terça-feira, 10 de setembro de 2013

O que fazer quando você percebe que a sua vida é um eterno mindfuck?

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Aquele momento que você se depara a poucos metros da porta da sua casa e repensa se quer mesmo entrar. Pensar se quer voltar ao lar parece algo absurdo quando se tem 23 anos nas costas, vive com os pais e está voltando exausta de uma reunião seguida de 8 horas de trabalho. Não faz sentido. Se fosse em outro momento, você não veria a hora de chegar em casa, abrir a geladeira e encontrar uma geladíssima lata de heineken e fumar um cigarro enquanto escuta um Nada Surf no último volume. Ou então devorar aquela comidinha fresca e deliciosa que só a sua mãe sabe fazer. Mas você sabe que a questão não é querer, você tem que entrar e encarar tudo. E quando puxar aquela maçaneta e colocar o primeiro pé para dentro, todo o turbilhão de realidade chegará esmurrando a sua cara, mas que ao em vez de sangue, te deixará desnorteado com a imensidão das mudanças que se infiltraram na sua vida.

É entrar e esquecer que você tem vontades, deixar para daqui há algumas horas aquele banho quente e reconfortante que você precisa, esperar aquela brecha pra acender um pigas no quintal - coisa que você fazia no seu quarto - e fazer o que te mandam/pedem. Lavar a louça, terminar a janta e o almoço para levar na marmita no dia seguinte, limpar/varrer/passar não sei o quê. E quando percebe já é hora de dormir e você não conseguiu fazer nada do que precisava. Aliás, quando for procurar emprego novamente, não esqueça de adicionar às habilidades: "nível avançado em limpar a casa, trocar fralda, passar 4 pilhas de roupas em 2 horas, expert em viver sob pressão e (fingir) manter a calma, entre outros afazeres".

Seu corpo já não é mais o mesmo, afinal, as dores na coluna vivem reaparecendo naquele momento de estresse. No fim de semana, em um dos dias que você escolheu para relaxar e esquecer um pouco de tudo, você passa mal devido aos péssimos hábitos de rotina que anda tendo, a pressão cai/sobe, o cansaço vence e você adormece em qualquer canto que encostar, dai você já não pode beber, não consegue se divertir e tudo o que deseja é a sua cama. As olheiras se tornam aparentes, assim como aqueles roxos na pele que você conquistou tropeçando enquanto não prestava atenção ao andar. Você vive como uma panela de pressão esquecida há mais de 5 horas no fogo, prestes a estourar, e agora você entende porque as vezes seu olho direito fica tremendo. E a vida segue assim, sendo literalmente empurrada pelas coxas.

Você que sempre praticou o escapismo e viveu durante anos feliz desse jeito. Você que planejava fazer aquele tão sonhado intercâmbio para a Europa e visitar aquela sua melhor amiga que acabou de se mudar para Portugal. Você que iria tirar a carteira de habilitação e esperava pegar um carrinho usado logo menos. Você que achava que iria quitar todas as suas dívidas - inclusive àquela na faculdade, motivo pelo qual seu diploma está retido após 2 anos que você "terminou" o curso. Você que finalmente teria a casa reformada, com seu próprio quarto e assim poderia dormir com seu namorado sem qualquer perturbação. Você que achava que a vida já era difícil quando os problemas não existiam. Você que se sente mal ao pensar que a sua vida é uma merda no momento em que vê uma criança pedindo esmola no farol e ter as janelas dos carros de mais de 100 mil, fechando em seus inocentes rostos. Você que é um completo egoísta, fraco e insensível. Você que é apenas um ser humano, perdido, em buscas de soluções, à procura de uma luz.

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