sexta-feira, 13 de julho de 2018

Eu não sou líquido



Eu não sou líquido, mas me sinto escorregando pelas arestas do que chamamos de vida adulta, ou, pelo menos, às concepções relacionadas à ela. E esse líquido tem um gosto amargo. Comecei a semana sendo invadida, novamente, por questões relacionadas ao trabalho. É muito tempo de vida perdido fazendo algo que não se acredita. A vida é breve e ela tem chamado nesse sentido. Vi um gráfico num site de empregos que dividia o entendimento em se ter um emprego e uma carreira, dando a entender que se ter uma carreira em que se acredita e em que se investiu muito tempo, esforço e dinheiro, é recompensador. É como vivenciar a tão sonhada experiência da carreira dos sonhos. Fiquei furiosa me perguntando quantas pessoas passam, muitas vezes, a vida inteira, acreditando nesse ideal falso e presunçoso, e em quantas nunca acordam dessa ilusão. O mais intrigante disso tudo é que eu trabalho com isso, vendendo uma ideia com o objetivo de gerar consumo, e foi sob esse conceito falacioso que eu tentei perverter a minha mente, centenas de vezes, achando que estava prestes a adquirir isso. Fiquei relembrando quando comecei e quanto eu evolui nas minhas habilidades. Eu sou agora o que poderia se chamar de redatora criativa modelo. A questão é que não quero ser um modelo de fábrica, mais um zumbi correndo de estação à estação, mergulhada num mundo corporativo que mais suga que fornece, e gastando todo meu dinheiro de bar em bar pra tentar esquecer o quanto de mal tem no mundo - e que a área que trabalho, muitas vezes, só colabora para isso. Capital é a base de tudo, é o que faz girar esse mundo. E isso me preocupa. Depois que comecei esse texto, percebi que já tinha escrito algo parecido há dois anos (aqui e aqui), mesmos questionamentos e angústias. Sigo sem respostas. "Use o sistema ao seu favor", é o que me disseram semana passada e é o que eu vejo a maioria das pessoas fazendo ao meu redor. Pessoas, essas, que também se questionam sobre tudo isso. Já desejei ser menos pensante. Fazer tudo no modo automático, fechar os olhos e apenas fluir, mas eu não consigo e agora sei que não quero mais. Sinto que tenho mais decisões a tomar, e com cuidado poder me encontrar em busca de um futuro mais ameno e honesto comigo mesma.

"O presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da ação.", Simone de Beauvoir

Nenhum comentário:

Postar um comentário