quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Corpo marcado - Uma crônica sobre as imperfeições dos caminhos que escolhi

6 rabiscos espalhados pelo meu corpo descrevem um pouco da minha história. Desde os momentos mais difíceis, quanto aos mais libertadores. Um kanji de proteção nas costas, quando pedia para Deus que me guiasse enquanto enfrentava o gostinho do terror que recebe o nome de síndrome do pânico, aos 16 anos de idade. A luta contra o câncer de mama de minha mãe foi o pedido pela sua cura, marcado em meu braço esquerdo, mesmo lado em que minha progenitora sofreu a perda de um seio danificado pelo imenso tumor maligno que ali se instaurou em 2010. Depois foi a vez em que precisava me sentir grande, precisava alimentar meu ego com poder, e no braço direito, pedi uma coroa bela, colorida e formosa que recebe uma flâmula que relata o início de meu reinado.

Mas eu queria mais, eu queria me libertar da dor que os acontecimentos e meus caminhos trilhados me proporcionaram, e marquei meu pé com uma inspiradora canção do ídolo na adolescência, Billy Idol, "Dancing With Myself", eu precisava ser independente. Eu queria mais marcas, pois as que tinha não eram suficientes para ilustrar a minha trajetória. Entretanto, eu precisava de controle mais do que qualquer coisa, então a história de outro anti-herói, Ian Curtis, em conjunto com a minha canção favorita do Joy Division "She's Lost Control", foi riscada em meu punho. A última, e sim, menos importante, foi um raio de luz, à la David Bowie no pescoço. Pequena, sem vida, sem luz, sem cor, assim como meus sentimentos naquela época. 

Cada uma dessas marcas serão visivelmente eternas em minha pele, mesmo que a dor da agulha perfurando cada milímetro da minha tez branca e flácida, mesmo que a melancolia no momento da escolha destes rabiscos tenham passado, a marca que eles deixaram em minha alma jamais será esquecida.

Hoje tenho que lidar com as marcas que o tempo me deixou. As olheiras e as enormes bolsas embaixo dos olhos registram a minha insônia involuntária, noites mal dormidas devido à preocupação de diversos empecilhos que foram postos em meu caminho. As dores na coluna e o cansaço físico descrevem estes mesmos obstáculos que o estresse me causa no dia à dia. E ainda tenho que lidar com as cicatrizes abertas que você fez restar em mim. O roxo que ficou daquela mordida no meu braço - logo embaixo da minha coroa - ainda está aqui. Aquela sensação do último abraço - a dor da despedida - ainda ficou em mim. E todas aquelas mensagens te perguntando como você estava, ainda estão esperando resposta.

Sou imperfeita, minhas próprias tatuagens dizem isso. Erro feio no quesito "saber amar". É, eu não sei amar, eu não sei lidar com acontecimentos bons, porque eu logo acho que algo de ruim irá acontecer e me tirar o que me faz feliz agora. Meu psique inferiorizado é pessimista por natureza, e faz com que eu não me surpreenda com tragédias, ele se acostumou e me faz procurar por elas. Esse é o drama da Angélica. Essa é a Angélica errada que ama de forma insensata e catastrófica. Me perdoe. 

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