terça-feira, 22 de julho de 2014

Os lobos das cidades grandes - Uma releitura de "Eles eram muitos cavalos"

Respiro um ar poluído que seca minha garganta e me rendeu duas idas ao médico no mesmo mês. Na minha casa falta água depois das 20 horas, mesmo antes da Copa. Quero silêncio, onde compra?
Trabalho feito louca, dependo da minha criatividade para sobreviver. Mas, às vezes, não encontro paz nem no meu interior. Deixo 140 e uns quebrados todo mês para financiar minha yoga, mas nem sempre vou e contabilizo dois meses para repor. Dinheiro ido, dinheiro que não volta. Minha fuga continua na noite, na presença dos queridos. Entretanto, necessito mais do que gargalhadas e cervejas geladas. Meu escape está no íntimo, onde o ímpeto é aquele momento onde se confunde afeto e sentimento, desejo e saudade. Quem pensa em mim enquanto o mundo acaba? O trânsito é rotina. O caos é brother. O morador de rua é paisagem. O que fizeram conosco? Que cilada é essa, Bino?
Temos a necessidade da posse, mesmo sabendo que não é viável. Mesmo sabendo que o tudo e o nada poderão nos pertencer. Nos achamos donos do mundo, da razão e que detemos o conhecimento. Nossos planos são vagos, nossos desejos são mundanos e nossas vontades são individualistas. Falamos de amor ao próximo com deboche, debatemos causa nas redes sociais, mas mal olhamos para aquele nosso parente que precisa de um emprego. Pagamos pau para gringo e celebridade e esquecemos que são pessoas como nós, que têm necessidades quanto nós. Idealizamos pessoas como se pudéssemos escolhê-las num catálogo - tá aí a serventia do tinder -, tratamos algumas com desprezo, depois ficamos tristes quando nos tratam de maneira semelhante. Sorte do dia: nosso orgulho não nos deixa abater por muito tempo, afinal, a variedade é grande e abraços são substituídos assim como aquela banana podre que estava na cesta de manhã e fora ocupada por uma belíssima e brilhante maçã. No entanto, a fruta poderia estar embolorada por dentro, já pensou nisso? A carcaça é interessante, prende por alguns anos, mas perde valor. E os macacos vão pulando de galho em galho, colhendo maçãs, bananas e até jacas mais sorridentes. As aparências dominam as escolhas, a lábia contagia e quem não entra no ritmo, dança. E, ansiosos, caminhamos rapidamente, corremos contra o tempo como se ele fosse capaz de nos engolir. Insaciáveis extrapolamos, nos vícios, nas mentiras, nos erros. Somos eternos aprendizes, meros charlatões. Somos loucos. Somos lobos.

Um comentário:

  1. A diferença entre seu texto e o texto de Ruffato é que no texto dele não há diferença entre o real e o virtual, já o seu texto fica com o pé no real. No seu texto vc busca organizar o caos, no texto do Ruffato ele se aproveita do caos para se auto-organização.

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