sábado, 20 de fevereiro de 2016

Canto da oprimida

Nasci mulher. Nasci o com o peso que o gênero imposto carrega. Nasci sob a preocupação da mãe que repensa o quanto o mundo é perigoso para a mulher. E cresci. Cresci sob o receio de virar puta, vagabunda e inútil. Cresci com medo. Medo de andar na rua. Sozinha. Ou acompanhada. Medo de ser assaltada. Assediada. Estuprada. Medo de morrer. De bala perdida. Sequestro. Ou assassinato. Medo intenso, que faz as pernas tremerem e o coração acelerar. A cada vez que um homem se aproxima. Nas ruas vazias. Nas ruas escuras. Medo de virar puta. Vagabunda. Ou inútil. Medo de meninos. Medo de homens. Medo de desejo. Nasci hétero, sem ao menos me deixarem escolher o que eu queria ser. Ou gostar. Melhor dizendo. Assim permaneci. Compreendi. Que era do gênero opressor que eu gostava.

***

Oprimir

Oprime o ventre, dando-lhe a única utilidade de satisfazer seu desejo
Oprime a fala, com arrogância e desempatia. Com agressividade
Oprime a dor. Chama de frescura, falta de louça
Oprime o clamor. Chama de louca. Histérica
Oprime a liberdade, ordenando que o que deve ser feito é em função dele
Oprime a individualidade, com a falsa ideia de amor. Julgamentos inválidos
Oprime o sexo, pensando apenas no próprio seu falo.

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