos créditos! :D

Mas, antes que eu me esqueça: me desculpa Carol, por ter sido injusta com você, com sua luta, que é muito mais importante que sua aparência, que é linda, por sinal. Me perdoe pelos pensamentos provenientes de senso comum e cruéis que tive de e por você. Perdoe a minha ignorância, minha desonestidade, minha falta de sororidade, de empatia e até de humanidade.Vida longa à Carol Peletier, minha nova heroína! Abaixo, a foto das minhas personagens favoritas:


E essa é a sobremesa que me gabei acima. Dica: cuidado com o que você faz no micro-ondas, afinal, panela velha é que faz comida boa! 

Bem, dias de preguiça, dias de glória! Agora, voltamos aos trabalhos!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Um grande foda-se aos vampiros do meu dia a dia

Gostaria que parassem de me trazer seus problemas. Assim como sua pressa e falta de empatia. Que parassem de achar que meu ouvido é de concreto e minha paciência infinita. Que estou sempre disposta a ouvir sem responder como estou. Ou quando tentam incitar atitudes com o objetivo de me fazer perceber algo que não querem me dizer. Porque eu não guardo qualquer desejo em compactuar com relações que não me ofereçam uma troca justa e nem de tentar adivinhar o que lhe aflige. E se tentarem forçar, me fazendo sentir coagida e obrigada, eu certamente me afastarei, porque há muito tempo decidi me abster de relações abusivas. Invadir minha privacidade, me esgota, me sufoca e me faz perder automaticamente o interesse em você. Me deixem em paz, malditos sugadores! Eu espero que se fodam e não, não vou querer saber. Sejam mais independentes, autosuficientes,
se virem! Fodam-se!
Não quero saber o que fazem em suas medíocres rotinas, não quero saber do autor do seu (único) best seller favorito. Nem do seu contestável e pobre gosto musical. Nem do seu péssimo linguajar. Muito menos da sua dieta, do produto que usa no cabelo ou dos dez quilos que você quer perder. E de sua falta de bom senso em qualquer conversa que você precisa interromper os outros pra falar. Porque sua necessidade de autoafirmação é tão profunda que se iguala a sua carência em ser o centro das atenções. Sua estupidez me cansa. Sua incapacidade de pensar antes de falar só me faz ter desprezo pelo que sai de sua boca.
Não, não sou sua amiga e nada tenho em comum com você. Não me compare. Pare de esperar complacência e companheirismo de minha parte porque eu não quero! Não quero você perto de mim, não quero te apresentar meu namorado, muito menos minha família e meus amigos íntimos. Não quero que dê opiniões desnecessárias sobre a minha intimidade e não, NÃO e NÃO quero conhecer a sua! Sai de perto de mim!

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Canto da oprimida

Nasci mulher. Nasci o com o peso que o gênero imposto carrega. Nasci sob a preocupação da mãe que repensa o quanto o mundo é perigoso para a mulher. E cresci. Cresci sob o receio de virar puta, vagabunda e inútil. Cresci com medo. Medo de andar na rua. Sozinha. Ou acompanhada. Medo de ser assaltada. Assediada. Estuprada. Medo de morrer. De bala perdida. Sequestro. Ou assassinato. Medo intenso, que faz as pernas tremerem e o coração acelerar. A cada vez que um homem se aproxima. Nas ruas vazias. Nas ruas escuras. Medo de virar puta. Vagabunda. Ou inútil. Medo de meninos. Medo de homens. Medo de desejo. Nasci hétero, sem ao menos me deixarem escolher o que eu queria ser. Ou gostar. Melhor dizendo. Assim permaneci. Compreendi. Que era do gênero opressor que eu gostava.

***

Oprimir

Oprime o ventre, dando-lhe a única utilidade de satisfazer seu desejo
Oprime a fala, com arrogância e desempatia. Com agressividade
Oprime a dor. Chama de frescura, falta de louça
Oprime o clamor. Chama de louca. Histérica
Oprime a liberdade, ordenando que o que deve ser feito é em função dele
Oprime a individualidade, com a falsa ideia de amor. Julgamentos inválidos
Oprime o sexo, pensando apenas no próprio seu falo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Velha repugnante

