domingo, 1 de junho de 2014

Eu sou louca e estranha - Uma carta de despedida ao menino de topete


Não querido, não te encontrei hoje porque estou disposta a satisfazer os seus desejos.
Um dos trechos da minha canção favorita do Sonic Youth diz I'll be your slave, mas isso não quer dizer que você tem esse poder sobre mim.
Não estou aqui para suprir as suas carências afetivas e nem passar a mão sobre os seus encaracolados fios de cabelo enquanto você chora e reclama das frustrações do seu dia.
Não vou ser a garota perfeita que você sonha em apresentar para a sua mãe. Muito menos aquela que irá preparar as suas refeições e lavar as suas cuecas sujas em algum futuro próximo.
Seu topete perdeu o charme no momento que você passou a criar uma imagem de mim que não é real. E você deve ter se frustrado inúmeras vezes ao perceber que, naturalmente, eu não tenho qualquer tendência em superar essas suas expectativas.
Quando te contei sensações íntimas e você me chamou de "louca" e "estranha", eu só pude perceber o quanto não temos muito para compartilhar.
Você tem noção de que está apaixonado por alguém que não existe? E que você deixou de agir naturalmente quando percebeu que, por ventura (e sorte do destino), eu poderia ser a mulher da sua vida?
Eu achei que você fosse leve. Eu aprendi a apreciar a leveza na vida e, principalmente, nas pessoas. E pode ter certeza de que são as leves que eu tenho escolhido para fazer parte dessa minha jornada.
Mas você é ingênuo. Você é um espectador. E na mesa daquele bar, quando você parecia se divertir com o que eu falava, eu me senti num monólogo, em que eu só estava ali, sendo paga (só que não), para lhe entreter. E quando eu me imagino sendo a protagonista da minha vida, não é com essa metáfora que eu quero descrever um ótimo encontro.
Quando você tentava se aproximar de qualquer maneira por não conseguir conquistar minha mão para acompanhá-lo durante toda nossa caminhada naquele dia, você me sufocou em seus braços, quando os colocou sobre os meus ombros sem perceber que nossos passos estavam em descompasso.
Sua falta de compatibilidade e compreensão com a pessoa que sou e demonstro ser é o que me fez perder o interesse na pessoa que você é e demonstra ser.
Sua ansiedade muda me esgotou. Seu olhar de desespero me espantou. Suas meias-palavras ao se referir sobre mim só demonstraram que você pensa que sabe algo, mas, sinto lhe informar, você não sabe de nada, inocente!
Você não me deixou pesada, obrigada, mas imagino que se continuarmos nessa dança - em que só você está disposto a estender a mão para uma parceira (o que eu acredito que qualquer uma sirva) - sem ritmo, nem balanço, muito menos sintonia, você poderá me tornar muito pesada, de culpa, porque é provável que eu vou lhe decepcionar.
Na verdade, você só me deixou entediada. E eu preciso de muito mais para sentir prazer em estar com alguém. Mas não se engane, não acho que você deveria ser alguém super articulado e cheio de assunto, só acho que lhe falta tato para ser alguém que me prenda a atenção.
E isso é algo que simplesmente acontece e naturalmente. Não sou a mulher que você procura e nem desejo ser.
Eu sou a Angélica, louca e estranha. Eu não estou aqui para ser a salvação da sua solidão. Eu estou aqui para ser louca e estranha do meu jeito, ao meu modo e no momento e como/com quem me fizer sentido.

5 comentários:

  1. Oi, li alguns dos seus textos, e todos tem um tom confissão, o que me lembra os textos da escritora Lya Luft. Mas essa trecho: "Sua ansiedade muda me esgotou" tem muito de literatura. Enfim, escrever é uma coisa complicada, principalmente nos dias de hoje que há tantos textos para serem lindos, e os bons leitores em extinção. Gostei do título do blogs: Delírios Agridoce. Gosto muito da palavra agridoce.Bem, vou acompanhar seus textos, espero que eles não achem estranho a minha companhia. Boa sorte.

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  2. Depois que postei que vi os meus erros gramaticais. Oi, li alguns dos seus textos, e todos tem um tom de confissão, o que me lembra os textos da escritora Lya Luft. Mas esse trecho: "Sua ansiedade muda me esgotou" tem muito de literatura. Enfim, escrever é uma coisa complicada, principalmente nos dias de hoje que há tantos textos para serem lindos, e os bons leitores estão em extinção. Gostei do título do blog: Delírios Agridoces. Gosto muito da palavra agridoce.Bem, vou acompanhar seus textos, espero que eles não achem estranho a minha companhia. Boa sorte.

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    1. Oi querido, quem é você? Se mostre!

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    2. Meus textos são escritos como forma de desabafo do que sinto, vejo, interpreto, e, quem saber, causar identificação, em geral ao público feminino e, sim, eles irão adorar a sua companhia! Obrigada pela visita e comentários quem quer que você seja!

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