domingo, 1 de julho de 2018

O pêndulo e a vela


O tempo nunca foi meu amigo. Na verdade, eu nunca consegui acompanhá-lo. Penso que não há liberdade quando se tem que viver conforme o tempo que foi determinado a você. Nessa sociedade que prega o egoísmo como condutor de uma vida que se espera que você tenha, o livre arbítrio é uma farsa. "Jogue o jogo deles", eles disseram, enquanto no andar de baixo, havia um garoto de 19 anos, periférico, negro e gay sofrendo bullying de sua chefe, um dos motivos que supostamente o levaram a ter um surto psicótico meses depois. Quem aguenta viver nessa cidade com sanidade? Sempre correndo, sendo esmagado dentro dos transportes públicos, perdendo horas no trânsito diariamente e constantemente se perguntando que merda de vida é essa. "Tenha uma vida que merece ser vivida", quando se alcança isso? Ou essa frase é só mais uma fábula desses poetas que eram completamente infelizes, sempre buscando algo inexistente para aliviarem suas dores? Não é à toa que os mais famosos também eram bons poetas de bar, tinham problemas com álcool. A verdade é que não tenho conseguido mais me divertir sem álcool. As mudanças bruscas que passei me deixaram séria porque é preciso força para encará-las com firmeza até que se solidifiquem. A questão é que não quero que se tornem estruturas, porque eu gostaria de dançar um pouco pela vida antes que as coisas concretas tomem forma. Eu quero um minuto de paz, porque o tempo não tem sido legal comigo. Ou, talvez, porque eu não tenho conseguido aproveitá-lo de uma maneira sadia. Eu quero mais, ao mesmo tempo que não tenho certeza do que quero. E encarar esta confusão diariamente tem me feito enlouquecer. O tempo não para, e as vezes quando quero, ele não passa. No fim somos apenas peças do tabuleiro, temos apenas que nos mexer para jogarmos, sem saber qual é a jogada certa. Ele me disse: "É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão", eu o vi com uma luz, sua proposta me trouxe uma claridade, mas há uma voz no fim do túnel me dizendo para não acreditar nisso, assim como todas as outras vozes que sempre me disseram para não confiar em ninguém. E eu confio. Mas não consigo encontrar minha própria luz.

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