Outro dia te disse que meu maior medo era de me tornar uma velha repugnante, que vivesse infeliz e temente à morte. Sem perspectivas de vida, solitária e sendo traída pelo marido. Sem entender por que sua vida havia se transformado nesse marasmo sem sentido e sem brilho. Você me disse que não entendia como eu poderia ser tão pessimista e que nos imaginava felizes e vivendo uma vida com toda a plenitude que representa a união de dois amantes. Então lhe revelei que essa minha visão independia da sua presença e que eu não me imagino sendo feliz ao lado de alguém, vivendo essa felicidade imposta pelo patriarcado e saindo sorridentes em fotos de família. É difícil me imaginar sendo feliz. Talvez seja porque minha concepção sobre a felicidade é distorcida, afinal, nunca consegui apreciar esse sentimento por muito tempo, pois algo de ruim sempre acontecia para estimular pesadelos. Não sei se conseguirei visualizar um futuro doce e bonito, mas sei que tenho muitas coisas para realizar, coisas que me trarão felicidade. Não sei se irei vivê-las ao seu lado, é muito peso para colocar sob sua figura, é criar expectativas que estariam longe de serem cumpridas. Acho que aprendo que amar é isso. Ama-se hoje, com os pés no chão, e quando for possível flutuar, ama-se o sonho. Haverá terra para ancorar nossos sonhos? Não faço ideia, só espero não me tornar uma velha repugnante antes disso.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Diálogos - narrações

Era um fim de tarde típico de primavera, o céu demorava mais para escurecer, dando ao dia a oportunidade de ser mais longo. Era possível ver o sol encolher seus feixes de luz ao horizonte, o que promovia uma visão esplendorosa em que uma paleta de tintas parecia brigar no céu. Enquanto isso, íamos caminhando, os três, cada um para seu respectivo lar, que não ficava a muitas quadras de distância uns dos outros. Eu admirava os cabelos dela, que eram de um cacheado tão preciso que beiravam à perfeição, assim como sua pele cor de chocolate, tão brilhante que lembrava um bombom.

***

Cheguei em casa e eles não estavam. Não me perguntei aonde teriam ido, mas se haveria janta aquela noite, pois me causava arrepios me imaginar comendo pão com mortadela novamente.

***

Passava das 22 horas e nada deles. Por que me largaram desse jeito? Pensei em ligar para a tia Mari, mas desisti ao lembrar do mau odor de sua casa e da quantidade de pelos de seus 13 gatos espelhados pelo tapete de seu pequeno apartamento. Contei para xxxxx e xxx no nosso grupo de mensagens. Eles apenas recomendaram: hora de atacar a cozinha. Levantei do sofá e caminhei vagarosamente até à garagem para pegar a escada. Com muita dificuldade consegui arrastá-la até a cozinha, imaginando quantas broncas tomaria de mamãe se ela descobrisse minha tramagem, mas recordei que minha fome era culpa dela e então o remorso passou. Então levei-a ao encontro do lugar proibido: o armário de guloseimas. Lacei mão sobre as batatinhas, biscoitos recheados e chocolates. Tudo o que eu só poderia comer se fosse obediente estava, finalmente, à disposição do meu desejo de devorar tudo.

***

Me perguntei inúmeras vezes que lugar era aquele, mas ao entrar na primeira sala pude avistar a imagem do paraíso: uma mesa repleta de comidas. Tudo parecia incrivelmente delicioso, havia uma torre de cupcakes com coberturas e confeitos de todas as formas e cores. Cachorro-quente, hamburgueres, bolo de chocolate, coxinhas, gelatina colorida, brigadeiros e pudins. Depois disso tinha a certeza de que estava no céu. "Obrigado Deus todo poderoso! Sabia que você reconheceria meus bons hábitos e obediência que meus pais nunca perceberam", mandei beijo para o teto e corri em direção à mesa.

***

Comemos tudo o que foi possível e o suficiente para não saber se arrotava à chocolate ou a cachorro quente, mas posso dizer que me sentia mais do que satisfeita e os dois pareciam sentir o mesmo. Nosso extase era tanto que começamos a rir sem parar e sem qualquer motivo. Olhava para a boca toda suja de suspiro de xxx e caia na gargalhada. Foi então que os bolinhos pareciam derreter, tentei segurá-los mas começaram a despedaçar pelas minhas mãos

Ele

Às vezes olho para ele e imagino o universo. O quão grande o enxergo. Não porque o coloque num pedestal, mas porque ele realmente é grande. Esplêndido em toda a graça de sua presença. Aquela voz aguda e de fala praticamente cantada, que as vezes fica fina quando ele está em seu lar ou quando tenta ser charmoso, mas acaba parecendo um bebê cheio de manha, como quem propositalmente age dessa maneira para ser pego no colo e aninhado. E de repente muda, fala grosso, briga, se defende como quem se sente ameaçado e por meio de uma dialética única. Depois me aperta, faz piada, dá risada.
Às vezes olho para ele e fico impressionada com toda a infinidade de sua beleza ao mesmo tempo que me incomoda saber que todas as pessoas têm acesso a essa visão. Mas isso me faz lembrar que algumas poucas visões só eu tenho. A visão do seu olhar apaixonado, me lembrando do por que me entreguei, com aqueles olhos brilhantes e um sorriso bobo na boca. A visão das suas nádegas redondinhas se mexendo quando ele levanta da cama para se lavar. A visão daquele olhar que me penetra, literalmente, em todo o meu corpo, me dominando com maestria, proporcionando momentos únicos de loucura e prazer. Momentos que eu desejo a maior parte do meu dia, que é poder ter uma nova oportunidade de me perder nos seus braços, no seu corpo, no seu gozo. A visão daqueles cabelos caindo sobre os meus seios quando ele sai de cima de mim, com aquela moleza pós-orgasmo e me mostrando o quanto ele é maravilhosamente lindo e inteiramente delicioso. Genuína e interiormente repleto de beleza.
Privilégios meus, sortudos olhos, carregado por um corpo amolecido e uma mente inquieta. Comunicação entorpecida, desejo imenso provocado pelo medo e pela paixão. Seguro coração, que pulsa e arde, dentro dessa carcaça pesada.

A viagem

Lembram-se daquela viagem? Em que, desprentesiosas não esperávamos tantas aventuras? Nunca o "eu" se fez tão presente em todos os diálogos da vida. Era como se fosse uma luta constante para manter esse ego vivo. Mas nos entendemos. Lembram-se daquela praia de água límpida e maré baixa? E de como ela acalmava a alma? As ondas batiam levemente trazendo a brisa serena e desforme para refrescar os nossos corpos. Lembram-se de quando pegamos carona com um desconhecido, um punk caiçara que para mim não era tão desconhecido assim? E no carro dele fumamos um enquanto ríamos, em coro, de tudo o que ele dizia? Lembram-se de todas as paisagens, praias, rios e cachoeiras que encontramos? Como tudo era belo e parecia infinito? Lembram-se de quando paramos numa festa dentro de um motoclube e parecíamos integrantes do clube da Luluzinha, com nossos vestidos floridos, pedindo cigarros para homens sujos, bebendo cachaça barata e fazendo pose de quem quer seduzir? Lembram-se de quando tomamos um lsd derretido em água e ficamos brisando com as nuvens do céu, imaginando a realização dos nossos sonhos? Lembram-se do moreno que veio falar comigo, perguntando onde iríamos passar o ano novo e de como a sunga dele era tão apertadinha que dava para enxergar mais do que queríamos? Lembram-se das conversas infinitas, das discussões sobre feminismo, sobre amores e desamores? Lembram-se do quanto estivemos felizes?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Retrospectiva 2015

Sorrisos que inundam a alma com a aquela brisa fresca e revigorante. Fazem encher o peito de expectativas positivas e resoluções razoáveis. Não vou declarar aprendizado, pois temo ser clichê e ingênua, e até mesmo arrogante. Prefiro revelar apenas que vivi e senti. E dessa vivência, em conjunto com uma explosão de sentimentos, algum aprendizado veio. Diferente do ano passado, em que me mantive em constante frenesi, este ano alcancei alguns objetivos. Sai de casa, enfrentei a solidão no qual também recorri e me acasalei. Senti fome, medo e tive vontade de abandonar tudo, mas aos poucos me reergui. Lutei, batalhei, corri, sofri, militei, briguei, gritei, mas gozei, ri e me encontrei de algumas maneiras, válidas ou não, sinceras ou não. E quando nada mais me aguardava e a vida parecia calma, topei com a paixão, que me bagunçou inteira. Chorei mais um pouco, pensei em fugir, mas permaneci e o calor pude sentir e me deixar invadir. Encontrei o amor, na maneira mais sublime, mas como um sopro intenso me convocou para permanecer. Com inúmeras dúvidas prossegui e assim as escolhas me trouxeram mais certezas.
Quanta coisa! Não sei o que espero de 2016, só gostaria que fosse mais doce que os anos anteriores. Gostaria que objetivos se tornassem realidade e que a calmaria fosse rotina. Mais viagens, mais sorrisos, mais amor.